FRANCISCO DE ROMA E DE ASSIS: Restaura a minha Igreja
Prezado (a) leitor (a)
Paz e Bem!
Naquele frio e chuvoso anoitecer na Praça de São Pedro, no dia 13 de março de 2013, os olhos do mundo inteiro estavam fixos na chaminé mais famosa do mundo, nos telhados da Capela Sistina, no Vaticano. Repetindo um rito milenar, os Cardeais reunidos em conclave votavam pela escolha do novo Papa. Depois de cinco escrutínios e duas “fumaças pretas”, às dezenove horas e oito minutos de Roma, a fumaça branca finalmente esvoaçou pelos céus da Cidade Eterna, anunciando a boa-nova da eleição de um novo Pontífice. Depois da tão inesperada quanto imprevista renúncia de Bento XVI, muitos imaginavam que um período de “grandes expectativas e emoções” estaria chegando ao fim. Da loggia centrale (balcão central) da Basílica de São Pedro, o Cardeal Decano pronunciou a célebre frase Habemus Papam. Quando as solenes cortinas vermelhas se abriram, e apareceu o primeiro Papa da história que não vinha do “Velho Mundo”, alguns se deram conta de que as emoções estavam apenas começando.
Ao longo de seus pouco mais de 11 anos de Pontificado, muitas surpresas marcaram a trajetória de Bergoglio à frente da Barca de Pedro. O primeiro Papa jesuíta, o “Papa do fim do mundo”, como ele se referiu a si mesmo, causou surpresa ao revelar o nome que escolhera: Francisco, o santo dos pobres, o santo humilde e despojado de poder, o santo que, na juventude, foi chamado a “restaurar a Igreja que estava em ruínas”, o amigo da natureza. Aquele não era um nome qualquer, mas carregava consigo uma enorme gama de responsabilidades e consequências. Seus primeiros gestos revelaram que a escolha do nome, na verdade, representava um verdadeiro programa de governo. O fato de decidir morar na Casa Santa Marta, onde se hospedam os Bispos que vão a Roma, e onde ele mesmo se hospedou durante o conclave, e não nos apartamentos do Palácio Apostólico, já foi um eloquente sinal das mudanças que trazia com sua eleição. Logo ficou evidente que os gestos, por mais simples e ingênuos que pudessem parecer à primeira vista, expressavam o modo de Francisco entender seu papel na Igreja.
A Igreja herdada por Francisco é uma instituição num mundo instável, tenso, desequilibrado. O cristianismo, que moldou e sustentou a sociedade ocidental, não responde mais aos grandes anseios da humanidade. Para além da terrível situação de vulnerabilidade eclesial ad intra, enfrentada por Bento XVI durante seu pontificado, recrudescida pelos escândalos dos “Vatileaks” e pelas denúncias de abusos, o fato é que as mudanças na sociedade incidem diretamente na atuação da Igreja, dizem respeito à sua presença no mundo, seu modo de se relacionar com as realidades temporais, com o ser humano.
A consciência da seriedade, bem como da imprevisibilidade destas enormes e intensas transformações, fizeram com que o Papa Francisco afirmasse várias vezes que vivemos não numa época de mudança, mas numa “mudança de época” (ou “transição epocal” como afirmam alguns). Essa expressão sintetiza uma série de elementos que, desde o pós-guerra, com o advento da “pós-modernidade”, situam o ser humano e a humanidade no centro de uma verdadeira era de transição. Trata-se, de fato, de uma era de passagem, na expectativa do surgimento de algo novo, de novos paradigmas, de novas possibilidades de comportamento, de compreensão do papel do ser humano na história. O modo como o ser humano se percebe e se situa no mundo mudou profundamente. Às muitas e importantes conquistas alcançadas, principalmente nas últimas décadas, seguiram-se inúmeros desafios e questionamentos, incertezas, inseguranças.
