Vila Velha (ES) – Foi num clima festivo que os irmãos leigos, reunidos desde a última quinta-feira (7) no Projeto Santa Clara, em Ponta da Fruta, Vila Velha (ES), encerraram o II Encontro Nacional de Irmãos Leigos Franciscanos.
Os 70 religiosos, de quatro obediências franciscanas, Ordem dos Frades Menores (OFM), Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (OFMCap), Ordem dos Frades Menores Conventuais (OFMConv) e Ordem dos Terceiros Regulares (TOR), estiveram reunidos para convivência, troca de experiências e debate a respeito dos desafios da vida religiosa consagrada.
Na manhã de sábado, os participantes se reuniram por obediências, discutiram sobre seus anseios. Após este encontro, um de cada grupo ficou responsável pela redação da carta, fruto das partilhas destes dias.
No domingo (10), os participantes acompanharam a leitura da carta e apontaram alterações para a versão final. No documento, eles afirmam: “Retomando as reflexões e proposições do Encontro Nacional de 2015, sentimos a necessidade de continuarmos a nos entender mais como irmãos de uma família maior, que está além de nossas próprias obediências. Uma família em que os irmãos de nomes diferentes se redescobrem e se ajudam, traçam planos comuns, dividem trabalhos e assumem ações conjuntas, primeireando o processo de aproximação das quatro obediências em nível de Ordens, percebendo que ser irmão e menor tem um significado profundo para a Vida Consagrada e para a Igreja, além de uma força profética no mundo hodierno.”
Eles reforçam ainda apoio à Carta de Aparecida, divulgada após o Capítulo das Esteiras. “Diante da desestruturação do tecido político e institucional de nosso país, pautado por mentiras construídas e divulgadas pela mídia, queremos, como irmãos e menores em nosso tempo, proclamar junto com todos os pobres e movimentos sociais: ‘nenhum direito a menos’”.
Frei Rômulo Canto, OFM, da Custódia São Benedito da Amazônia, avaliou o encontro positivamente. “Nós alcançamos o objetivo principal, que foi de nos confraternizarmos, nos encontrarmos, de convivermos nestes dias”, alegrou-se.
O encontro, que reúne frades de diversas províncias e custódias de todo país, é sinal de esperança. Em sintonia com os Ministros Gerais das quatro Ordens, que vêm sinalizando uma possível unificação, os religiosos reunidos em Vila Velha já colhem os frutos deste diálogo. “Reunimos frades das quatro obediências, sem considerar a origem da nossa obediência, mas simplesmente nos vendo como irmãos, convivendo, partilhando os nossos sonhos, as nossas angústias, mas especialmente tudo aquilo que fazemos e vivemos de positivo”, afirmou.
Para ele, o Encontro Nacional é um momento também de divulgar o carisma do irmão leigo dentro das obediências. “Quando falamos de vocação, é bom que tenhamos isso claro. Nossa vocação essencial é ser irmão menor. E isso precisa ser trabalhado nas bases, nos grupos vocacionais, para que também eles tenham isso claro. A vocação que eles receberam de Deus é a vocação de ser irmão. Nós somos chamados por Deus a sermos todos irmãos”, concluiu.
Bênção de envio
Para encerrar, foi feita uma celebração de envio dos participantes. Frei Tiago Elias, que fez aniversário neste sábado, foi convidado para dar a bênção aos irmãos, junto aos frades mais “experientes”, a pedido de Frei Zeca Paz, da TOR. O aniversariante falou aos demais: “Nós, frades franciscanos, somos luz no mundo, um mundo cada vez mais venenoso, com muitas sombras. Estamos no meio daqueles que não tem voz e nem vez. Nos fazemos menores em tudo isso”, afirmou. E disse que o encontro foi positivo, pois aqui encontrou frades com 50 anos de vida religiosa e outros no início da caminhada, mas todos com o mesmo vigor.
