Queridos irmãos e irmãs, PAZ e BEM!
Com alegria, celebramos neste dia a Solenidade do nosso Seráfico Pai, São Francisco Assis.
Partilhamos com todos os amantes do Poverello de Assis por meio de nossos meios de comunicação e redes sociais, uma reflexão para este dia festivo.
A todos uma boa leitura e um Feliz dia de São Francisco de Assis!
Equipe de Comunicação
INTRODUÇÃO
No século XIII, um período marcado por transformações sociais, políticas e principalmente religiosas, surgiu, em 1181 ou 1182, São Francisco de Assis. O Santo emergiu como uma figura singular e extraordinária em meio a esse contexto, desafiando as normas da sociedade de sua época.
Nascido em uma família abastada, Francisco escolheu uma vida de radical simplicidade e dedicação ao serviço dos pobres, inspirado por uma profunda experiência de fé. O contexto medieval, permeado por desigualdades sociais e conflitos, fornece o cenário no qual a espiritualidade Cristocêntrica de São Francisco se desenvolveu. Sua decisão de renunciar à riqueza e abraçar a pobreza, inspirada por uma experiência espiritual profunda, desafiou as estruturas tradicionais da sociedade e da Igreja. Nesse período, a Igreja Católica desempenhava um papel central na vida das pessoas, e as práticas religiosas eram fundamentais na busca de sentido e salvação.
Ao alvorecer do século XIII, começava a esfacelar-se a unidade do Império Germânico e entrava em crise a contextura feudal da sociedade. Na Itália e nas regiões da Europa abertas ao tráfego marítimo, surgia uma nova força, debatendo-se contra essas duas instituições medievais: a comuna. Era constituída pela nova classe social dos artesãos e comerciantes, com uma nova dinâmica urbana de tendência democrática, com uma nova economia monetária, com sua mobilidade oposta à estabilidade latifundiária e, também, com novos delineamentos éticos e novas exigências religiosas. Para além dos Alpes, despertavam as novas nacionalidades de aspirações incompatíveis com a unidade da civitas christiana. O choque entre papado e império, expoentes máximos daquela unidade, seria para ela, ainda no século XIII, o golpe de misericórdia. (IRIARTE, 1985, p. 33).
A espiritualidade centrada em Cristo não é apenas uma expressão teológica, mas uma abordagem de vida que influencia gerações. A escolha de São Francisco como objeto de estudo destaca-se pela sua notável influência na história cristã e na devoção popular. A busca por uma compreensão mais profunda da espiritualidade Cristocêntrica não apenas lança luz sobre a vida e obra de São Francisco, mas também oferece testemunho valiosos para os desafios espirituais contemporâneos, pois como o biógrafo do Santo, Donald Spoto identifica que “Francisco […] trouxe o acontecimento do passado de Jesus para o presente das pessoas comuns em lugares comuns, aproximando todos a Deus.” (SPOTO, 2010, p. 292).
Em um mundo permeado por complexidades éticas, sociais, ambientais e secularizado no sentido de uma busca do transcendente por meio de Cristo, a espiritualidade Cristocêntrica de São Francisco pode servir como uma fonte de inspiração e orientação para os que buscam uma abordagem autêntica da vida cristã, pois, como escreveu Frei Hermógenes Harada, “São Francisco colocou como vigência na sua vida o amor fraterno, princípio vitalizador, coordenador e gerenciador de todas as ações e estruturações institucionais da sua comunidade. E chamou todos de irmãos ou companheiros da mesma busca: a nova humanidade na ‘Ternura e Vigor’ da Boa Nova de um Deus cujo amor o fez humano e o fez habitar entre nós.” (HARADA, 2016, p. 344).
Nas convicções e práticas de Francisco, por meio da Espiritualidade Cristocêntrica, vemos especificamente sua busca do Cristo Encarnado, Crucificado e Eucarístico, pois refletiram e desafiaram o pensamento dos fiéis e da Igreja ao longo do tempo. Não importa se denominamos esse princípio de cristão ou não, de franciscano ou não, o que importa é que o assimilemos, dele gostemos, e o realizemos, cada qual no seu determinado posto e trabalho, juntamente de todos que sob diferentes denominações e mundividências se empenham em transformar essa espiritualidade Cristocêntrica em aprendizagem da vida.