Tais mudanças abalam os alicerces e colocam em xeque a estabilidade e a permanência das instituições tradicionais, das autoridades, dos poderes instituídos. A Igreja, presente e atuante no mundo, também sofre os efeitos desta crise. Certamente poucos são os cristãos católicos, hoje, que consideram que a situação da Igreja esteja bem no mundo e na sociedade. Menos ainda são aqueles que acham que a Igreja não precisa se renovar. A maioria dos católicos “praticantes”, que vão à missa todo domingo, apoiam muitas das propostas colocadas em discussão, se não pelo próprio Papa, pelo menos trazidas à berlinda a partir de várias de suas intervenções e de seu entorno. As atitudes e reações frente àquilo que se considera que não vai bem, bem como as propostas de mudança, é que podem variar.
Há aqueles que se apegam ferrenhamente ao passado, numa atitude saudosista, rejeitando tudo o que possa parecer concessão ao “mundo moderno”, que possa colocar em risco a fé e a sã tradição e a ortodoxia. Impera aí um misto de ressentimento e mágoa, de resistência e fechamento defensivo em relação a um mundo que não entende e não aceita a religião, a Igreja.
Outros simplesmente continuam fazendo as mesmas coisas que sempre fizeram, dando as mesmas respostas a problemas que não existem mais, esperando que os resultados sejam diferentes. O Papa chama isso de “tentação do imobilismo”: dão respostas velhas a problemas novos. E dizem: foi sempre assim.
O fato é que a Igreja, na segunda década do século XXI, encontra-se numa verdadeira encruzilhada. E a solução não está no enclausurar-se por trás das paredes das sacristias, ou fechando-se nos grupos dos “puros e perfeitos”, ou apegando-se a ritos, protocolos e formalidades, que condizem muito bem com um museu, mas não dizem nada a boa parte da sociedade. Ao inaugurar o caminho Sinodal, Francisco rogava ao Espírito para que nos livre de “nos tornarmos uma Igreja de museu, bela mas muda, com tanto passado e pouco futuro”. Dirigindo-se às superioras e delegadas das Carmelitas Descalças reunidas em Roma, no dia 18 de abril, Francisco afirmava: “As estratégias defensivas são resultado de uma volta nostálgica ao passado. Isso não funciona, a nostalgia não funciona. A esperança evangélica vai em outra direção. Nos dá a alegria da história vivida até hoje, e nos faz capazes de olhar para o futuro, com as raízes que recebemos”.
Muitos elementos da realidade que testemunhamos hoje já foram percebidos e discutidos, há 60 anos, pelos Bispos do mundo inteiro, reunidos entre 1962 e 1965, no Concílio Vaticano II. Os prelados buscaram dar respostas às urgências que se desenhavam no horizonte, aos questionamentos e desafios colocados à Igreja e sua presença no mundo, à Teologia, ao anúncio do Evangelho, à espiritualidade. No entanto, sabemos hoje, quando terminou o Concílio, muitas respostas já não correspondiam às perguntas feitas. Além disso, o empenho de certos setores eclesiais em impedirem a aplicação das decisões conciliares ajudou a distanciar mais ainda a Igreja do mundo pós-moderno.
Francisco é um Papa que veio “do fim do mundo”, de uma Igreja de rosto moreno, latino-americana, formado na escola da teologia argentina conhecida como a “teologia do Povo”, de fora da “bolha eurocêntrica” do poder eclesial. Distante dos palácios onde são geradas as políticas vaticanas, que buscam, sobretudo, manter o status quo, Francisco tem plena consciência de que a Igreja precisa, urgentemente, guiar-se a partir de novos paradigmas. Seu modo de entender o pontificado não é apenas a partir de uma maior simplicidade, austeridade, despojado de pompa e poder. É uma Igreja que busca de todas as formas estar mais próxima do povo, vizinha aos grandes dramas humanos, não apenas mestra ou juíza, mas, sobretudo, mãe. Onde a evangelização seja entendida a partir da inculturação, onde o encontro com a mensagem de Jesus se dê através do diálogo e do encontro com as pessoas, na realidade concreta onde elas vivem, a partir das mais diferentes culturas. Não é uma outra Igreja. É a mesma instituição, do modo como sempre foi chamada a ser: misericordiosa, acolhedora, sinodal, onde todas, todas as pessoas, possam fazer a experiência pessoal do encontro com Jesus.
