Lendo e meditando a Palavra de Deus, descobri São José como o santo da vida interior. Interioridade. Quando lemos o anúncio do Anjo a José Mt 1, 18-20. 24-25 “José, filho de Davi, não tenhas receio em receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo […] Quando José despertou do sono fez o que o anjo do Senhor tinha ordenado”. Tal como a Maria, Deus fala com José e ele acolhe e obedece sem questionar.
Na Fuga para o Egito, Mt 2, 13-15, dá-se o mesmo. José escuta a voz de Deus, levanta à noite e enfrenta todos os perigos possíveis para salvar a vida do Filho de Deus. Da mesma forma, acolhe a voz de Deus para voltar a Nazaré.
José acolhe o projeto de Deus ao lado de Maria e pelas leis do Império, do recenseamento, vai percebendo a vontade do Pai. Cumprindo as leis judaicas, apresenta Jesus ao Templo para a circuncisão e Maria para a purificação. Depois aos 12 anos de Jesus também vai a Jerusalém.
José não fala no texto bíblico, mas é presença forte, presença de pai amoroso, pai na obediência, pai do acolhimento, pai trabalhador, pai na ternura, pai amado, pai de coragem criativa, como o denomina o Papa Francisco em sua carta “Com coração de Pai”, de 8 de dezembro de 2020.
Costumamos olhar para São José como o esposo de Maria, o pai adotivo de Jesus, o santo da Divina Providencia, o protetor dos trabalhadores, o padroeiro da Igreja Católica, o padroeiro dos agonizantes. Mas para sinalizar todas essas realidades, José é um santo que soube escutar a voz de Deus em contínuo e fazer a sua vontade. E para isso, cultivou a interioridade, ou seja, a presença contínua de Deus.
Para cumprir a missão que o Senhor lhe confiou, José recebeu muitas revelações, talvez tantas quanto Maria. E ele soube perceber a hora de Deus na vida do Filho Jesus e seguir os apelos que lhe foram feitos em sonhos e nos acontecimentos. E para perceber e seguir a voz de Deus foi preciso uma grande interioridade, ou seja, foco para escutar a voz do Espírito na missão de proteger a Sagrada Família, Jesus e Maria. Poderíamos sintetizar a vida de José no cuidado da vida de Jesus.
O Papa Francisco publicou a Carta Apostólica Patris corde (coração de pai), em 8 de dezembro de 2020, nos 150 anos da declaração de São José como Padroeiro da Igreja Católica, pelo Beato Pio IX, feita em 8 de dezembro de 1870. Em sua Carta, o Papa assim define a missão de São José: “Com coração de pai: assim José amou a Jesus, designado nos quatro Evangelhos como ‘o filho de José’” (Lc 4,22). Ele é uma figura extraordinária, tão próxima da condição humana, de cada um de nós. São José, um santo do silêncio comparado, por Francisco, às pessoas que fazem o bem no anonimato, o que é percebido, sobretudo nos momentos de crise.
Nesses momentos experimentamos como “as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns, habitualmente esquecidas, que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, escrevendo os acontecimentos decisivos da nossa história”, diz o Papa na carta. Essas pessoas podem ser comparadas a São José, um santo do silêncio, que realizou o projeto de Deus porque se manteve na sua presença. Se pensarmos bem, José viveu de forma concreta e consciente ao lado de Maria e de Jesus no dia a dia, sem nada de extraordinário.
O Papa também diz que todos podem encontrar em São José – o homem que passa despercebido, o homem da presença cotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e uma guia nos momentos de dificuldade. Ele nos lembra que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo incomparável na história da salvação.
Toda essa trajetória de José deve-se a uma grande interioridade. Em sua vida atribulada e cheia de provações, ele soube viver na presença de Deus escutando a sua voz, em sonhos ou nos acontecimentos cotidianos, nas prescrições das leis civis e religiosas, Deus foi revelando o projeto sobre ele no cuidado do Filho de Deus e de Maria.
Fonte: Vatican News