Igreja, casa em ruínas?

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Uma Igreja mais fiel ao Evangelho, mais próxima das pessoas, mais profética e missionária: este é um desejo expresso em não poucas oportunidades pelo Papa Francisco, que também fala de uma Igreja acolhedora, “hospital de campanha”, cuidando das feridas dos fiéis e saindo para ir ao encontro dos que machucados, excluídos ou que se afastaram. Em nosso último programa de 2021 deste nosso espaço, padre Gerson Schmidt* nos fala do esforço de Francisco para implementar as decisões do Concílio Vaticano II, partindo da visão que teve outro Francisco em 1205, aquele de Assis:

“A Lumen Gentium, no número 06, aponta a imagem da Igreja como uma casa e uma família: “A Igreja é também muitas vezes chamada construção de Deus (1 Cor. 3,9). O próprio Senhor se comparou à pedra que os construtores rejeitaram e se tornou pedra angular (Mt. 21,42 par.; Act. 4,11; 1 Ped. 2,7; Salm. 117,22). Sobre esse fundamento é a Igreja construída pelos Apóstolos (cfr. 1 Cor. 3,11), e d’Ele recebe firmeza e coesão. Esta construção recebe vários nomes: casa de Deus (1 Tim. 3,15), na qual habita a Sua «família»; habitação de Deus no Espírito (cfr. Ef. 2, 19-22)”. Estamos aprofundando essa imagem, uma vez que é utilizada pelos documentos atuais da Igreja, sobretudo também pelo Papa Francisco, como constatamos na Carta Encíclica Evangelii Gaudium, onde o Papa utiliza esse termo “casa aberta” e na Carta Encíclica Fratelli Tutti, em que se utiliza do termo “família” e novamente da Igreja como “Casa de portas abertas”.

São Francisco de Assis, em 1205, teve uma visão diante do Crucifixo em São Damião, que lhe dizia: “Vai, Francisco, e reconstrói a minha Igreja em ruínas”. Essa igrejinha de São Damião não era muito longe do centro de Assis. Assim, obedecendo essa voz do alto, Francisco de Assis restaurou a pequena Porciúncula, que estava em ruínas num campo. Mais tarde se deu conta de que a restauração era mais abrangente, que a Igreja em ruinas era toda a Igreja universal, que muito vivia no luxo e na riqueza.

Nosso Papa atual escolheu o nome de Francisco não por acaso. Até então nenhum Pontífice ousou tomar o nome desse grande santo da Igreja. O nome “Francisco” é um programa de vida. Era de se esperar que o Papa que veio fora da Europa, do continente latino-americano, pudesse quebrar muitas estruturas um tanto engessadas. O papa mesmo aponta que há estruturas eclesiais que podem chegar a condicionar um dinamismo evangelizador. As boas estruturas servem quando há uma vida que as anima, sustenta e avalia. Sem vida nova e espírito evangélico autêntico, sem «fidelidade da Igreja à própria vocação», toda e qualquer nova estrutura se corrompe em pouco tempo, disse Papa Francisco.

Um novo Francisco na Igreja requer uma reforma eclesial para os novos tempos, novos desafios, novas realidades. É tempo de Evangelizar, de sair das estruturas por vezes arcaicas, indo pelas ruas, pelas periferias, numa Igreja “em saída”. O Sumo Pontífice diz que a Igreja precisa estar de portas abertas, como desejou o Concílio Vaticano II, para um novo ardor, novo ar que remova o mofo existente. Quer as portas da Igreja abertas para sairmos ao encontro das ovelhas afastadas. Pobreza e Anúncio do Evangelho, algo totalmente necessário em nossa mudança de época, uma verdadeira transformação. Os pobres e o Evangelho proclamado, são sinais do Reino entre nós. Em seu primeiro livro “A Igreja da Misericórdia”, o Papa diz que quer uma Igreja pobre para os pobres. Apresenta nesse livro, que não é um documento oficial, alguns títulos com essa imagem da Igreja como “casa”: Casa de comunhão, casa que acolhe a todos, casa da harmonia.”

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

Fonte: Vatican News

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