Nos dias 15 e 16 de agosto foi realizado na Faculdade Paulus de Comunicação (FAPCOM), em São Paulo, o Congresso de Comunicação – Inteligência Artificial, Lei Geral de Proteção de Dados e Discernimento no Ambiente Digital. O evento promovido pelo setor de comunicação da CRB Nacional (Conferência dos Religiosos do Brasil), em parceria com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Arquidiocese de São Paulo e a faculdade, reuniu 210 participantes entre presbíteros, religiosas, religiosos e leigos de diferentes regiões do país, que atuam com comunicação para a Igreja .
Irmã Neusa Santos, coordenadora do congresso e assessora do setor de comunicação da CRB Nacional, abriu as atividades na manhã do dia 15, dando as boas-vindas aos congressistas. Ela destacou que a comunicação é um processo de diálogo, participação e construção colaborativa em rede. Na ocasião, a religiosa também apresentou os membros da Comissão de Comunicação e Cultura Digital da Conferência Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR), que estavam presentes no congresso.
Padre Erivaldo Dantas, diretor da FAPCOM, também acolheu os participantes. Segundo ele, promover um congresso com uma temática atual é urgente para o ambiente universitário, em parceria com outras instituições, é um caminho rico para discutir e entender os impactos que hoje a comunicação tem na vida das pessoas e instituições. Ele destacou as questões relacionadas à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e a inteligência artificial, temas abordados no evento.
“Quando falamos sobre inteligência artificial, tema que surge na atualidade com muita evidência, precisamos entender quais os impactos dessa realidade em nossa missão, bem como os caminhos para utilizar esses elementos para potencializar a missão e a participação no ambiente digital da Igreja”, ressaltou
Em sua fala, padre Michelino Roberto, Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo, em nome da Arquidiocese e do Arcebispo Dom Odilo Scherer, ressaltou a importância da parceria com a CRB Nacional.
As atividades do dia foram abertas com Dom Valdir de Castro, presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB, que abordou o tema: Igreja e discernimento no ambiente digital: preservar a identidade e transmitir valores.
Sobre a importância de ampliar os debates que envolvem o uso das novas tecnologias e da Inteligência Artificial, o conferencista afirmou que a Igreja não pode ficar para trás. “A Igreja tem se esforçado, buscado entender a comunicação a partir das tecnologias e do desenvolvimento do progresso técnico. Mas ela (Igreja) também tem se preocupado com os caminhos de uso das técnicas. A mensagem do Papa Francisco, no Dia Mundial da Paz e para o Dia Mundial das Comunicações, abordou a Inteligência Artificial. Ele também falou para o Grupo G7, que reúne importantes lideranças mundiais, sobre o mesmo tema”, explicou.
Segundo ele, a Igreja não é contra o progresso, mas é contra o uso das tecnologias para a destruição do ser humano por meio da mentira e para criar conflitos sem necessidades, por isso, está trabalhando para entender e ajudar outros a entenderem esse universo. “Às vezes nos tornamos escravos das tecnologias, mas ela tem que estar a serviço do ser humano, pois precisamos imprimir o modo nosso de ser cristão e com os valores cristãos”
Dom Valdir também falou sobre a necessidade da humanização do ambiente digital por parte da Igreja, para que consiga cumprir seu papel evangelizador. Ele mencionou os cuidados que devem ser adotados pelos presbíteros, chamados de sacerdotes influencers, que atuam nas redes sociais. “ Quem está dentro das redes como Igreja, tem que estar como Igreja, com os valores cristãos. Caso contrário, a pessoa corre o risco de criar divisão em nome da Igreja, como se fosse um magistério paralelo. Somos pessoas humanas, cristãs, chamadas a viver e anunciar o Evangelho”, afirmou.
Ainda durante a manhã, o Dr. João Fábio Azeredo, especialista em direito digital, falou sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), abordando os desafios e responsabilidades que essa legislação impõe às instituições e aos indivíduos no ambiente digital.
Já no período da tarde, Nataša Govekar, diretora do Departamento Teológico – Pastoral do Dicastério para as Comunicações do Vaticano, em Roma, Itália, falou remotamente sobre a Teologia da Comunicação (online). Ela destacou a relação da comunicação com Deus e o Verbo, relacionando o forte vínculo da comunicação na propagação da Palavra e a mensagem de amor de Jesus Cristo.
Também no formato remoto, Lúcia Martins, atuante no setor de Relações Públicas, especialista em Marketing Integrado e Comunicação de Crises, falou sobre “Comunicação Institucional e Gestão de Crises”. A profissional destacou a importância da transparência na gestão de crise, da necessidade de moldar e treinar lideranças capazes de se posicionar em nome da instituição, bem como na atenção necessária para prevenir possíveis crises.
No mesmo dia, o Prof. Dr. Luis Mauro Sá Martino, autor de dois livros pela Editora Vozes, sendo um deles: “Teoria das Mídias Digitais”, abordou o tema: “ Mídia, Religião e Sociedade”. A partir de uma recapitulação histórica relacionada a evolução dos meios de comunicação audiovisuais, especialmente no Brasil, o conferencista evidenciou o caminho da Igreja no cenário, a presença dos evangélicos pentecostais, inclusive os internacionais, nesse ambiente de comunicação e a forma como as lideranças religiosas ocuparam esses espaços, como estratégia de captação de fiéis. O professor classificou a presença marcante das Igrejas no ambiente televisivo como “Televangelismo Mulltinacional”, marcante na década de 90.
Sua abordagem chegou aos dias atuais com a midiatização da Igreja, considerando a vivência digital religiosa, a adoção da linguagem da mídia e o uso do entretenimento como modelo para produção, citando o perfil dos padres cantores e os pastores celebridades. Ele encerrou com algumas provocações como: “ O caminho da Igreja Católica frente às mídias é seguir a lógica do mercado? ”
O dia foi encerrado com uma conversa entre os parceiros realizadores do evento e uma Santa Missa presidida pelo presbítero Hermes Novakoski, membro da CRB Nacional.
2º dia do Congresso
O Segundo dia do Congresso de Comunicação começou com a celebração Eucarística, presidida pelo Padre Michelino Roberto. Após o café, as atividades começaram com a conferência: “Comunicação Digital: Gestão de Imagens”, com Germana Costa Moura, profissional de Relações Públicas, especialista em comunicação corporativa, gestão de mídias, entre outras ações. Voltando também à gestão de crise, a conferencista falou sobre a importância de a instituição estar atenta à imagem que apresenta, especialmente, nos meios digitais, por meio de seus representantes e sua marca, visto que nesses canais as informações são pulverizadas de forma mais rápida. Ela indagou: “O que comunico com a minha marca? ”. E para estimular esse questionamento, Germana sugeriu uma avaliação constante que deve considerar: empatia, compromisso e ação, ou seja, como reflito minha marca para os públicos de interesse; quais regras sigo para fortalecer a minha imagem (missão, visão e valores); quais ações adoto para evidenciar quem sou nesse ambiente.
Na sequência, Marcus Túlio, mestre em Comunicação Social, pela PUC Minas ( Pontifícia Universidade Católica), da Pascom Brasil ( Pastoral da Comunicação) , falou sobre “ Comunicação, identidade e o advento de novos comportamentos”. Partindo do princípio e da afirmação do Papa Francisco de que a missão do comunicador católico é “ anunciar e edificar o Reino de Deus entre nós” e de que devemos “ comunicar com amor e testemunhar com alegria”, o publicitário desenvolveu sua fala a partir da definição de identidade e a relação dessa construção com a amplitude do espaço territorial, ampliado com o as novas tecnologias.
Ele apresentou pontos relevantes para os comunicadores católicos considerarem em suas produções como: a relação entre o virtual e real; autenticidade performática nas redes sociais; participação ativa e colaborativa; o ambiente digital e suas comunidades; consumo personalizado da informação; efemeridade e a agilidade da informação; visibilidade constante e ansiedade por performance e a multiplicidade de identidades.
No período da tarde os destaques ficaram para o tema “Inteligência Artificial: Vantagens e Riscos”, com a Dra. Maria Cristina Machado Domingues, mestre em Engenharia da Computação e Diretora Técnica de Tecnologias Digitais da USP. A especialista destacou a importância de conhecer a Inteligência Artificial e como ela é desenvolvida, bem como saber a melhor forma de utilizar os recursos disponíveis.
Outro assunto abordado pela Profa.Dra. Fernanda de Faria Medeiros, foi “ Influenciadores digitais”. Ela abordou o quanto a imagem, somada ao propósito podem favorecer uma instituição, da mesma forma que a falta de direcionamento e compromisso são capazes de destruir e comprometer uma imagem.
O congresso foi encerrado com a conferência do Padre Arnaldo Rodrigues, Assessor de Imprensa da CNBB, que falou sobre Comunicação Digital e o anúncio da Verdade em tempo de Fake News.
“A CNBB tem se articulado para pensar também sobre a inteligência artificial. E assim eu vejo que a Igreja, de modo geral, está buscando entender e colaborar com todas as missões. Como uma instituição com mais de 2 mil anos, a Igreja acompanha essa evolução, tendo muito a colaborar, pois também está aprendendo. Acredito que o grande desafio é o mau uso da inteligência artificial. Vemos muita manipulação de imagem e outros conteúdos”, afirmou o presbítero
De acordo com Padre Arnaldo, não podemos diabolizar a Inteligência Artificial, pois ela já faz parte do nosso dia a dia. Ele ressaltou que o mais importante, além de saber usar as ferramentas de comunicação disponíveis, é ter responsabilidade. “De que forma eu utilizo a inteligência artificial para a construção de um conteúdo de forma que a sociedade seja beneficiada? O caminho, como foi apontado nesse congresso, é o discernimento e a coerência na utilização das ferramentas oferecidas na produção de conteúdos de comunicação”, afirmou.
Ao final das atividades, Irmã Neusa Santos avaliou o evento como uma iniciativa importante para o fortalecimento dos estudos e debates que envolvem a comunicação e a Igreja. “ O Congresso motivou um grande encontro no qual buscamos despertar a consciência dos representantes de instituições, religiosos e organizações ligadas à Igreja. As pessoas responderam para além das minhas expectativas. Foi positivo porque fomos além das palestras, por meio de muitas interações. Agora, todos voltam para casa animados para refletir e questionar, a partir de tudo que ouviram e falaram, sobre o uso das novas tecnologias na produção de conteúdos que evidenciem seus carismas e potencializem a imagem positiva de suas instituições”, concluiu.
Fonte: franciscanos.org.br