SÃO FRANCISCO DE ASSIS
No século XIII, São Francisco surgiu como uma figura singular, forjando seu destino em meio a uma Itália dilacerada por conflitos políticos e marcada pela influência onipresente da Igreja Católica. Nascido em uma família rica, sua jornada inicialmente delineada para a glória militar, em 1205, toma uma reviravolta profunda após alguns encontros que para ele foram impactantes no discernimento daquilo que Deus queria para sua vida, como por exemplo, um sonho que teve com o Senhor, ao falar com o Cristo na Cruz da Igrejinha de São Damião, o encontro e o ósculo dado a um leproso.
Na vida de Francisco, destacamos sua decisão radical de renunciar às riquezas e fundar a Ordem dos Franciscanos, uma comunidade comprometida com a simplicidade e o serviço aos desfavorecidos pela causa do Evangelho de Cristo, que torna o centro de sua vida e “o momento essencial, aquele em que todos estão concordes em fixar o nascimento da Ordem franciscana, situa-se no dia em que Francisco ouviu a leitura da passagem do Evangelho relativa ao envio dos Apóstolos para a missão.” (DESBONNETS, 1987, p. 18).
Em um período onde a fé cristã permeia a vida cotidiana, mas também enfrenta desafios internos, Francisco surge como um visionário: anunciando a paz, respeitando a natureza e de uma espiritualidade autêntica e renovada. Eis o relato de Juliano de Spira, um de seus biógrafos:
Terminado o trabalho [de reconstrução] de três igrejas, o bem-aventurado Francisco vestia ainda o hábito eremítico, em uso naquele tempo, tinha na mão um cajado, os pés calçados e um cinto de couro. Um dia, porém, durante a celebração da missa, ouviu as palavras que, no Evangelho, Cristo dirigiu aos discípulos, enviados a pregar, isto é, que não deviam possuir nem ouro, nem prata, nem alforje para o caminho, nem sacola, nem carregar bastão ou pão, nem calçados e nem ter duas túnicas (Mt 10,9-10; Mc 6,8-9); compreendendo-as, depois que o próprio sacerdote lhes explicou com exatidão, cheio de indizível alegria exclamou: ‘Isso é o que procuro, isso é o que desejo de todo o coração!’ Então, depois de fixar na memória as coisas que ouvira, alegremente começou a pô-las em prática: depôs logo as coisas em duplicata, não usou mais bordão, nem calçados, nem sacola de viagem e nem bolsa. Fez uma túnica muito desprezível e grosseira, jogou fora o cinto de couro e amarrou-a com uma corda. (FONTES FRANCISCANAS, 2004, p. 513).
Seu legado, atemporal, ultrapassa as complexidades da Idade Média, tornando-se um farol de amor, humildade e respeito pela Criação divina. Este prólogo convida a explorar mais profundamente a vida de São Francisco, cuja influência ecoa até os dias de hoje, moldando valores universais e inspirando corações na busca por uma conexão mais significativa com a espiritualidade e a compaixão.
É importante salientar que Francisco em seu Testamento deixa claro que o Senhor lhe revela o modo de viver e, a forma, é o Evangelho de Cristo: “E depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me mostrou o que deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu deveria viver segundo a forma do santo Evangelho. E eu o fiz escrever com poucas palavras e de modo simples, e o senhor Papa mo confirmou.” (FONTES FRANCISCANAS, 2004, p.189)
CONTEXTUALIZAÇÃO
Francisco “fala à profundidade mais arcaica da alma moderna, porque há um Francisco de Assis escondido dentro de cada um, forcejando por assomar e expandir-se livremente por entre os antolhos da modernidade.” (BOFF, 2005, p. 32).
A Itália do século XIII era marcada por disputas territoriais entre cidades-estados independentes, Assis não era exceção. Guerras e conflitos eram comuns, e a busca por poder e riqueza moldava a paisagem política. Nesse cenário, Francisco cresceu em uma família burguesa, seu pai um próspero comerciante e ele, inicialmente, aspirando a uma vida de cavaleiro e glória militar.
A cultura medieval era essencialmente influenciada pela Igreja Católica, sendo esta a principal instituição unificadora. No entanto, o renascimento comercial e urbano começava a moldar novas formas de pensar. A ascensão da burguesia e o crescimento das cidades trouxeram consigo mudanças nas estruturas sociais e econômicas. O povo estava passando por uma grande transformação social que o prejudicavam, dentro de um sistema desumano, com isso, “a luta pela vida, o trabalho, a exploração fizeram das classes populares os guardiães daqueles valores de que tanto sentimos falta: a hospitalidade, a cordialidade, a colaboração, a solidariedade, o sentido de respeito pelo sagrado de Deus.” (BOFF, 2005, p. 32).
No entanto, a Igreja enfrentava desafios internos, incluindo a decadência moral de alguns de seus líderes. Nesse contexto, Francisco buscava uma fé mais autêntica e uma relação direta com Deus e se esforçava para que a moral da Igreja fosse retomada, resgatando o valor do sacerdócio e “queria que fosse mostrada grande reverência às mãos do sacerdote, às quais fora conferido o poder tão divino de realizá-lo. Dizia frequentemente: ‘Se me acontecesse encontrar ao mesmo tempo um santo que vem do céu (cf. Jo 3,31) e um sacerdote pobrezinho, eu prestaria honra (cf. Rm 12,10) primeiramente ao presbítero e me apressaria para beijar-lhe as mãos. Eu diria: Oi, espera-me, São Lourenço! Pois as mãos dele tocam o Verbo da vida (cf. 1Jo 1,1) e possuem algo sobre-humano’” (FONTES FRANCISCANAS, 2004, p.426).
Seu encontro com um leproso, uma experiência que o transformou, simboliza a virada em sua busca espiritual e foi um fato catalisador para a vivida transformação interior de Francisco. Ele renunciou às riquezas materiais, rompeu com a sociedade hierárquica e militarizada de sua época. Abraçou uma vida de simplicidade, humildade e serviço aos pobres, fundou a Ordem dos Frades Menores, conhecidos como franciscanos, cujo carisma era viver o Evangelho na sua forma mais primitiva.
Francisco, a partir da audaciosa pergunta: ‘Senhor, que queres que eu faça?’ (6,7) não cessa de estudar, procurar, pedir e suplicar ao Senhor que lhe seja revelado o plano de sua realização e salvação, ou seja, o empreendimento que o tornaria e faria cavaleiro do Senhor dos senhores. A partir de então, nada mais tem de pronto, claro e definido. Tudo precisa ser procurado e buscado novamente. Agora não é mais uma pergunta que Francisco se faz. Ele próprio tornara-se um corpo de questionamento, de busca. Era todo inteiro uma só e única pergunta: o que fazer e a quem servir? (FASSINI, 2016, p. 79).
O legado de Francisco é vasto e atemporal. Ele desafiou as estruturas sociais e religiosas da sua época, proclamando a paz, amando a natureza e todos os seres criados. Suas atitudes ecoam até os dias de hoje, inspirando não apenas os franciscanos, mas todos os que buscam uma espiritualidade autêntica e uma vida de compaixão.
Em um mundo marcado por tumultos, São Francisco de Assis permanece como um ícone de amor, humildade e cuidado pela criação. Sua vida, forjada no contexto complexo do século XIII, atravessa as barreiras do tempo e apresenta valores universais que ele abraçou. Francisco de Assis, o Poverello, o Irmão Universal, continua a ser uma luz guia em nossa jornada.
IDENTIFICAÇÃO COM O CRISTO
Na essência da espiritualidade franciscana, encontramos a identificação de Francisco de Assis com Cristo Jesus. A narrativa da fala do Crucificado de São Damião é entrelaçada com uma devoção intensa e uma busca incessante por imitar o Mestre, uma jornada marcada por amor incondicional e uma identificação autêntica.
Já transformado perfeitamente no coração, devendo em breve transformar-se totalmente também no corpo, num certo dia, anda perto da igreja de São Damião que estava quase em ruínas e abandonada por todos. Conduzindo-o o espírito (cf. Mt 4,1), ao entrar nela para rezar, prosternando-se suplicante e devoto diante do Crucificado e tocado por visitações insólitas, sente-se diferente do que entrara. Imediatamente, a imagem do Cristo crucificado, movendo os lábios da pintura, o que é inaudito desde séculos (cf. Jo 9,32), fala-lhe, enquanto ele estava assim comovido. Chamando-o, pois, pelo nome (cf. Is 40,26), diz: ‘Francisco, vai e restaura minha casa que, como vês, está toda destruída’. Francisco, a tremer, fica não pouco estupefato e torna-se como que fora de si com esta palavra. Prepara-se para obedecer, entrega-se totalmente ao mandato. (FONTES FRANCISCANAS, 2004, p. 307).
Sua decisão de “reconstruir a Igreja” não era meramente uma restauração física, mas uma busca pela renovação espiritual, ecoando os passos do Mestre que chamou seus seguidores para reconstruir a comunidade cristã. Assim como Francisco, inspirado por sua devoção a Cristo, renunciou à riqueza para seguir os passos do Mestre, ‘reconstruir a Igreja’ tornou-se uma jornada espiritual profunda.
