A missão do bispo

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Rio de Janeiro – No dia 27 de outubro de 2017, o Papa Francisco nomeou um novo Bispo Auxiliar para a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro: Mons. Paulo Celso Dias do Nascimento!

Ele nasceu em 14 de abril de 1963, na cidade de Lagarto, no Estado do Sergipe. De família católica, foi coroinha e fez parte da Cruzada Eucarística. Inicialmente queria ser piloto de avião, mas o exemplo de seu pároco, o italiano Mario Rino Sivieri, hoje Bispo Emérito da Diocese de Própria (SE), fez aflorar sua vocação. Por não ter seminário em sua diocese, seus estudos acadêmicos foram realizados em vários lugares. Nos primeiros três anos, fez o seminário menor na capital Aracajú. Em 1983, veio para o Rio de Janeiro para cursar filosofia e teologia no Seminário Arquidiocesano de São José, e posteriormente seus estudos foram concluídos nos seminários arquidiocesanos de Maceió (AL) e Salvador (BA).

No dia 13 de maio de 1989 – memória de Nossa Senhora de Fátima -, já com 26 anos, foi ordenado sacerdote na sua paróquia de origem, o Santuário Nossa Senhora da Piedade, de Lagarto, pelo então Bispo Diocesano de Estância (SE), Dom Hildebrando Mendes Costa. Depois de um estágio com seu antigo pároco, dirigiu por quatro anos a Paróquia São Francisco de Assis, na cidade vizinha de Cristinápolis. Enviado pelo seu bispo para estudar Direito Canônico, chegou novamente ao Rio de Janeiro a 15 de janeiro de 1997. Enquanto auxiliava na Paróquia Nossa Senhora de Copacabana, em Copacabana, cursou psicologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio).

Depois de fazer um estágio por dois anos na Beneficência Portuguesa, na Glória, assumiu em 4 de agosto de 2003 (Dia do Padre) a capelania do Hospital Quinta D’Or, em São Cristóvão, oficio que ocupa até a presente data. Desde 2016, é o coordenador Arquidiocesano da Pastoral da Saúde.

Seu entusiasmo por essa pastoral tem ajudado a uma presença maior da Igreja junto aos enfermos. A sua nomeação demonstra também o carinho do Santo Padre para com os trabalhos pastorais das várias pastorais e capelanias. Agora como Bispo Auxiliar, além dos demais trabalhos que exercerá, sem dúvida, deverá incrementar ainda mais essa pastoral que está em seu coração.

Ao acolher com o coração agradecido em nome de nossa arquidiocese, a nomeação feita pelo Papa Francisco, vamos percorrer um pouco as reflexões que o Santo Padre tem feito sobre a missão do epíscopo na Igreja de hoje.

A Igreja tem a missão de anunciar e propagar o Reino de Deus até os extremos confins da terra, a fim de que todos os homens creiam em Cristo e assim consignam a vida eterna. A Igreja é, portanto, também misericórdia. A missão que Cristo confiou à sua Igreja é de ordem à salvação, ou seja, religiosa com todas as consequências existenciais e sociais. É dessa missão que brotam as tarefas, a luz e as forças que podem contribuir para construir e consolidar a comunidade dos homens segundo a Lei divina.

A Igreja é sacramento de salvação e, por meio da sua visibilidade, Cristo está presente, entre os homens que continua a sua missão, dando aos fiéis o seu Espírito Santo. O corpo da Igreja se distingue de todas as sociedades humanas; ela se rege não pelas capacidades pessoais de seus membros, mas pela íntima união com Cristo, da qual recebe e comunica aos homens a vida e energia.

A Igreja é comunhão, pois, nos diz o Vaticano II no decreto Unitatis Redintegratio n.15: os fiéis, unidos ao Bispo, têm acesso a Deus Pai por meio do seu Filho, Verbo encarnado, morto e glorificado, na efusão do Espírito Santo, e entram em comunhão com a Santíssima Trindade. A comunhão eclesial é comunhão de vida, de caridade e de verdade e, enquanto vínculo do homem com Deus funda uma nova relação entre os homens e manifesta a natureza sacramental da Igreja. A Igreja é a “casa e a escola da Comunhão” (Novo Millennio Ineunte, 43). Esta casa que se edifica em torno da Eucaristia, sacramento da comunhão eclesial, de onde “partindo realmente do Corpo do Senhor, somos elevados à comunhão com Ele e entre nós” (Lumen Gentium 3, 7 e 11). Ao mesmo tempo a Eucaristia é epifania da Igreja, onde se manifesta o seu caráter trinitário.

O Bispo, é o princípio visível de unidade na sua Igreja, é chamado a edificar incessantemente a Igreja particular na comunhão de todos os seus membros e, destes, com a Igreja universal, vigiando a fim de que os diversos dons e ministérios contribuam para a comum edificação dos crentes e com a difusão do Evangelho.

Como mestre da fé, santificador e guia espiritual, o Bispo sabe que pode contar com uma especial graça divina, conferida na ordem episcopal. Tal graça o sustenta no seu consumir-se pelo Reino de Deus, pela salvação eterna dos homens e também no seu empenho para construir a história com força do Evangelho, dando sentido ao caminho do homem no tempo.
O Bispo diante de si mesmo e dos seus deveres, deve ter presente como centro que delineia a sua identidade e a sua missão o mistério de Cristo e as características que o Senhor Jesus quer para a sua Igreja, “povo reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (LG, 4). É, de fato, à luz do mistério de Cristo, Pastor e Bispo das almas (cf. 1Pd 2,25), que o Bispo compreenderá sempre mais profundamente o mistério da Igreja, na qual a graça da consagração episcopal o colocou como mestre, sacerdote e pastor para guiá-la com a sua mesma autoridade.

