CMI apoia indígenas norte-americanas: derrubar muros de silêncio

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“Quando nossas vozes serão ouvidas? Ainda temos que esperar que mais vítimas inocentes sejam mortas?”: este é o alarme lançado por Gwenda Yuzicappi, expoente da Reserva Indígena Permanente da Nação Búfalo Dakota em Saskatchewan, uma província no oeste do Canadá, que vem trabalhando há anos para defender os direitos das mulheres indígenas. De fato, nos últimos anos desapareceram milhares de jovens na quase total indiferença e no silêncio das instituições.

Mulheres indígenas assassinadas são 16% do total de mortes

Um estudo realizado no Canadá em 2019 mostra que, entre 1980 e 2012, 16 % de todos os assassinatos femininos foram de mulheres e meninas indígenas. O alto índice de violência contra elas também foi confirmado por outras pesquisas realizadas tanto no Canadá quanto nos Estados Unidos, onde há pouca visibilidade do fenômeno e pouca atenção por parte das autoridades e da sociedade em geral. Em 2016, outro estudo mostrou que dos 5712 casos de mulheres índias e nativas do Alasca desaparecidas, apenas 116 haviam sido registrados no banco de dados do Departamento de Justiça. No Alasca, o assassinato é considerado a terceira principal causa de mortalidade entre as mulheres indígenas americanas.

O CMI em defesa das mulheres indígenas

Em defesa de seus direitos, uma série de organizações religiosas se manifestaram, incluindo o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que, através de sua campanha de conscientização “Thursdays in Black” conclama fortemente à justiça e à ação unida. As “Quintas-feiras em negro” nasceram dos movimentos femininos de resiliência e resistência à injustiça, aos abusos e à violência que continuam a trazer à tona o que têm sido as tragédias invisíveis. Um desses movimentos no Canadá e nos Estados Unidos busca justiça e mudança para as mulheres indígenas que desapareceram e foram mortas. O Conselho Ecumênico de Igrejas se tornou um dos primeiros e mais importantes apoiadores deste movimento, promovendo um protesto pacífico contra o estupro e a violência.

Mulheres indígenas: seres de segunda categoria

Entre os povos indígenas, graças ao apoio dos movimentos religiosos, cresce a esperança de mudança: mulheres e comunidades estão se unindo para aumentar a conscientização na sociedade civil e entre as autoridades governamentais. O que aconteceu conosco mulheres”, explica a ativista Mary Lyons, decana da comunidade indígena 0jibwe, “sempre foi obscurecido desde o início dos tempos. Para muitos, as mulheres indígenas são seres humanos de segunda categoria”.

Proteção e justiça têm um preço

Lyons e Yuzicappi compartilham um drama familiar: ambas perderam a filha e a irmã mortas na indiferença geral. “Muitos de nós não sabíamos como fazer ouvir nossas vozes, tivemos que fazer tudo sozinhas. Mesmo que não fôssemos convidadas para os debates, íamos do mesmo modo e percebemos que o cerne da questão era o dinheiro. A ação do governo para cuidar dos filhos e das mulheres assassinadas e, ao mesmo tempo, para assegurar a prisão para os autores dos crimes, tinha um preço. Agora chegou a hora de mudar”, afirmam. No estado de Minnesota, como resposta, foi criada uma força-tarefa para investigar as mulheres indígenas que desapareceram e foram mortas em 2019 e tornarão públicas suas descobertas em dezembro próximo.

É um passo à frente, mas Lyons – junto com os avós e avôs de todas as comunidades indígenas – sabe que precisa ser feito muito mais para restaurar o equilíbrio e reconhecer a sacralidade da vida. “Também estamos trabalhando e dialogando com nossos anciãos para tentar difundir uma cultura baseada no respeito pela mulher e igual dignidade”.

Tornar os dramas conhecidos e exigir justiça

Relatando corajosamente a violência sofrida por sua filha, Yuzicappi, juntamente com outras mulheres, conseguiu sacudir a opinião pública: “O que eu fiz ajudará outros a mudar suas vidas”. A ativista lembra que “as mulheres são doadoras de vida. Sem elas, não haveria existência. Os homens devem respeitá-las e protegê-las”. Daí a exortação às mulheres indígenas, com a ajuda de movimentos e associações religiosas, para que tornem seus dramas conhecidos e exijam justiça. Yuzicappi, por exemplo, compartilhou seu luto familiar com mais de 1400 pessoas afetadas através do National Inquiry on Missing and Murdered Women do Canadá. É muito importante para a ativista indiana relatar e monitorar seu sofrimento “assegurando que a polícia faça seu trabalho e que a mídia apoie as vítimas falando sobre seu drama à opinião pública”.

À medida que a tragédia das mulheres indígenas desaparecidas e assassinadas se torna mais visível, mais e mais pessoas em escala global exigirão uma ação efetiva. “Acredito firmemente na solidariedade internacional contra o abuso e a violência sexual”, concluiu Yuzicappi. O importante”, acrescentou Lyons, “é que atuemos todos juntos, lado a lado”. Devemos derrubar os muros que nos separam”.

(Francesco Ricupero/Osservatore Romano)

Fonte: Vatican News

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