Padre Piloni: com a doçura da alma se freia a cultura do descarte

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A reflexão hodierna do padre Francesco Piloni inspira-se no episódio do encontro com o leproso narrado por São Boaventura de Bagnoregio, na Legenda Maior. Para entender melhor o ocorrido, segundo o ministro Provincial dos Frades Menores da Úmbria e da Sardenha, é necessário partir do pressuposto daquilo que o próprio Francisco afirma no início de sua Regra, ou seja, que antes de sua conversão “parecia algo muito amargo ver os leprosos” (FF, 110). Mas essa repugnância se transformou em “doçura de alma”. Do “choque” com uma realidade que causa medo e repulsa – comenta Pe. Piloni – passamos a um “encontro feliz”.

Na sociedade medieval, esses homens eram considerados párias, pessoas a serem marginalizadas. Confinados em leprosários, em locais de extrema solidão, viviam distante das cidades. Mas o pobrezinho escolheu se tornar um soldado de Cristo. E, portanto, deve “vencer a si mesmo” e deve descer do cavalo. (FF, 1034) Deve repensar seu comportamento, não deve “fugir”. Nessas feridas se esconde Cristo e Francisco começa a compreender isso.

Padre Piloni relê atentamente a turbulência interior vivida pelo Santo que, no final, “decide com base no que pensa, não no que sente”. Sua escolha de encontrar aquele homem, de abraçá-lo, não está subordinada a uma “reação” imediata e natural. Ele percebe que por trás daquela lepra pode haver uma “pérola” e que, portanto, pode ser uma ocasião privilegiada de Graça: é a “Santa Cruz” por meio da qual acontece a redenção (FF, 111). Naquela “ferida” da Criação, naquele sofrimento, existe um tesouro escondido.

Em 2013, dirigindo-se aos convidados do Instituto Seráfico de Assis, o Papa Francisco recordou que “no altar adoramos a Carne de Jesus” e nestes pobres e sofredores podemos encontrar “as chagas de Jesus” e essas chagas “têm necessidade de serem ouvidas”. Uma escuta constante, difícil, aquela indicada pelo Papa, e que não é fugaz. Trata-se de uma “relação” a ser cuidada e procurada, é uma questão de “acolher” e não “descartar”, ao contrário do que propõe a cultura dominante.

Devemos cultivar aquela “doçura de alma” conquistada por Francisco de Assis e da qual fala no início da Regra. Só com esse esforço, com essa “nova mentalidade”, afirma o padre Piloni, podemos evitar que nossos sentimentos adoeçam e adotar comportamentos malsucedidos.

O leproso fez de modo que o pobre obtivesse uma “sabedoria das profundezas”, prestou um precioso serviço ao Santo de Assis. Assim, olhando para o cotidiano de cada um, o franciscano medita sobre as impossibilidades necessárias que levam a uma vida nova. «O Salmo 84 – conclui – fala do vale das lágrimas que, se o atravessarmos, transforma-se em uma nova fonte de vida e dá novo vigor ao caminho”.

Fonte: Vatican News

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