Desde os inícios de seu Pontificado, a vida pessoal simples e despojada de Francisco foi uma crítica, nem sempre sutil, às instâncias de poder, ao clericalismo, ao legalismo sem misericórdia. A Evangelii Gaudium, gestada ainda no Pontificado de Bento XVI, após o Sínodo dos Bispos, transforma-se, com Francisco, num libelo “por uma Igreja em saída”, com cheiro de ovelhas, como um “hospital de campanha”, que cuida com atenção, com carinho, que acolhe e cura. A reforma da Cúria Romana insere-se nesta dinâmica proposta pela Evangelii Gaudium. À imagem de um Papa com caráter “transcendente”, sacralizado, distante das realidades humanas, como alguns pontificados mais recentes buscaram reafirmar, Francisco contrapõe a imagem de um Papa que é, sobretudo, um ser humano. Suas intervenções revelam preocupações extremamente “imanentes”, cruciais à convivência e à existência, muitas vezes dramáticas, do ser humano. O esforço por conseguir dar mais espaço na Igreja às mulheres, as intervenções em favor das minorias, revelam uma profunda sintonia com realidades muito atuais e urgentes.
No entanto, a atuação de Francisco não se resume à sua proximidade com o povo, nem se restringe a uma atuação pastoral, intra eclesial. Desde o início, junto com suas intervenções mais pastorais, o Bispo de Roma revela uma lucidez teológica, uma visão de mundo, que fez com que ele se tornasse uma das lideranças mais respeitadas da atualidade. Isto é resultado da consciência que o Papa tem de sua missão “extra eclesial”. Num momento em que a Igreja estava se tornando praticamente irrelevante no cenário mundial, Bergoglio a coloca de novo no centro dos debates. Pode-se discutir se o mundo acolhe ou age de acordo com os princípios defendidos por Francisco, mas, não se pode negar que suas alocuções, suas intervenções, seus gestos proféticos, têm uma incidência enorme nas relações e no modo como se configuram as conexões mundiais.
Desde seus esforços para o diálogo com o mundo islâmico e ortodoxo, seus discursos pela paz, pela justiça social, Francisco se revela uma voz dissonante e incômoda num cenário cada vez mais polarizado, dado à violência, ao fechamento em torno de si mesmo. A Encíclica Laudato Si’ é um marco na história da Igreja, pela importância, urgência e atualidade do tema, mas sobretudo pela capacidade de percepção dos vários aspectos, sociais, políticos, culturais, econômicos, envolvendo o drama da exploração e destruição da Casa Comum. O apelo a uma Ecologia Integral é uma das mais importantes contribuições do Pontificado de Francisco no esforço pela mudança de paradigmas na defesa do meio ambiente. Trata-se de um verdadeiro clamor profético, diante de uma situação dramática que afeta não apenas os cristãos católicos, mas a humanidade toda, e que pode tornar-se irreversível.
A Economia de Clara e Francisco é outra iniciativa que traz ao centro das discussões um clamor mundial. Aliando-se aos jovens e aos economistas do mundo inteiro, partindo da cidade de Assis, propondo como exemplo aquele jovem que no século XIII renunciou a todos os bens por causa do Bem maior, o Cristo do Evangelho, o Papa propõe uma discussão sobre uma nova forma de a humanidade se relacionar com os bens, com o capital. Na verdade, sua intenção é gerar o debate, é “acender o estopim” de um processo, que possa gerar alternativas globais, que resultem numa economia mais justa, fraterna, solidária e a serviço do ser humano. Contra a idolatria do capital e a ideologia neoliberal, que gera exclusão, injustiça e morte.
Neste número da Revista Grande Sinal nossos colaboradores compartilham com os leitores temas relacionados a algumas das principais questões com as quais se ocupou o Papa Francisco nesta primeira década de seu Pontificado. Francisco tem uma Boa Nova transformadora para as vítimas? é a pergunta da qual parte o professor Allan Coelho, para analisar as principais intervenções do Papa, e seus impactos na Igreja e na sociedade. Um pontificado tem sua razão de ser no anúncio do Evangelho, da “Boa notícia”, que se dá concretamente no serviço aos irmãos, na denúncia das mazelas, das injustiças, mas também no exercício de reforçar a esperança, e anunciar novas possibilidades e perspectivas. No artigo o autor pergunta se há alguma novidade no projeto do Papa Francisco, que possa oferecer sinais de esperança aos que mais sofrem na sociedade. Nesse sentido, pode-se afirmar que Francisco imposta seu papado a partir do princípio da reforma, da Cúria e da Igreja, mas também toca a temas extremamente importantes a toda a sociedade. Sua origem, sua formação, sua espiritualidade, desempenham um papel importante em seu pontificado, e ajudam a entender suas opções.
