Coleta sustenta presença cristã na Terra Santa

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São Francisco de Assis, no início do século XIII, movido pelo amor a Cristo pobre e Crucificado veio ao Oriente Medio para tocar os lugares que até hoje constituem um testemunho insubstituível da revelação de Deus e do seu amor pelos homens. Naquela sua peregrinação, não obstante as guerra dos Cruzados, encontrou e dialogou com o sultão Melek Al-Kamel (em 1219), que naquele tempo governava na Terra Santa. Foi um encontro pacífico, que deu início à presença dos franciscanos na Terra Santa e que marcou também o estilo da presença da Ordem no decorrer dos séculos, até hoje.

Os frades não foram apenas os “guardiães” das pedras e dos lugares, a fim de preservar seu valor, mas sua missão também foi a de fazer com que sejam vivas aquelas pedras, de fazer com elas falem ao coração e à mente de todos os que se colocam em peregrinação na Terra Santa, para conseguir ver as “simples pedras” como “pedras amadas”, através da fé.

Esse cuidado especial, abraçado pela Igreja e da Ordem dos Frades Menores, com os lugares onde Jesus viveu se mantém através da mobilização por parte do Comissariado Terra Santa. Esta presença e as iniciativas desenvolvidas são possíveis graças à contribuição dada por toda a Igreja na Sexta-Feira Santa. “O primeiro a propor uma coleta, não tanto para a Sexta-feira Santa, mas para a Igreja de Jerusalém, foi São Paulo, há quase 2000 anos; queria assim expressar o vínculo existente entre a Igreja de Jerusalém e as Igrejas espalhadas por todo o mundo”, lembra o Custódio Frei Francesco Patton, que visitou recentemente o Brasil (veja matéria aqui)

O Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, Cardeal Leonardo Sandri, escreveu uma carta convocando a participação dos fiéis na Coleta para a Terra Santa. Ele recorda que a Igreja Católica exprime por meio da oração e do ofertório o alento às comunidades dos fiéis e aos Lugares Santos, sobretudo no dramático momento atual que se vive no Oriente Médio. “É importantíssimo manter os lugares de Jesus, porque esta é uma aspiração profunda da alma de cada cristão. Aproximando-se a estes lugares escutamos a sua voz com o eco da realidade geográfica que Jesus viu, mas também, é importante sustentar a obra da Terra Santa porque a Terra Santa não são apenas pedras antigas de museu, mas são as pedras vivas da nossa comunidade”.

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FREI IVO LEMBRA AS AÇÕES NA CUSTÓDIA

Segundo o comissário da Terra Santa e Obra Pia nesta Província da Imaculada, Frei Ivo Müller, um total de 278 missionários têm atividades em 55 Santuários; 24 Paróquias; 15 Escolas; 4 Casas para enfermos e órfãos; 6 Casas para peregrinos; 4 Casas para acolher peregrinos a preços modestos; 3 Institutos acadêmicos; 2 Editoras (gráficas) para imprimir e divulgar as coisas da Terra Santa; 1500 empregos a cristãos; 630 moradias para que as famílias cristãs não abandonem os Lugares Santos; 494 Bolsas de estudos anuais a estudantes universitários.

“O nosso maior desafio é antes de tudo a manutenção dos santuários. Alguns necessitam de intervenções extraordinárias para a manutenção e isto exige muito esforço, muita energia e muitos recursos”, revela o ecônomo da Terra Santa, Frei Ramzi Sidawi. As basílicas da Natividade e do Santo Sepulcro foram recentemente restauradas, graças a colaboração e generosidade de muitíssimas pessoas. “Recordo, neste momento, a pequena comunidade cristã no Oriente Médio que continua a sustentar a fé entre as pessoas desalojadas no Iraque e na Síria, ou entre os refugiados na Jordânia e no Líbano. Os rostos dessas pessoas nos questionam sobre a sensação de sermos cristãos, suas vidas provadas nos inspiram”, acrescenta Frei Ramzi. Desde 2011, vários conflitos acontecem na região, com consequências dramáticas vividas pelos sírios, de forma particular, e por toda a Igreja, que tem observado a diminuição no número de fiéis, sendo que muitos deles tiveram que imigrar ou sofrem violência, às vezes pelo simples fato de professar a fé.

