“Mas já é o terceiro dia…” dizem decepcionados os discípulos de Emaús. E a recordação das escrituras foi aquecendo o coração, foi acendendo a luz e, no gesto da partilha… os olhos se lhe abriram… e voltaram a Jerusalém, o lugar do conflito para testemunhar a ressurreição. (Cf. Lc 24,13-35).
O mundo vem atravessando a lenta, intensa e extensa agonia que, quando começou (2020) iria até final de março. Foi um ano todo de dolorosa paixão e morte e, entramos em novo ano vendo cifras espantosas de vidas que terminam em um saco preto, num caixão lacrado…, sem que as pessoas que perdem um ser querido tenham direito a chorar num ombro amigo, sem poder dar e receber o abraço solidário. Só a silenciosa prece traz consolo e alivio a dores de tantos “pedaços de coração arrancados”.
Mas o braço de Deus não enfraqueceu, nem sua Palavra perdeu a força e, como fez com Francisco e Clara continua aquecendo e iluminando.
Segundo o testemunho de Tomás de Celano, Francisco, que queria entregar-se totalmente a Deus, mas ainda não via bem como, “em um dia em que foi lido na igreja o evangelho de como o Senhor enviou seus discípulos para pregar, o santo de Deus, aí presente, ouvindo bem as palavras do evangelho, depois da celebração da missa suplicou ao sacerdote que lhe explicasse o evangelho.
Depois que ele lhe explicou tudo em ordem, ouvindo são Francisco que os discípulos de Cristo não deviam possuir ouro, prata ou dinheiro, nem levar pelo caminho bolsa, sacola, nem pão ou bastão, não ter calçado nem duas túnicas, mas pregar o reino de Deus e a penitência, ficou logo exultante, e disse: “É isso que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo fazer com todo o meu coração”(1Cel 22,1-3).
A Palavra lhe mostrou o caminho e a maneira de caminhar, ambos tão urgentes para a sociedade e para a igreja de sua época.
Segundo testemunho do Processo de Canonização, “Clara sentia um gozo especial em escutar a Palavra de Deus. Embora não tivesse estudado letras, comprazia-se em escutar pregadores eruditos. Um dia, pregando Fr. Filipe de Atri, a testemunha pôde observar, junto de Santa Clara, um menino muito formoso, que aparentava três anos. E suplicando a Deus no seu interior que tudo aquilo não fosse um engano, ouviu uma voz interior que dizia: “Eu estou no meio deles” (Mt 18, 20), dando a entender que aquele menino era mesmo Jesus Cristo e que está presente quando os pregadores proclamam a Palavra e os ouvintes escutam com devoção” (PC 10,8a).
Que a Palavra fiel seja hoje, nossa força. Que possamos encontrar nela o conforto pessoal e inspiração para confortar quem sofre neste tempo de perdas e dores.
Por Irmã Maria Fachini
Fonte: CICAF