Desde o ano de 2023 até o ano de 2026 a Ordem Franciscana estará celebrando uma série de eventos que marcaram a vida de seu fundador e de seus seguidores, até os dias de hoje. Serão celebrados os 800 anos da Regra Bulada, do Presépio de Greccio, dos Estigmas de São Francisco, do Cântico das Criaturas e do encontro do Poverello de Assis com a irmã morte. São eventos que permitem aos franciscanos e franciscanas do mundo inteiro reavaliar seus passos no seguimento do carisma originário do jovem de Assis, rever suas opções e inspirações e, ao mesmo tempo, encetar caminhos novos, na busca da atualização do carisma identitário. Frei Vitório Mazzuco, no artigo intitulado “De Jubileu em Jubileus”, nos propõe uma reflexão sobre o sentido dos jubileus, a partir do contexto no qual vivem, franciscanos e franciscanas, e todas as pessoas que têm, em Francisco de Assis, em seu carisma, em sua vida, um modelo e inspiração no seguimento de Jesus e de seu Evangelho. Como afirma o autor: “É tempo também de repensar a identidade deste carisma que tem muito a revelar ao mundo e a cada pessoa que admira São Francisco”.
Os teólogos Agenor Brighenti e Rafael Luciani, ambos membros do grupo de teólogos expertos do Sínodo dos Bispos, no texto intitulado Igreja Sinodal em Missão, apresentam aos leitores um resumo do Relatório de Síntese da Primeira Sessão da Assembleia Sinodal, que aconteceu entre 4 e 28 de outubro de 2023, em Roma. Como afirmam os autores, o texto original é bastante extenso, o que pode dificultar o acesso de um público mais amplo ao seu conteúdo. O texto original foi publicado em espanhol, italiano, português, inglês, alemão e francês. O documento afirma que o caminho sinodal está “colocando em prática aquilo que o Concílio nos ensinou, a respeito da Igreja como Mistério e Povo de Deus”. O caminho sinodal é um processo, que pretende comprometer toda a Igreja e a Igreja toda, integrando a contribuição de todos os batizados, nas suas mais variadas vocações, para uma melhor compreensão e prática do Evangelho. Acreditamos que a publicação desta síntese preparada pelos autores possa contribuir para que nossos leitores conheçam mais sobre o processo sinodal, compreendam sua importância, e se animem a assumir o espírito sinodal em suas práticas cotidianas.
“Não se esqueça dos pobres”, foi a frase quase sussurrada nos ouvidos do recém-eleito Papa, pelo Cardeal brasileiro Cláudio Hummes, no momento em que estava definida sua eleição à Sé de Pedro. Pouco depois, no balcão do Vaticano, diante de todo o mundo, foi comunicado que o novo Pontífice escolhera o nome de Francisco. Uma escolha corajosa, que se revelou um verdadeiro programa de governo. O frade menor capuchinho, frei Vanildo Zugno partilha conosco uma reflexão onde coloca em destaque um dos elementos mais importantes da espiritualidade franciscana, que foi assumido pelo Pontífice argentino: a sinodalidade. Segundo ele, “a conciliaridade/sinodalidade é uma das marcas fundamentais do pontificado do Papa Francisco”. Através da análise da Legenda dos Três Companheiros, um relato originário e fundante da espiritualidade franciscana, o artigo põe em evidência a trajetória espiritual de Francisco de Assis, seu processo de transformação, destacando no “esvaziamento” o elemento central no processo. Esse dado fundamental da experiência franciscana é o caminho para a conciliaridade/sinodalidade hoje.