MOTIVAÇÃO DA CNBB

O arcebispo de Belo Horizonte (MG), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, que é membro da Congregação para as Igrejas Orientais da Santa Sé, motiva a participação dos brasileiros nesta ação, salientando que os lugares sagrados da Igreja Católica são um patrimônio de toda a humanidade e os templos “têm valor inestimável para a espiritualidade e para a história”.

“Lugares de acolhida onde se celebra a fé, vivencia-se o silêncio e a oração. Capelas, igrejas, catedrais e santuários têm significado forte e especial em todos os passos da civilização: receberam nossos antepassados e continuam contribuindo em campos tão importantes, a exemplo da educação, saúde, cuidado com os pobres, cultura e arte. Constituem, pois, uma herança nossa, indicando referência de onde viemos e para onde vamos. Sejamos solidários no cuidado de nossos lugares sagrados, especialmente nesta Sexta-feira Santa.”

Há ainda a preocupação com a situação dos cristãos no Oriente Médio, sob os olhares da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que realizou campanhas de arrecadação em favor dos cristãos da região e tem um trabalho com migrantes no âmbito da Setor Pastoral da Mobilidade Humana.

As coletas para a Terra Santa podem ser repassadas às dioceses (por meio das ofertas nas celebrações da Cruz) ou diretamente depositadas na conta do Comissariado:

Banco Bradesco – Ag. 3403-7 (Petrópolis)
Conta corrente n° 11174-0
Favorecido: Obra Pia da Terra Santa
CNPJ: 62.670.062/0001-68

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800 ANOS NA TERRA SANTA

No Capítulo Geral da Ordem realizado em 1217, em Santa Maria dos Anjos, na Porciúncula, próximo de Assis, a Ordem dos Frades Menores se abriu à dimensão missionária e universal. Nessa ocasião, São Francisco decidiu enviar seus frades, como testemunhas de fraternidade e de paz, por todo o mundo conhecido. Desse modo, o mundo foi, de certa forma, dividido em “Províncias” franciscanas e os frades, partindo de Assis, espalharam-se pelos quatro pontos cardeais. Naquela ocasião, a Terra Santa não foi esquecida. É importante assinalar que Egídio de Assis foi o primeiro frade a marcar presença no Oriente Médio. Dois anos depois, em 1219, o próprio São Francisco de Assis tornou-se peregrino e missionário na Terra Santa. Dessa viagem resulta o encontro com o Sultão, que ocorreu em Damietta, no Egito, no contexto da Quinta Cruzada. O encontro de Francisco com o sultão Malek Al- Kamel, que naquele tempo governava no Oriente, foi pacífico e deu início à presença dos franciscanos na terra que transmite a memória do mistério e da paixão, morte e ressurreição de Jesus.

Por ocasião das celebrações dos 800 anos, o Papa Francisco enviou uma carta ao Custódio da Terra Santa, padre Francesco Patton, OFM, encorajando os franciscanos a perseveraram neste trabalho a favor sobretudo dos mais pobres, dos jovens, idosos e enfermos. Segundo o Santo Padre, os franciscanos são simples e pobres, assíduos na contemplação e na oração, e empenhados também no presente, em viver na Terra Santa ao lado de irmãos de diferentes culturas, etnias e religiões, semeando paz, fraternidade e respeito. “Não quero esquecer, além da custódia e da animação dos Santuários, o seu empenho a serviço da comunidade eclesial local”, lembrou Francisco.

Atualmente há comunidades franciscanas em Israel, Palestina, Jordânia, Líbano, Síria, Chipre, Rhodes e Egito. A Custódia da Terra Santa é a única Província (um grupo organizado e local de comunidades) da Ordem com caráter internacional.

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