Frei Éderson Queiroz, Frade Capuchinho
No final da semana passada apedrejaram a travesti Bianca, de 19 anos, natural de Carmo do Paranaíba, próximo Ao Terminal Rodoviário. Seu estado de saúde é gravíssimo, com traumatismo craniano. Recuperando, não se sabe que tipo de sequelas terá, pois o sangramento foi muito grande.
As travestis são homens, que se sentem mulheres e vestem assim, por isso do nome: travesti! Na nomenclatura GLBTTI (gays, lésbicas, bi sexuais, travesti, transgêneros, intersex) é o grupo mais fragilizado.
Muitas são profissionais do sexo, por não encontrarem na sociedade acolhida e trabalho. E viver da atividade sexual, para um grande número delas, é extremamente dolorido e degradante. Mas, é a forma que encontram para sobreviver.
Estão sempre a margem da sociedade. Moram em repúblicas, e aí encontram um jeito de convivência grupal.
Na terça feira, dia 26/9 haverá, na Câmara Municipal, no Grande Expediente, a fala da travesti Ana Paula. Dr Ari apresentará o projeto para regularizar o nome social e de uma coordenação para a saúde GLBTTI, na secretária de saúde.
Os desafios para tratar deste assunto hoje, são enormes, pois, vivemos um tempo de intolerância com as diferenças. Mas, ali, não estão apenas uma travesti, está uma pessoa humana, filha de Deus, necessitada de acolhimento e compaixão. É muito fácil julgar e até condenar, quando estamos acomodados em nossa zona de conforto.
Todavia, a homoafetividade é muito mais próxima de nós do que pensamos. Na sua família, um filho, um sobrinho, um familiar, um amigo… Mas, o preconceito, o machismo e a falta de conhecimento científico, bíblico, religioso nos fazem julgadores por natureza.
O número de suicídios nesta população é enorme, justamente por ser uma realidade conflitiva em nossa sociedade.
Uma Igreja em saída, Hospital em campo de guerra, misericordiosa, é o que nos pede o Papa Francisco. Inúmeras vezes, ele tem dito: “aproximar, acolher, ouvir”… Deixe a dor do outro chegar ao seu coração.
Fui à casa de Ana Paula, convidei-me para almoçar com elas. Tinha uma grupo de 8 travestis e pessoas amigas. O almoço foi a possibilidade de nos sentarmos e conversar. Quanta surpresa. Para elas a visita de um padre era inédito, quase que impossível de acontecer, ainda mais que eu mesmo me ofereci para almoçar. Ali, desarmado, sem nenhuma pretensão de estar com a verdade, fui entendendo o mundo delas.
Portanto, o contato com as travestis me fez melhor, me possibilitou olhar o mundo para além do meu quintal, alargou meu coração. Por isso, este texto é intitulado: o padre, a travesti e o amor!
Fonte: https://www.patrocinioonline.com.br/noticia/artigo-o-padre-a-travesti-e-o-amor-20498.html
Padre também chora…
Hoje, pude chorar, depois de dois dias com febre, sem nenhuma infecção aparente. O caso da Bianca, a travesti apedrejada em Patrocínio, seu corpo estirado num leito da UTI, os boletins médicos dizendo da gravidade do traumatismo craniano, seu futuro, se haverá futuro, sua mãe inconsolável…
Meu Deus!!! O amor me torna frágil, por ele a dor do outro invade a minha alma. Ainda não encontrei uma vacina para este mal, não sei se lamento ou agradeço. Será um mal ou um bem, ainda não sei, só sei que não quero mudar isso em mim, tenho medo de virar estátua. Perguntas sem respostas teimam em se fazer presentes em minha mente, deixando meu coração em frangalhos.
A indiferença da sociedade, as religiões preocupadas com a pureza do culto sem se deixar tocar pelas impurezas dos filhos de Deus, a hipocrisia moradora na vida de muitos, quanta dor. O silêncio ensurdecedor dos que vestem o mesmo hábito, o hábito santo de Francisco de Assis, o homem dos leprosos e seus filhos preocupados com a beleza dos conventos, conventos frios e sem humanidade. A indiferença dos que foram constituídos ministros da misericórdia, sem Misericórdia. E um corpo, uma vida, uma pessoa, num leito, num mundo que deveria ser um leito de amor e não de dor.
Afinal, há dois dias estou com febre, sem nenhuma infecção aparente, mas o que tenho não é uma infeção no corpo e sim na alma. A infecção do mundo, da sociedade hipócrita, da indiferença social, da perversidade humana, da igreja preocupada com a sacristia, foi forte demais para a pureza da minha alma, meu corpo rendeu-se, eu deitei e chorei…. Há uma só consolação: Jesus também chorou…