Fala-se muito que este período longo de pandemia está gerando um “Novo Normal”. Outros estão esperando que “tudo volte ao normal”. Mas o que seria algo normal? Esta questão reuniu os autores da obra, para provocações e reflexões sobre quatro temas que nos ocupam e preocupam nesta época. Gustavo Barcellos (psicólogo) reflete sobre a temática do si-mesmo no impacto desta época; Luciano A. Meira (desenvolvimento humano e corporativo) apresenta a questão da liderança no contexto da pandemia; Luís Mauro S. Martino (comunicação e ciências sociais) coloca-se a pergunta sobre os relacionamentos sociais neste momento que estamos vivendo e Volney J. Berkenbrock (teólogo) reflete sobre este momento relacionado às cinco formas de sentir o tempo.
Desde o mês de março de 2020 vivemos uma situação nunca dantes por nós experimentada – nem pessoal e socialmente. As medidas impostas pela pandemia mudaram as rotinas de praticamente toda a população e um dos elementos-chave nesta mudança foi a relação com o tempo. Todos tivemos que nos adaptar (não sem problemas) a novas formas de viver nosso tempo. Esta constatação levou a refletir sobre as cinco formas que temos de experimentar o tempo. Todas são simultâneas, mas geram em nós experiências, necessidades e reações diferentes.
Há o tempo cronológico, aquele contado pelo calendário e pelo relógio, que no mais das vezes é experimentado como implacável e que não nos dá trégua. À luz do mito grego do deus Crono, explora-se no livro detalhes diversos desta forma de sentir o tempo. Há também o tempo kairológico, o tempo das oportunidades, daquelas que vêm e passam rapidamente. Diz o mito grego de Kairós, que ele tem uma mecha de cabelo na testa, mas é careca na parte de trás da cabeça: a oportunidade precisa ser agarrada quando aparece; depois que ela passa, não há sentido querer agarrar pela careca. O tempo da pandemia também está sendo experimentado como Kairós: oportunidades que apareceram, oportunidades que não foram aproveitadas. A outra forma de experimentar o tempo, é a aiônica. Aíon seria na mitologia grega o filho mais novo de Zeus, um jovem que fica girando a roda do tempo e assim vai ficando velho e ao continuar a girar o tempo, rejuvenesce novamente. O tempo aiônico é a experiência do tempo como espaço de renovação, que assume o passado, sem renega-lo, nem esquecê-lo, mas integrando-o dentro do momento presente e em vista do futuro. Concomitantemente, não vivemos sozinhos em nosso tempo. Mas, de quem somos contemporâneos? Há também uma forma cultural de experimentar o tempo: sentimos que somos contemporâneos de muitos, mas também sentimos não sermos contemporâneos de muitos outros. Estes nos parecem viver e defender ideias de outro tempo. Esta é a maneira sintópica ou distópica de percepção do tempo. Esta experiência de tempo nos tem trazido inclusive muito dissabores sociais, políticos, religiosos. E há ideais e convicções que não estão sujeitos ao passar do tempo, sobre os quais entendemos e sentimos serem atemporais, válidos em todos os tempos, que surgiram in illo tempore e irão perdurar per saecula saeculorum. É a experiência do tempo mítico.
O capítulo sobre o tempo, na obra “Novo Normal?” reflete sobre estas cinco percepções de tempo, atualizando-as para este período de pandemia e sugerindo uma sabedoria específica para lidar com cada forma de sentir o tempo. Assim, para o tempo cronológico, a sabedoria racional; para o tempo kairológico, a sabedoria da sensibilidade; para o tempo aiônico, a sabedoria reflexiva; para o tempo sintópico/distópico, a sabedoria cultural; e para o tempo mítico, a sabedoria ancestral.
Por Frei Volney J. Berkenbrock
O lançamento, com a participação dos autores, será no dia 13 de novembro, às 19 horas, pelo youtube.com/editoravozes
Fonte: Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil