Na Regra Bulada temos: “E os que forem obrigados por necessidade poderão trazer calçados” (Rb 2,14), mas enquanto não havia a necessidade andavam descalços para viverem radicalmente o que diz o Evangelho: “E lhes recomendou não levar para a viagem nada mais do que um bastão, nem pão, nem sacola, nem dinheiro no cinto nem calçados de sandálias” (Mc 6, 7-9). E assim os frades primitivos fizeram no caminho da terra um caminho de ação, unção e pregação. Religiosamente não eram nem reacionários nem revolucionarios, eram simplesmente desprendidos e autênticos.
Peregrinos pelas estradas da Úmbria e por tantos outros lugares, os frades andavam com os pés no chão. A civilização moderna não permite mais a beleza de um pé descalço, porém, mesmo assim as sandálias franciscanas são como pisar na terra nua com os pés nus. Os frades primitivos sentiam o chão e não tinham receio de tocar a terra em todas as estações do ano. Nunca a espessura dos caminhos foi para eles um empecilho. As poucas crianças que hoje andam descalças experimentam a liberdade dos passos. Pés cascudos e empoeirados criam trilhas; pés finos e bem tratados dos adultos não deixam ir muito longe em meio a bolhas de dificuldades. Pés descalços evocam muito mais que sapatos, porém nas calçadas do comércio o que mais tem são farmácias e sapatarias.
Os frades primitivos aprenderam com os camponeses que tocar a terra é ser irmão do solo, e um modo de identificar-se com as camadas mais pobres da sociedade. Deixaram pegadas para dizer: aqui passou um ser humano. Por que um pé descalço é mais bonito que um pé calçado? São as marcas da beleza do natural que não tem vínculos com as grifadas marcas do mercado.
Continua…
Por Frei Vitorio Mazzuco
Fonte: Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil