Entrevista: Jornada Franciscana de Direitos Humanos com Lucas Lins, JUFRA

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LUCAS LINS, JUFRA

Sou da Terra da Luz, do Ceará, onde a liberdade raiou mais cedo. Formado em Ciências Sociais e especialista em Doutrina Social da Igreja. No campo profissional atuo como professor. Na Família Franciscana possuo dupla pertença: estou na JUFRA, Fraternidade Aliança de Assis e na OFS, Fraternidade Nossa Senhora das Dores, ambas se reúnem em Fortaleza, CE. Até o próximo ano estou a serviço da JUFRA do Brasil como Secretário Nacional de DHJUPIC e a serviço do Regional NE A2, Ceará, como Secretário Fraterno.

1. Qual o convite que a III Jornada Latino-americana pelos Direitos Humanos e XVI Jornada Nacional da Jufra do Brasil nos fazem, para refletir e assumir?

Primeiramente, essa Jornada é muito especial, porque é a terceira vez que a vivenciamos com todas as Fraternidades Nacionais da América Latina. A Jornada Franciscana Nacional de Direitos Humanos surgiu em 2010 quando nosso irmão Elson Matias, OFS, estava como Secretário Nacional de DHJUPIC e, em 2011 ela foi assumida por toda a JUFRA do Brasil como um compromisso na Carta de Guaratinguetá, momento em que celebramos nossos 40 anos. Com esse compromisso, a Juventude Franciscana do Brasil deu um passo à frente na luta contra as injustiças sociais, colocando as diversas pautas dos Direitos Humanos no cerne das nossas discussões. Em 2019, no Congresso Latino-Americano da OFS e JUFRA, inspirados por nossa experiência no Brasil, as Fraternidades Nacionais da América Latina decidiram também vivenciar, de três em três anos, essa Jornada.

A Jornada Franciscana de Direitos Humanos ocorre de 01 a 10 de dezembro, em alusão à promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela ONU. Nesse período, as fraternidades locais são convidadas a vivenciar a temática através de encontros formativos e gestos concretos. Para isso é pensado e construído um subsídio, uma cartilha que geralmente é divulgada com antecedência para as fraternidades poderem planejar e se organizar.

Essa cartilha é disponibilizada de forma gratuita e virtual no site da JUFRA do Brasil. A linguagem desse material é voltada para as juventudes, mas nada impede que as fraternidades da OFS, da VRC e outros espaços possam adaptá-lo para suas realidades. Portanto, a Jornada não é algo exclusivo da JUFRA, mas todos e todas são convidadas/os a vivenciar conosco.

2. São 16 anos de Jornada Nacional de Direitos Humanos no Brasil. Como a Família Francisclariana celebra e afirma esse período em tempos tão exigentes de mudança de comportamento socioambiental?

Bem, a questão socioambiental não é uma novidade para nós franciscanos e franciscanas. Há 800 anos, São Francisco já trazia a importância da conscientização e transformação da realidade. A Família Franciscana na América Latina, e especialmente no Brasil, há muito tempo tem uma atenção e atuação voltada para as temáticas que envolvem a questão socioambiental, sobretudo através dos serviços de JPIC e DHJUPIC. E há 10 anos, o papa Francisco nos sacudiu com o lançamento da Carta Encíclica Laudato Si’, que traz uma análise atualizada sobre a realidade socioambiental e que significou uma revolução no magistério social da Igreja.

Por isso, neste ano escolhemos a temática “Do Cântico das Criaturas à Laudato Si’: um itinerário formativo e fraterno para Ecologia Integral”. A escolha parece repetitiva, tendo em vista que já tratamos dessa temática há muito tempo e sobretudo durante este ano. No entanto, consideramos que a Jornada é uma oportunidade de aprofundamento. É tempo de planejar nossas ações, como ressonância deste ano jubilar e também da COP 30 que ocorreu em Belém, PA.

3. Você desempenhou um importante papel junto à Ação Francisclariana na Cúpula dos Povos. Transmitiu informações, conteúdos e a agenda para a Família Francisclariana. Como foi participar desse importante evento? Poderia destacar dois momentos significativos?

Foi uma vivência ímpar. Poder somar-se à delegação franciscana com irmãos e irmãs do Brasil e de vários outros países foi uma experiência muito intensa e enriquecedora. Conseguimos ocupar vários espaços com nossa presença e participação, na Cúpula dos Povos, no Tapiri Ecumênico e Inter-religioso e na própria COP 30. Conseguimos construir pontes de diálogo e unir nossas vozes com a de vários lutadores e lutadoras. A Cúpula dos Povos e a COP 30 teve a marca dos franciscanos e franciscanas.

Eu posso destacar o ato celebrativo Gritos pela Vida, em celebração dos 800 anos do Cântico das Criaturas, que conseguimos promover em articulação com a Rede Um Grito pela Vida e com a Vivat. E também nossa participação na Marcha Global pelo Clima, onde levantamos nossas bandeiras de luta contra as injustiças socioambientais.

4. Qual o impacto e o resultado da participação francisclariana e movimentos de juventudes na Cúpula dos Povos?

Nossa participação foi fundamental, assim como foi fundamental a participação dos movimentos populares e outras organizações da sociedade civil. Conseguimos mostrar força e unidade em torno do mesmo objetivo, enfrentar e combater as raízes da crise socioambiental que estamos vivendo. E também conseguimos outro objetivo importante, denunciar a dinâmica excludente das COPs, onde a sociedade civil, os movimentos, os povos originários, as pessoas que são mais impactadas pela crise quase não têm voz. 

5. Você integra vários movimentos na Igreja, especialmente na Família Franciscana. A Juventude tem espaço garantido e aberto ao diálogo? Quais conquistas e desafios a Juventude Franciscana vivencia?

Essa pergunta traz dois grandes desafios não só para a JUFRA, mas para todas as expressões de juventudes da nossa Igreja, o diálogo intergeracional e a garantia do protagonismo juvenil. Às vezes o espaço está até garantido, mas faltam condições objetivas para que a juventude o ocupe. Estou falando da realidade socioeconômica das nossas juventudes. É uma questão complexa e que merece um debate mais aprofundado.

Esse triênio foi um período de semeadura para a JUFRA do Brasil. Nosso próximo Congresso Nacional, que acontecerá em fevereiro de 2026, em Belém, PA, será um momento para celebrar a colheita dos frutos das sementes que plantamos e planejar a “lavoura” do próximo triênio.

Dois pontos são imprescindíveis: é fundamental respeitar os espaços de discussão e de decisão das juventudes. E segue sendo necessário sentir a terra, o chão da realidade das nossas juventudes e que esse chão seja o principal critério para nossas decisões.

Que São Francisco, Santa Clara e Santa Rosa de Viterbo iluminem nossa caminhada e a Divina Ruah nos abençoe!

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