Vigário do “grande Pastor das ovelhas” (Hb 13,20), o Bispo deve manifestar com sua vida e com o seu ministério episcopal a paternidade de Deus, a bondade, a solicitude, a misericórdia, a doçura e a confiança de Cristo, que veio para dar a vida e para fazer de todos os homens uma só família, reconciliada no amor do Pai. O Bispo deve manifestar também a perene vitalidade do Espírito Santo que anima a Igreja e sustenta diante da fraqueza humana, esta índole trinitária do ser e do agir do Bispo tem a sua raiz na mesma de Cristo. Ele é o Filho eterno e unigênito do pai desde sempre no seu seio (cf. Jo 1,18) e o ungido pelo Espírito Santo enviado ao mundo (cf. Mt 11,27; Jo 15,26; 16,13-14).

Quando o Papa Francisco esteve no Brasil por ocasião da 28ª Jornada Mundial da Juventude, ele fez um discurso aos Bispos do Brasil, no dia 27/07/2013. Na ocasião, o Papa Francisco retomou o que disse há seis meses antes, em Roma, aos Núncios Apostólicos, sobre os critérios a seguir ao preparar as listas dos candidatos ao serviço do episcopado. Segundo o Papa Francisco: “Os Bispos devem ser Pastores, próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e misericordiosos. Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida. Homens que não tenham “psicologia de príncipes” (Retirado do site https://goo.gl/U3GEJb)

O Papa prosseguiu dizendo que os Bispos “Homens que não sejam ambiciosos e que sejam esposos de uma Igreja sem viver na expectativa de outra”. “Homens capazes de vigiar sobre o rebanho que lhes foi confiado e cuidando de tudo aquilo que o mantém unido: vigiar sobre o seu povo, atento a eventuais perigos que o ameacem, mas, sobretudo para fazer crescer a esperança (o Bispo tem que cuidar da esperança do seu povo): que haja sol e luz nos corações. Homens capazes de sustentar com amor e paciência os passos de Deus em seu povo. E o lugar do Bispo para estar com o seu povo é triplo: ou à frente para indicar o caminho, ou no meio para mantê-lo unido e neutralizar as debandadas, ou então atrás para evitar que alguém se atrase, mas também, e fundamentalmente, porque o próprio rebanho tem o seu faro para encontrar novos caminhos”. (Retirado do site: https://goo.gl/JWbEju)

Depois de comentar longamente o episódio dos discípulos de Emaús, que Jesus – incógnito – acompanhou ao longo do caminho, aquecendo-lhes o coração com a explicação das Escrituras e e ajudando-os a reencontrar a fé e a esperança, o Santo Padre falou dos “desafios” que “a amada Igreja que está no Brasil” tem que enfrentar, indicando como máxima prioridade a formação de todos – Bispos, padres, religiosos, leigos.

Recentemente, ao receber os bispos de recém-nomeação, afirmou que: “Devemos esforçar-nos por crescer num discernimento encarnado e inclusivo, que dialogue com a consciência dos fiéis a qual deve ser formada e não substituída (cf. Exort. ap. pós-sin. Amoris laetitia, 37), num processo de acompanhamento paciente e corajoso, a fim de que possa amadurecer a capacidade de cada um — fiéis, famílias, presbíteros, comunidades e sociedade — todos chamados a progredir na liberdade de escolher e realizar o bem desejado por Deus.

Com efeito, a atividade de discernir não é destinada aos sábios, aos perspicazes e aos perfeitos. Aliás, Deus muitas vezes resiste aos soberbos e mostra-se aos humildes (cf. Mt 11, 25). O Pastor sabe que Deus é o caminho e confia na sua companhia; conhece e nunca duvida da sua verdade nem desespera da sua promessa de vida. Mas o Pastor apodera-se destas certezas na escuridão humilde da fé. Portanto, transmitir as mesmas ao rebanho não significa anunciar óbvias proclamações, mas introduzir na experiência de Deus que salva, apoiando e guiando os passos possíveis a serem dados.” (https://goo.gl/kH5GSV)

Nós Bispos, particularmente os bispos auxiliares que são colaboradores na missão comum, particularmente o bispo eleito que anunciamos hoje, Monsenhor Paulo Celso Dias do Nascimento, saibamos transmitir e ser para o povo a figura do Bom Pastor, ou seja, acolhendo, servindo, indo ao encontro das ovelhas desgarradas, perdidas, desanimadas ou extraviadas e, sobretudo colocando-as no caminho de Cristo Jesus.

Convidamos a todos para as orações pelo novo Bispo e para as próximas datas: fará seu juramento e profissão de fé no dia 24 de Dezembro, as 18 horas, na Missa da Vigília de Natal e para a ordenação episcopal no dia 6 de Janeiro, as 8:30 horas, ambas em nossa Catedral Metropolitana de São Sebastião. Que em tudo possamos amar e servir, como é o lema do nosso novo Bispo Auxiliar: “in omnia amare et servire”.

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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