Entre os 191 mártires trucidados pelos revolucionários franceses em Paris a 17 de outubro de 1792 estava também um capuchinho suíço, João Tiago Morel, ou seja, o Pe. Apolinário de Posat. Nascera 12 de junho de 1739 no vilarejo de Préz-vers-Noréal, perto de Friburgo, filho de João Morel e Maria Elizabeth Maître. Completou sua formação religiosa e escolástica na escola paroquial de Francisco José Morel, seu tio. Depois dos estudos teológicos, ordenado padre, em 1747, foi enviado para Préz-vers-Noreál, e logo depois para Belfaux onde o tio tinha sido transferido como pároco em 1752. Três anos depois aperfeiçoou sua formação no colégio São Miguel em Friburgo, dirigido pelos jesuítas e morou na casa da mãe que, desde 1750, fora feita parteira profissional de Friburgo pelo Estado.
A sua inclinação à piedade e à vida religiosa fazia prever sua próxima entrada na Companhia de Jesus mas, no dia 26 de setembro, aos 23 anos, vestia o hábito capuchinho no convento de Zug, com o nome de Frei Apolinário de Posat. Terminado o noviciado e emitida a profissão religiosa, foi encaminhado logo para as ordens sacras, sendo ordenado sacerdote a 22 de setembro de 1764 em Bulle, sua terra de origem. De 1765 a 1769 foi para Lucerna, onde estudou teologia com o Pe. Ermano Martinho de Reinach.
Bem preparado na piedade e na ciência, lançou-se no apostolado itinerante a serviço das várias paróquias e nas missões populares, de 1769 a 1774, mudando frequentemente para os conventos de Sion, Porrentruy, Bucce e Romont. No fim de agosto de 1774, por seis anos consecutivos, foi professor e diretor dos estudantes capuchinhos de teologia de Friburgo. Foi vigário conventual de Sion em 1780 e por um ano retomou a atividade missionária, sendo finalmente transferido, ainda como vigário, para o convento de Bulle.
Em 1785, em Stans, tornou-se diretor da escola anexa ao convento e catequista dos rapazes do vilarejo vizinho de Buren. Os seus dotes de apóstolo e a capacidade de explicar, de maneira atraente a doutrina, atraia muita gente que se ajuntava aos seus pequenos discípulos.
O seu confessionário era muito procurado. Depois da oração coral da meia noite ele quase nunca voltava a repousar, mas se dedicava aos estudos, à oração e à meditação.
Um apóstolo tão eficaz inquietou os inimigos da fé, iluministas e jurisdicionalistas, que começaram a difundir calúnias dizendo que as lições de catecismo do frade não eram ortodoxas ou desacreditando o seu ensinamento escolástico levando-o ao ridículo ou maquiando a sua reputação moral. A campanha diabólica crescia e Frei Apolinário foi constrangido pelos superiores a defender-se com um memorial. Para evitar maiores complicações aos confrades foi transferido para Lucerna aos 16 de abril de 1788.
Tempos depois o Provincial de Bretanha, Vitorino de Rennes, propôs a Frei Apolinário de Posat de trabalhar como missionário na Síria, junto aos confrades franceses. A Providência dispôs diversamente: Paris seria seu último campo de apostolado e o altar do seu sacrifício. As coisas se precipitaram, estourou a revolta, a 14 de julho de 1789 a Bastilha caiu nas mãos dos revoltosos e a revolução estendeu-se por todo território francês. O superior de Marais encarregou Frei Apolinário, que conhecia o tedesco de seguir os outros cinco mil tedescos presentes na cidade.
Suspensas as ordens religiosas e fechados 3 mil conventos e mosteiros, ele foi feito vigário para os fiéis de língua tedesca na paróquia de São Suplício e capelão dos encarcerados de Tournelle. Fechado no convento de Marais, encontrou alojamento em uma casa de leigos que ele utilizou como um convento de Clausura. Confiscados todos os bens eclesiásticos e promulgada a Constituição Civil do clero, os sacerdotes de São Suplício refutaram abertamente o juramento. Entre eles estava o Frei Apolinário que mais uma vez foi golpeado pela calúnia, como se ele tivesse aceito o juramento. Ele se defendeu com um opúsculo intitulado “Le Séducteur Démasqué’ dizendo que, obedecer à Igreja equivalia obedecer ao Espírito que fala através da Hierarquia e acrescentava: “Nós devemos escutar a Igreja e não a Comuna de Paris. É a sabedoria eterna que a comanda”.
De 13 para 14 de agosto de 1792 assistiu a um moribundo e de manhã celebrou a missa e depois se apresentou aos comissários da Sessão de Luxemburgo, declarando que não prestara juramento, apesar de não ser um conspirador. Foi imediatamente colocado junto aos 160 refratários na igreja do Carmo. Aos 13 de agosto de 1792 foi promulgado o decreto de deportação, para esconder o massacre já decidido para o domingo seguinte. O Comissário que presidiu às execuções, dizia-se desconcertado: “Eu não entendo mais nada; estes padres marcham para a morte com alegria como se fossem para as núpcias”.
“… Aleluia, aleluia, aleluia! Em verdade, em verdade vos digo, logo a França, impregnada pelo sangue de tantos mártires, verá florir a religião no seu solo”, disse Frei Apolinário antes de morrer.
Frei Eurípedes Otoni da Silva – OFMCap, do site www.procamig.org.br
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