Desde tempos mui remotos, o mês de julho é dedicado ao Preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo, que foi apresentado por João Batista como o “Cordeiro que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). A devoção está profundamente ligada à Eucaristia e nos remete àquela ceia em que, na véspera de sua paixão, Jesus disse: “este cálice é a nova aliança selada com meu sangue, derramado por vocês” (Mc 14,23). Sangue fecundo que, desde a cruz, misturado com água de vida, se derrama purificador sobre a terra, se derrama curador sobre a humanidade ferida, cai libertador rompendo os laços de todo cativeiro.
A Legenda de Santa Clara testemunha como ela canalizava a força curadora deste sangue vertido na cruz: “Ao amor pelo Crucificado, correspondeu o Crucificado com amor. E, assim, ela que se apaixonou pelo mistério da Cruz, é distinguida em sinais e milagres com a força da mesma Cruz. Muitas vezes, quando traçava o sinal da Cruz redentora sobre os enfermos, eles ficavam aliviados das doenças” (LSC 32).
Assim, aconteceu com o Irmão Estêvão que sofria de ataques epilépticos … com um menino de três anos, de nome Matias vítima de uma pedrinha que tinha introduzido no nariz… um outro garoto de Perúsia … com uma vista obstruída por uma ferida… uma das irmãs, de nome Benvinda sofria havia doze anos de um tumor debaixo de um braço … Irmã Amada sofria há treze anos de hidropisia acompanhada de febre, tosse e dores nas costas. Uma outra serva de Cristo … afónica durante dois anos… Irmã Cristina suportou durante muito tempo a surdez de um ouvido… “Todos estes fatos demonstram que estava no coração da virgem a árvore da Cruz, cujos frutos restauram as almas e cujas folhas oferecem medicina para o corpo” (Cf. LSC 32-35).
Francisco buscou, durante toda sua vida, conformar-se ao Cristo Crucificado. Desejava profundamente derramar seu sangue no martírio e, com esta intenção foi em missão a Marrocos, entre os sarracenos (1Cel 56). Aí não realizou seu desejo, mas Deus lhe concedeu o privilégio de ter seu corpo marcado com as mesmas chagas pelas quais Jesus verteu todo o sangue que lhe restava depois da tortura da Paixão.
Na Legenda Menor encontramos o relato: “Aproximava-se a festa da Exaltação da Santa Cruz, quando ele viu descer do alto do céu, dir-se-ia, um serafim de seis asas flamejantes … também crucificado, mãos e pés estendidos e, atado a uma cruz. … Após uma conversação familiar, que nunca foi revelada aos outros, desapareceu aquela visão , deixando-lhe o coração inflamado de um ardor seráfico e imprimindo-lhe na carne a semelhança externa com o Crucificado … Logo começaram, com efeito, a aparecer em suas mãos e pés as marcas dos cravos … O lado direito estava marcado com uma chaga vermelha, feita, dir-se-ia, por uma lança; da ferida corria abundante sangue, frequentemente. Os Irmãos encarregados de lavar suas roupas constataram com toda segurança que o servo de Deus trazia, em seu lado, bem como nas mãos e nos pés, a marca real de sua semelhança com o Crucificado (Cf. Lm 6,1-3).
O sangue de Cristo, continua encharcando a terra, na morte de tantos irmãos e irmãs cristãos/cristãs perseguidos por causa da fé em Jesus, continua fecundando a terra no sangue de camponesas e camponeses, de indígenas, de negros e pobres e de todas as pessoas que se comprometem com sua causa, nas cidades e nos campos. Que não caia em vão, mas que fecunde as sementes de vida, de justiça, que tenha a força redentora do precioso Sangue que brotou das chagas do Crucificado. E que nós também nos deixemos também marcar por ele.
Por: Irmã Maria Fachini
Fonte: CICAF