A Congregação para a Doutrina da Fé publicou, no dia 15 de março de 2021, um documento denominado Responsum ad dubium, onde afirmava que não era lícito aos sacerdotes abençoarem casais homoafetivos que pedissem algum reconhecimento religioso em sua união. No dia 18 de dezembro de 2023, o Dicastério para a Doutrina da Fé publicava a Declaração Fiducia Supplicans, Sobre o Sentido Pastoral das Bênçãos. Partindo de uma explanação sobre a doutrina da benção, em seu sentido litúrgico, pastoral e teológico, a Declaração se detém, de modo particular, sobre a benção aos casais em situações irregulares, e sobre as bênçãos aos casais do mesmo sexo. A partir destes dois documentos, a professora Alzirinha Souza apresenta uma reflexão sobre os avanços realizados no Pontificado de Francisco em relação aos LGBTQIA+ e as questões pastorais vinculadas ao tema. Pela natureza polêmica do assunto, os dois documentos foram recebidos com surpresa, geraram acalorados debates, críticas, mas também foram percebidos como um momento de abertura, a partir de um processo em movimento. Não obstante, não se pode negar que a temática desenvolvida diz respeito a uma urgência teológica, humana e pastoral, e é papel da Teologia refletir sobre ela e auxiliar no debate e no aprofundamento das várias questões envolvidas.
Em plena pandemia de Covid, no ano de 2020, o Papa Francisco escreveu um pequeno livro, intitulado “Vamos sonhar Juntos: o caminho para um futuro melhor”. Frei Sandro Roberto da Costa desenvolve e aprofunda algumas ideias apresentadas no citado livro, que podem ajudar as comunidades cristãs e as fraternidades religiosas a vivenciarem, na prática do dia a dia, o espírito da sinodalidade.
Na parte da Revista dedicada às Reflexões, trazemos um texto da professora Maria Tereza Rosa, onde ela reflete sobre um dos temas mais “espinhosos” à Igreja na atualidade: o enfrentamento da cultura de abusos. A autora busca fazer um histórico do processo através do qual a Igreja, nos últimos anos, foi tornando-se cada vez mais consciente da gravidade da situação, e de suas consequências. Essa tomada de consciência fez com que o Papa Francisco criasse mecanismos mais efetivos no combate aos abusos, e de apoio e sustento às vítimas.
Fechamos este número com um artigo de frei Ludovico Garmus, que partilha conosco algumas ideias sobre a fraternidade e a amizade social, tema da Campanha da Fraternidade deste ano de 2024. O renomado biblista, a partir da análise do livro do Gênesis 1-11, apresenta uma reflexão sobre o modo como os autores bíblicos entendiam e viviam as relações e os conflitos, fossem entre os irmãos, parentes ou entre povos distintos. Apesar de tratar-se de relatos derivados de um ambiente cultural muito distinto de nossa realidade atual, a sabedoria de vida presente nestes relatos, lidos à luz da fé, podem contribuir para refletirmos sobre o tema da fraternidade e da amizade, do respeito, do diálogo e da solução de conflitos.
Nestes 11 anos de Pontificado, a atuação de Francisco mostrou-se em profunda sintonia com os grandes dramas que tocam a todos os setores da humanidade. Pode-se dizer que aquela “lufada de ar fresco”, cheia de entusiasmo e alento, que João XXIII auspicava que invadisse e renovasse todos os setores da Igreja, de um certo modo está entrando com o Pontificado de Francisco. As mudanças, todos sabemos, são extremamente desafiadoras, trazem consigo medo, insegurança. A tentação é de se fechar, ou buscar refúgio no passado, naquilo que “sempre deu certo”.
Os desafios enfrentados por Francisco são imensos. Talvez nenhum Papa tenha sofrido tanta oposição quanto Francisco, em seu esforço por renovar a Igreja e dar lugar à ação do Espírito. Mas a força do mesmo Espírito e o ânimo evangélico que o movem, nutrido por uma profunda espiritualidade que brota de sua experiência pessoal, fazem com que Francisco siga em frente e não desanime, conduzindo com firmeza, com alegria e profética esperança, a “Barca de Pedro”.
Frei Sandro Roberto da Costa, ofm
Fonte: grandesinal.itf.edu.br