Nos dias 8 e 9 de novembro de 2025, o Dr. Alfredo Culleton conduziu uma reflexão sobre o tema “O acompanhamento pessoal: ferramentas de escuta na dinâmica da formação”, que seguirá em continuidade até o dia 10, dia do término da etapa final do curso de Formação para Formadores.
A proposta integra diferentes olhares — filosofia, psicanálise, teologia e arte — para mostrar que escutar é um ato essencial na construção de identidades e na transformação pessoal e social.
O encontro foi organizado a partir da metodologia “ver, julgar, agir”. Primeiro, olhou-se a realidade e seus desafios (ver). Em seguida, aprofundaram-se referências e fundamentos, como os ensinamentos de Santo Agostinho (julgar). Por fim, o foco se voltou para práticas concretas de escuta, incluindo perspectivas da clínica psicanalítica (agir). Assim, ficou evidente que a escuta verdadeira precisa gerar movimento, ética e cuidado.
Ao longo das reflexões, o Alfredo destacou que o acompanhamento pessoal é, antes de tudo, um exercício de hospitalidade linguística. É criar um espaço seguro onde a pessoa possa dizer de si, reconhecer-se e ressignificar a própria história.
Em meio a tantos ruídos que nos atravessam diariamente, escutar com atenção e amor é mais do que um método formativo: é um gesto de justiça, uma forma de acolhimento e uma semente de paz que lançamos no coração do mundo.
No dia 9, Alfredo aprofundou o tema do acompanhamento pessoal a partir das tradições agostiniana e franciscana, destacando que a escuta é o eixo central da formação humana e comunitária. Além de apresentar técnicas, o assessor evidenciou que não existe acompanhamento verdadeiro sem uma escuta profunda, corajosa e transformadora.
Desde o início, a reflexão indicou que escutar vai além do simples ato fisiológico de ouvir sons. Inspirado pelo mandamento bíblico “Ouve, Israel”, o assessor destacou a escuta como um gesto de abertura e disponibilidade: um convite para deixar-se tocar, deslocar e aprender. Para ilustrar, utilizou a imagem de “experimentar novos alimentos”, mostrando que ouvir o outro demanda disposição para acolher o desconhecido e maturidade para digerir o que desafia nossas certezas.
A tendência de buscar apenas aquilo que confirma nossas ideias, como demonstrado no episódio dos judeus que ouviam Jesus de forma parcial, foi apresentada como um dos principais obstáculos ao crescimento. Formar-se é permitir que a escuta abra espaço para o novo, como quem prepara o solo para a semente germinar.
A tradição francisclariana, marcada pelo valor do afeto, trouxe uma importante contribuição ao tema. O afeto não se confunde com sentimentalismo, mas com a capacidade de ser verdadeiramente impactado pela palavra do outro. É dessa escuta afetiva que nascem vínculos, sentido de fraternidade e uma experiência viva da pobreza evangélica. A busca por Deus — e por significado — é, assim, uma caminhada que envolve questionamentos, perdas e renovações constantes, comparável ao processo de um novo nascimento.
Em um tempo marcado por ruídos, dispersão e palavras vazias, a proposta apresentada é clara: formar não é acumular informações, mas permitir-se ser transformado. A escuta é o ponto de partida dessa transformação: escutar o outro em sua verdade, escutar as Escrituras em profundidade, escutar a si mesmo no silêncio e escutar a vida com humildade.
Ao final, ficou evidente que a escuta é a ferramenta essencial do acompanhamento pessoal. Uma escuta enraizada no afeto, que se torna gesto, cuidado e ação. Uma escuta que constrói e reconstrói, tanto quem escuta quanto quem é escutado.
Texto: Irmã Maria Tatiana Coelho
Revisão: SERCOM CFFB