Desde os primórdios de sua conversão radical, Francisco demonstrou uma afinidade única com a vida e os ensinamentos de Jesus. Inspirado por um leproso que desafiou sua percepção de compaixão, Francisco abraçou uma pobreza radical, refletindo o despojamento de Cristo.
[…] ao cavalgar nas cercanias de Assis, encontrou um leproso. E porque se acostumara a ter muito horror de leprosos, fazendo violência a si mesmo, desceu do cavalo e ofereceu-lhe uma moeda, beijando-lhe a mão. E, depois de ter recebido do mesmo [leproso] o ósculo da paz, montou novamente em seu cavalo e prosseguiu seu caminho. A partir de então, começou cada vez mais a desprezar a si mesmo até chegar de maneira perfeita, pela graça de Deus, à vitória sobre si. (FONTES FRANCISCANAS, 2004, p. 797).
No seu Testamento, Francisco confirma tal fato e rende graças ao Senhor que lhe concede muitos bens, dos quais aprende com o leproso o dom do amor e da pobreza em Cristo:
Foi assim que o Senhor concedeu a mim, Frei Francisco, começar a fazer penitência: como eu estivesse em pecados, parecia-me sobremaneira amargo ver leprosos. E o próprio Senhor me conduziu entre eles, e fiz misericórdia com eles. E afastando-me deles, aquilo que me parecia amargo se me converteu em doçura de alma e de corpo; e, depois, demorei só um pouco e saí do mundo. (FONTES FRANCISCANAS, 2004, p. 188).
A identificação de São Francisco de Assis com Cristo deixou um legado duradouro na espiritualidade cristã. Sua busca pela imitação do Cristo não apenas inspirou a Ordem Franciscana, mas influenciou inúmeras almas sedentas por uma conexão mais profunda com o divino. Francisco, como um apaixonado por Cristo, continua a ressoar na espiritualidade cristã, inspirando a busca amorosa D’aquele que é a fonte de toda vida e redenção.
Sua intensa meditação sobre a Paixão de Cristo o levou a experimentar, de maneira misteriosa, os estigmas, as chagas de Jesus, em seu próprio corpo. Essa manifestação física da união com a Paixão de Cristo não apenas confirmou a devoção de Francisco, mas também destacou a dimensão mística dessa conexão. De maneira misteriosa, compartilhou as chagas de Jesus, evidenciando sua união íntima com a paixão e o sofrimento redentor do Senhor.
Essa identificação, estendeu-se além da esfera humana para abranger toda a criação. Seu “Cântico do Irmão Sol”, uma rica expressão poética, é uma contemplação dos vestígios divino em cada elemento da natureza. Nesse Cântico, Francisco via o Cristo cósmico refletido nas flores, no sol, na lua e em todos os seres vivos, uma visão que ecoa o entendimento bíblico do Senhor como o princípio e o fim de todas as coisas.
Altíssimo, onipotente, bom Senhor, teus são o louvor, a glória e a honra e toda bênção (cf. Ap 4,9.11). Somente a ti, ó Altíssimo, eles convêm, e homem algum é digno de mencionar-te. Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas (cf. Tb 8,7), especialmente o senhor irmão sol, o qual é dia, e por ele nos iluminas. E ele é belo e radiante com grande esplendor, de ti, Altíssimo, traz o significado. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas (cf. Sl 148,3), no céu as formaste claras e preciosas e belas. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento, e pelo ar e pelas nuvens e pelo sereno e por todo tempo, pelo qual às tuas criaturas dás sustento. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água (cf. Sl 148,4.5), que é muito útil e humilde e preciosa e casta. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo (cf. Dn 3,66), pelo qual iluminas a noite (cf. Sl 77,14), e ele é belo e agradável e robusto e forte. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa, a mãe terra (cf. Dn 3,74), que nos sustenta e governa e produz diversos frutos com coloridas flores e ervas (cf. Sl 103,13.14). Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam (cf. Mt 6,12) pelo teu amor, e suportam enfermidade e tribulação. Bem-aventurados aqueles que as suportarem em paz porque por ti, Altíssimo, serão coroados. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa, a morte corporal, da qual nenhum homem vivente pode escapar. Ai daqueles que morrerem em pecado mortal: bem-aventurados os que ela encontrar na tua santíssima vontade, porque a morte segunda (cf. Ap 2,11; 20,6) não lhes fará mal. Louvai e bendizei ao meu Senhor (cf. Dn 3,85), e rendei-lhe graças e servi-o com grande humildade. (FONTES FRANCISCANAS, 2004, p. 104).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao percorrer os caminhos múltiplos da vida de São Francisco de Assis, torna-se inegável a imersão profunda do santo na devoção a Cristo Jesus. Nessa jornada espiritual extraordinária, os elementos emergem como fios entrelaçados, tecendo a trama de uma Cristocentricidade que transcende o tempo e ecoa como um testemunho perene de amor e devoção.
