Santo Antônio, vem em socorro do teu povo aflito!

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Caríssimos irmãos e irmãs,

Neste mês de junho, as comunidades católicas, e muito especialmente as franciscanas, mais uma vez celebram Santo Antônio de Pádua. Estes festejos são precedidos por trezenas, novenas e tríduos, cujas temáticas alargam as invocações entoadas na tradicional “Ladainha de Santo Antônio”. Dentre as mais de trinta invocações da litania, algumas destacam Santo Antônio, a “trombeta do Evangelho”, por sua firmeza e eloquência profética dentro de uma realidade social da época, carente de verdade, de ética, de justiça, de paz e de bons costumes.

Como no tempo de Santo Antônio, também nos nossos dias contemplamos uma realidade social que causa medo, incerteza e desconforto, principalmente quando olhamos o nosso Brasil mergulhado numa vergonhosa crise institucional em todos os níveis. É possível oferecer uma resposta de esperança ao clamor do povo pobre que mais sofre as consequências desse desastre político-econômico, protegido por falácias e conveniências jurídicas?

Sabemos o quanto Santo Antônio é venerado e invocado pela religiosidade do povo brasileiro. Cada fiel carrega no seu coração um agradecimento ou um pedido ao “íntimo amigo do Menino Deus”. Neste ano, o clamor e o grito dos pobres chega mais forte aos céus, isto é, ao coração de Deus, pela intercessão do “fidelíssimo filho de São Francisco”:

Santo Antônio, rogai por nos!
Doutor da verdade, rogai por nós!
Batalhador contra a falsidade, rogai por nós!
Extirpador de crimes, rogai por nós!
Restaurador da paz, rogai por nós!
Reformador dos costumes, rogai por nós!
Restituidor das coisas perdidas, rogai por nós!

Nos nossos dias, para além do desafio da crise mundial provocada por esquemas iníquos e de guerras forjadas, também o nosso país vive um lamentável momento histórico! Diariamente, locutores nos apresentam um verdadeiro espetáculo circense onde ‘palhaços’ desavergonhados fazem graça da desgraça dos pobres do nosso país. Santo Antônio, o teu povo pobre necessita de pão, de moradia, de amor, de respeito, de justiça, de direitos, de educação, de saúde e não desse circo armado!

Nos nossos dias os pobres invocam Santo Antônio para que ele os ajude a recuperar as “coisas perdidas”. As “coisas perdidas”, no meu entender, não se referem exclusivamente a objetos pessoais, mas principalmente às perdas das conquistas sociais. Perdas que geram desigualdades e injustiças. Perdas que são as retiradas de direitos e de contrarreformas que espoliam os trabalhadores. Quantas coisas foram “perdidas”, isto é, foram surrupiadas por corruptos que, inescrupulosamente, perderam toda a medida da ética e da justiça, em detrimento dos pobres e trabalhadores, excluídos da participação política nas grandes questões sociais. “Santo Antônio, reformador dos costumes, rogai por nós”!

Santo Antônio, o “Doutor da verdade”, no seu sermão do IV Domingo da Páscoa, apresenta-nos uma atualíssima reflexão acerca da “Justiça e Santidade”. Este sermão muito bem se enquadra na conjuntura atual do nosso país. É uma homilia que tanto se aplica à consciência pessoal e conduta evangélica de cada cristão como também se enquadra na atual realidade econômica, jurídica e política que, sem dúvida alguma, possui uma dívida ética, moral e financeira para com a sociedade brasileira. Como cidadãos, sonhadores da legítima “ordem e progresso”, verificamos que se perdeu o “perpendiculum”, isto é, o fio de prumo do pedreiro, do qual Santo Antônio fala em seu sermão:

“Justiça é a virtude com a qual, julgando-se corretamente, é dado a cada um o que é seu. Justiça é como dizer ‘juris status’, isto é, o estado de direito. Justiça é o hábito do espírito em atribuir a cada um a dignidade que lhe pertence, tendo em conta a utilidade comum. Fazem parte da justiça: o temor de Deus; o respeito à religião; a piedade; a humanidade; o gozo do justo e do bom; o ódio ao mal; o compromisso da gratidão. O mundo não possui esta justiça porque não teme a Deus, desonra a religião, odeia o bem e é ingrato para com Deus. Será julgado com relação à justiça que não praticou porque não puniu a si mesmo, segundo a justiça, pelos pecados cometidos. Será julgado com relação à justiça, mas não à sua e sim à daqueles que creem; e do confronto com eles é que receberá a condenação. Cristo não disse: “O mundo não me verá, mas “vós”, apóstolos, “não me vereis” e isso contra os mundanos que dizem: “Como podemos acreditar naquilo que não vemos? É justiça verdadeira, isto é, é fé que justifica, crer no que não se vê. Ou então: “julgará o mundo com relação à justiça” dos santos. Com efeito, diz o Senhor pela boca do profeta Zacarias: “Será estendido sobre Jerusalém o fio de prumo” (1,16).

O fio de prumo ou chumbinho é um instrumento do pedreiro; em latim se diz: ‘perpendiculum’ do verbo ‘perpendo’ que quer dizer controlar, julgar. Consiste em um chumbo ou uma pedra amarrada num barbante e com ele se controla a perpendicularidade das paredes. A justiça dos santos (a santidade deles) é com o fio de prumo que é estendido sobre Jerusalém, isto é, sobre toda pessoa fiel, para medir e ver se sua vida está conforme ao exemplo deles. Todas as vezes que se celebram as festas dos santos, é estendido este fio de prumo sobre a vida dos pecadores.

Santo Antônio, “restaurador da paz” e “extirpador de crimes”, com a tua coragem e o teu exemplo de fé, vem em socorro do teu povo aflito, para que neste mundo de tanta demagogia e falácia, prevaleça a verdade que nos torna livres (Jo 8,32). Que nos nossos dias floresça a linguagem idealizada por Santo Antônio: “A linguagem é viva, quando falam as obras. Calem-se, portanto, as palavras e falem as obras”. As boas obras são visibilidades do verdadeiro amor e da santidade. O Papa Francisco, na recente Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, admoesta: “Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra… Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais” (nº 14).

Boas festas de Santo Antônio e que o Senhor nos abençoe e nos guarde!

Frei Fidêncio Vanboemmel

Fonte: Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

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