A atual crise do Fanatismo Ideológico

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por Frei Anselmo Maliaño Téllez
tradução por Rosa Alencastro

Existem várias expressões que identificam uma pessoa fanática, neste contexto social vamos falar do fanatismo político, que sempre existiu na Nicarágua.

Atualmente, o que acontece na Nicarágua é uma manifestação de pessoas fanáticas que atuam em massa, que ao invés de resolver a situação conflituosa em que o país vive, só agrava e não favorece um verdadeiro diálogo.

Em primeiro lugar o fanatismo nasce especificamente da necessidade de possuir e defender a verdade de uma ideologia – sistema político autoritário e ditatorial – e assim dominar e manipular os demais, sobretudo aqueles que são mais vulneráveis ao fanatismo, principalmente por questões de trabalho chegando a se tornar um dever defender seu chefe. Ou seja, o fanático exige que todos, sobretudo os que trabalham em instituições estatais, defendam e pensem – obrigatoriamente – dentro de uma mesma ideologia, e por isso manipulam e convencem a outros, sem se importar com as consequências sociais ou pessoais.

O fanático – é aquela pessoa – que tem a pretensão de obrigar afirmando que só um determinado político ou partido é possuidor da “verdade” ou razão para governar, e que todo aquele que se opõe a esta “verdade” ou ideologia é ilegítimo, considerado mau ou vândalo e, portanto, deve ser totalmente reprimido, baleado, sequestrado, torturado ou assassinado.

Lamentavelmente o fanatismo ideológico – semelhante ao religioso- crê possuir essa “verdade” absoluta, sendo incapaz de retroceder sua postura, não escutando as demandas de paz e, por isso, divide a sociedade –inclusive sua família- e está disposto a defender sua ideologia política custe o que custar: por isso planeja campanhas com ameaças, determinado a atacar e se organizar em grupos criminosos que violam os direitos das pessoas – conduta destrutiva -, sobretudo aqueles que não são de seu grupo político.

Quando vemos um grupo de pessoas fanáticas agindo de maneira intolerante, gritando idiotices ofensivas e destruindo tudo ao seu redor, ainda que sejam da Igreja, deduzimos que não estão buscando um verdadeiro compromisso de paz. Além disso, nos damos conta dos níveis de fanatismo que se encontra no país e até onde os Direitos Humanos podem ser violados impunemente, desfavorecendo o processo de paz e justiça social.

Isso é o que se tem expressado com a agressão violenta e desalmada aos bispos da Nicarágua, ao Senhor Núncio Apostólico e aos sacerdotes dentro da basílica de São Sebastião em Diriamba, Carazo, o assédio à comunidades religiosas – Congregação das Irmãs Josefinas – e sobretudo, a falta de respeito ao símbolos da fé cristã.

Os bispos na Nicarágua são fiéis à Palavra e à dimensão profética de denunciar toda injustiça, especialmente aquelas que atacam a dignidade e a vida de muitos nicaraguenses. O CIDH, tem sido coerente em seu relatório sobre as vítimas deste conflito e sobre a repressão brutal que está se desenvolvendo. Mas os fanáticos políticos têm desprestigiado por todos os meios possíveis o trabalho do bispos como mediadores do diálogo nacional, que foi suspenso.

Por outro lado, deve-se reconhecer que o fanatismo é um insulto insuportável à dignidade humana, é inimigo da democracia e faz ressurgir qualquer conflito até mesmo a guerra: manipula a realidade, justifica a violência, acusa de terrorismo , qualifica os outros como golpistas, vândalos até chegar ao enfrentamento e derramamento de sangue inocente.

O fanático nunca está disposto a promover mudanças para evoluir ideologicamente –processo de transformação política-, a conseguir uma paz autêntica para que o país possa seguir adiante, por essa razão as recomendações que se deram nas mesas de diálogo não foram cumpridas totalmente.

Na realidade as atitudes das pessoas fanáticas são perigosas e constituem um dos fatores de deterioração de uma sociedade democrática, expondo-a com suas ações a perigos indescritíveis, um exemplo claro disso são os mais de 448 mortos, centenas de detidos arbitrariamente, 2720 feridos e 718 desaparecidos que a cada dia vão aumentando.

Esta violência e injustiça é inaceitável e parece predominar, porque o sistema ideológico manipulado por fanáticos políticos impedem o povo de exercer seus direitos fundamentais debilitando a paz e a justiça social, pois está julgando e condenando a vários anos de prisão pessoas que participam das marchas, nas barragens, mas não foram julgados os verdadeiros assassinos do povo. Há também demissões em massa de médicos (as) e enfermeiros (as) de alguns hospitais por atender e tratar os feridos…

Isto, na realidade é um desafio para a democracia na Nicarágua, certamente com um grande histórico de corrupção política, portanto, é necessária uma mudança política que transforme em realidade novos cenários, estratégias para o fortalecimento da paz e da justiça, para um crescimento econômico corrigindo todas as práticas nefastas do passado.

Já não têm sentido algum esses fanatismos políticos – presos em seus próprios preconceitos e frustrações -, agora é a hora de uma Nicarágua de paz. Como nicaraguenses somos chamados a celebrar a paz.

Mesmo que os fanáticos continuem atrasando a democracia e incrementando as injustiças, no entanto, a verdadeira mudança de rumo do país já está acontecendo, os jovens têm sido pioneiros nisso, o sangue derramado é um sinal de insistência tenaz, de um novo amanhecer, de uma paz genuína.

Os bispos seguem apostando no diálogo como caminho autêntico para que a paz prevaleça e sobretudo para deter o derramamento de sangue; Também, demanda ao Estado a depor suas atitudes violentas, de hostilidades e discórdias aos que têm posturas e opiniões diferentes. É um chamado a não por mais obstáculos ao diálogo e o que foi levantado como alternativa democrática…

Concluindo, a Igreja tem manifestado sua compaixão aos familiares das vítimas e sabe que a impunidade deixa um grande vazio e impede a justiça social. E é precisamente, esta “cultura de morte” que predomina. No entanto, é nossa responsabilidade restaurar as bases da paz social. É o compromisso por uma paz autêntica em meio a fragilidade social.

Sigamos orando pela Nicarágua e que a Imaculada Conceição de Maria ajude-nos a viver com mais fé, esperança e caridade a uma entrega em busca da paz autêntica e a justiça para nosso povo… e que São Francisco de Assis faça de cada um de nós “instrumentos de sua paz”.
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Tradução: Rosa Alencastro
Graduada em Letras- Espanhol – UFRR/2010
Gerente de Projetos – Diocese de Roraima

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