A vida de São Francisco de Assis é intrinsecamente entrelaçada com uma profunda devoção a Cristo Jesus, que, refletem nos três elementos cruciais que marcaram sua jornada espiritual: No Presépio, Francisco encontrou a simplicidade e a humildade, no Natal do Menino Jesus. Nos Estigmas, experimentou de forma mística as chagas do Mestre, Pobre e Crucificado Jesus, revelando uma identificação visceral com a Paixão redentora. Na Eucaristia, Francisco viu a presença real do Corpo e Sangue de Cristo, alimentando sua alma e reforçando a comunhão íntima com o Divino. Estes três elementos, alicerçam a experiência de Francisco, revelam uma sincera Cristocentricidade que iluminam a história, ecoando como testemunho do amor e devoção deste santo singular.
Primeiramente, no Presépio, Francisco encontrou mais do que a representação singela do Natal. Ali, vislumbrou a simplicidade desarmante do Menino Jesus, uma humildade que ressoava com sua própria busca por uma vida despojada de adornos mundanos. O Presépio tornou-se o portal para a essência do Evangelho, no qual a grandeza se manifestava na humildade, e a divindade, na ternura de um recém-nascido.
Nos Estigmas, Francisco encarnou os limites da experiência humana, unindo-se misticamente às chagas de Jesus, o Pobre e Crucificado. Essa identificação visceral com a Paixão redentora não apenas marcou sua carne, mas também revelou a importância de sua entrega ao serviço e à compaixão. Nos Estigmas, a espiritualidade franciscana alcançou o ápice da comunhão com o sofrimento redentor do Salvador.
Finalmente, na Eucaristia, Francisco vislumbrou a presença real do Corpo e Sangue de Cristo. Esse sacramento, além de um ato litúrgico, era também fonte inesgotável de nutrição espiritual, alimentando sua alma e fortalecendo a comunhão íntima com o Divino. A mesa da Eucaristia tornou-se um altar de encontro constante, onde Francisco se entregava em adoração e se renovava na presença viva do Senhor.
Os elementos, ou melhor, “os três amores” da vida de São Francisco, não são simples narrativas de um passado distante, mas lições perenes de uma Cristocentricidade viva. A simplicidade do Presépio, a entrega nos Estigmas e a comunhão na Eucaristia ecoam como convites eternos para uma vida moldada pela imitação de Cristo. São Francisco de Assis, com sua singularidade, torna-se um farol que orienta não apenas os franciscanos, mas todos os que procuram a verdade evangélica.
Neste testemunho luminoso, a vida de São Francisco ressoa como um eco eterno do chamado de Cristo para uma vida de amor, humildade e serviço. Que a Cristocentricidade que marcou a jornada deste santo singular possa continuar a inspirar gerações, iluminando o caminho daqueles que buscam viver a mensagem do Evangelho de maneira autêntica e apaixonada.
Fraternalmente,
Frei Suelton Costa de Oliveira, OFM
REFERÊNCIAS
BOFF, Leonardo. São Francisco de Assis: Ternura e Vigor. 10. ed., Petrópolis: Vozes, 2005.
DESBONNETS, Théophile. Da Intuição à Instituição. Petrópolis: Vozes-Cefepal, 1987.
FASSINI, Frei Dorvalino Francisco, OFM. São Francisco de Assis: Chamado e Resposta. Porto Alegre: Editora Evangraf LTDA, 2016.
FONTES FRANCISCANAS. Tradução do texto em língua portuguesa organizada por Frei Celso Márcio Teixeira, OFM. Petrópolis: Vozes, 2004.
HARADA, Frei Hermógenes, OFM. Fragmentos de Pensamento Humano-Franciscano. Curitiba, PR: Editora Bom Jesus, 2016.
IRIARTE, Frei Lázaro, OFM cap. História Franciscana. Tradução de Adelar Rigo e Marcelino Carlos Dezen. Petrópolis: Vozes-Cefepal, 1985.
SPOT, Donald. Francisco de Assis: o santo relutante. Tradução de S. Duarte. Versão Bolso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.
Fonte: ofmscj.com.br