FREI GILBERTO TEIXEIRA, FSMA
Franciscanos de Santa Maria dos Anjos, é natural de Mauá – SP. Graduado em Filosofia, Teologia e Psicologia. Especialista em Clínica Psiquiátrica, Psicopedagogia e
Agroecologia. Atualmente é pároco das Paróquias Santo Antônio e
Nossa Senhora da Glória, em Muriaé – MG.
1. Você tem abordado em um de seus podcasts a temática do Ano da Oração. Poderia comentar sobre a proposta do Papa e a quem é direcionado?
O Ano da Oração é um convite do Papa Francisco para todos os cristãos como um ano especial de preparação para o Ano Jubilar de 2025. Um chamado a intensificarmos a oração, na busca de aquecer nosso coração nesse período que antecede a Abertura da Porta Santa. Segundo o Papa, “a oração é a respiração da fé”, nos faz aproximar-nos com novo olhar e novo ardor da proposta do Reino e nos dispõe para a celebração jubilar com entusiasmo, aquecendo nossos corações para que, cheios de esperança, possamos colocar os pés a caminho, sendo verdadeira “Igreja em saída”.
2. A encíclica Laudato Si’ completará 10 anos em 2025. Dentro e fora da Família Franciscana você tem desempenhado várias iniciativas interligadas à causa. Quais avanços você destaca, junto às comunidades e entidades que visita, no envolvimento à causa de nossa Casa Comum?
Em sua carta sobre o aquecimento global, a Laudate Deum, publicada em 2023, o Papa fala que “até agora pouco foi feito”. No entanto, tenho notado que a publicação da Laudato Si’ e sua divulgação tem gerado muitas iniciativas admiráveis em nossas comunidades. A meu ver, é um dos documentos pontifícios mais acolhidos e conhecidos pelas pessoas.
Tenho presenciado paróquias que se mobilizaram para criar e desenvolver uma Pastoral Ecológica, muitas publicações e programas de rádio voltados para a temática, Encontros, Caminhadas Ecológicas, Romarias… A Laudato Si’ foi muito bem acolhida, inclusive por grupos sem vínculos oficiais com a igreja ou até de outras igrejas. Universitários, militantes políticos e sindicais têm encontrado na Laudato Si’ um guia.
Aqui na Vila Franciscana temos desenvolvido diversos encontros e retiros com a temática da Laudato Si’, com efeitos muito significativos na atuação cotidiana dos participantes.
3. Esse é o segundo ano do Junho Verde, campanha da CNBB voltada para a conscientização ecológica. Poderia comentar à cerca da temática e proposta deste ano?
A Campanha Junho Verde tem como objetivo o fortalecimento do compromisso de todos pela conservação dos ecossistemas, proteção de todos os seres vivos, buscando formas de controle da poluição e degradação dos bens naturais, dádivas do Deus Criador. Um tempo de reflexão e despertar de novas atitudes em favor da vida.
Neste ano a CNBB chama a atenção para dois momentos importantes que ocorrerão no próximo ano que, além do Ano Jubilar, terá a Campanha da Fraternidade com o tema da Ecologia Integral, e o Brasil sediará a COP 30 (Conferência da ONU sobre a Crise Climática).
É preciso que a preservação ambiental e social faça parte da vida de todos os cristão. Não podemos vê-la apenas como uma opção de alguns, mas uma exigência evangélica.
4. Como franciscanas e franciscanos, estamos vivenciando vários oitavos Centenários relacionados à vida de São Francisco. Na sua experiência, em quais direções o carisma de Francisco de Assis tem avançado atualmente?
Creio que o Carisma Franciscano é um forte apelo para o nosso tempo, para um despertar de consciências e, acima de tudo, para o desenvolvimento de atitudes de despojamento e busca de vida mais simples, o que o Papa tem chamado de “sobriedade feliz”.
O Papa Francisco foi muito feliz no parágrafo 10 da Laudato Si’ quando, falando da inspiração franciscana de sua Encíclica, elenca quatro dimensões do carisma franciscano que são fundamentais em nosso tempo: “a preocupação com a natureza, a justiça para com os pobres, o empenho na sociedade e a paz interior”.
Vejo avanços no compromisso de muitas fraternidades franciscanas nas lutas em favor da natureza e dos pobres, no envolvimento em movimentos de resistência à mineração em várias partes de nosso país, na proteção dos aquíferos e biomas. Há muitos irmãos e irmãs que se empenham em projetos de fortalecimento dos direitos dos trabalhadores rurais e urbanos, na busca de dignidade para os sem terra, sem teto, sem trabalho.
Já não dá mais para pensar em franciscanos que não tenham compromisso com uma sociedade mais justa e fraterna. Nosso carisma nos impele a atitudes concretas que passam, primeiramente, pela “conversão ecológica” de nossas instituições e de cada franciscano e franciscana. É preciso ainda avançar muito nesta consciência!
Precisamos avaliar os espaços que ocupamos, a fonte dos recursos que movimentam nossos projetos e as nossas ações, para que promovam mais a autonomia e não a dependência dos pobres. Não podemos nos contentar em “fazer para”, precisamos “fazer com”.
5. Por fim, poderia relatar sobre o seu processo diário de fidelidade dinâmica à vocação franciscana, além de convidar o público a acompanhar seus podcasts?
Como Franciscano de Santa Maria dos Anjos, vivo na Vila Franciscana, em Belisário, junto aos irmãos e irmãs de nossa Fraternidade, numa busca constante de fidelidade ao carisma de nosso Pai Seráfico.
Desenvolvemos atividades de fortalecimento da agroecologia e da luta de resistência à mineração de bauxita no território que habitamos que é “patrimônio hídrico” (mapeamos mais de duas mil nascentes apenas nas comunidades próximas de nossa casa). Procuramos conciliar toda a atividade socioambiental, bem como o cuidado das paróquias a nós confiadas, com uma intensa vida de oração e contemplação.
Temos um eremitério que se constitui como espaço privilegiado de encontro com Deus e fortalecimento de nossa vocação. A oração é o sustento de tudo! Temos nos dedicado também à presença nas redes sociais, crendo que são instrumentos eficazes de evangelização.
Desenvolvemos podcasts diários de reflexões com conteúdos socioambientais, bíblicos e pastorais. Cremos na força das Comunidades Eclesiais de Base e, com elas, temos desenvolvido esse projeto de comunicação. Muitas lives têm aprofundado temas que, em sua maioria, giram em torno da temática da Laudato Si’ que, para nós, se tornou guia certo para o Reino de Deus. Buscamos viver a “espiritualidade ecológica” a que o Papa nos convida nesta sua Encíclica.