Frei Pedro Engel, da Fraternidade do Convento da Penha, que completou 60 anos de vida consagrada em 2015, animou os irmãos a viverem sua vocação com alegria e otimismo. “Cada um tem seu modo de ser e deve ter esta perspectiva. Viva a sua vida na paz e na tranquilidade, seja sempre um exemplo de vida”, testemunhou.
O III Encontro Nacional acontecerá em 2019, em local a ser divulgado.
Carta do II Encontro Nacional dos Irmãos Leigos Franciscanos
Nós, irmãos leigos das quatro obediências da família franciscana (OFM, OFM Cap, OFM Conv e TOR), nos reunimos, 70 frades, dos dias 07 a 10 de setembro de 2017, no município de Vila Velha – ES. O nosso II Encontro Nacional de Irmãos Leigos Franciscanos teve como objetivo promover a convivência fraterna dos irmãos do Brasil e refletir sobre a Vida Religiosa Consagrada em processo de transformação – perspectivas para o irmão leigo franciscano.
Retomando as reflexões e proposições do Encontro Nacional de 2015, sentimos a necessidade de continuarmos a nos entender mais como irmãos de uma família maior, que está além de nossas próprias obediências. Uma família em que os irmãos de nomes diferentes se redescobrem e se ajudam, traçam planos comuns, dividem trabalhos e assumem ações conjuntas, primeireando o processo de aproximação das quatro obediências em nível de Ordens, percebendo que ser irmão e menor tem um significado profundo para a Vida Consagrada e para a Igreja, além de uma força profética no mundo hodierno.
Neste contexto, e em consonância com a Carta Final do Capítulo das Esteiras da CFFB, e diante da desestruturação do tecido político e institucional de nosso país, pautado por mentiras construídas e divulgadas pela mídia, queremos, como irmãos e menores em nosso tempo, proclamar junto com todos os pobres e movimentos sociais: “nenhum direito a menos”. A água é criatura de Deus e deve ser de todos e todas filhos e filhas de Deus, não deve ser entregue ao deus dinheiro. A vida é sagrada e, nas causas indígenas, ela tem sido ameaçada, violentada, massacrada.
Através das reflexões de Frei Luiz Carlos Susin, OFMCap, que, ao fazer uma retomada histórica da Vida Religiosa Consagrada, e ao abordar aspectos como o do clericalismo, motivou-nos a retomarmos nossa mística do ser frade menor, aprofundando, em especial, quatro verbos: REFONTIZAR, REGENERAR, RELANÇAR e REQUALIFICAR.
Como resultado de nossos esforços desses dias de encontro, EXORTAMOS:
- ACENTUAR na animação vocacional e na formação inicial a dimensão essencial e profética do irmão como identidade fundante do carisma franciscano, utilizando-se da produção de materiais comuns para todas as obediências;
- CUIDAR de não reproduzirmos modelos hierárquicos piramidais e que se favoreça a participação dos irmãos leigos nos espaços de decisão. Sejam igualmente incentivados os encontros dos irmãos;
- VALORIZAR o apostolado que vai além dos espaços tradicionais, criando novas perspectivas, ampliando horizontes para que possamos ser propagadores da paz, promotores da integridade da criação, fomentando a itinerância e sendo solidários com as causas dos menores e excluídos;
- TER uma equipe de caráter executivo, com frades das quatro obediências, com as seguintes funções: enviar as propostas para as obediências e preparar o próximo encontro nacional; criar e alimentar as mídias sociais e encaminhar a produção de materiais.
Ao concluirmos esta carta, reafirmamos que acreditamos neste encontro inter-obediencial como espaço único de entreajuda, unidade e protagonismo do irmão leigo franciscano.
Pedimos as bênçãos da Nossa Senhora da Penha para que continuemos fiéis à nossa vocação, seguindo os passos de Jesus como irmãos menores.
Vila Velha (ES), 10 de setembro de 2017.
Fonte: http://www.franciscanos.org.br/?p=140770