Carta de Solenidade do Natal do Senhor

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“Um Menino nos foi dado” Is 9,6

O Senhor lhes dê a paz!

Irmãs e Irmãos,
Aproxima-se a Solenidade do Natal do Senhor. Sabemos como esta celebração tornou-se cara a São Francisco. Segundo seus biógrafos, era a solenidade que mais tocava seu coração. Comovia-se ao pensar na pobreza da Virgem e no Menino que precisava de peitos humanos.

O santo de Deus está de pé diante do presépio, cheio de suspiros, contrito de piedade e transbordante de admirável alegria. […] quando queria nomear a Cristo Jesus, abrasado em excessivo amor, chamava-o de “Menino Belém” […], saboreando com feliz paladar e engolindo a doçura desta palavra (I Cel., XXX).

Não precisamos dizer o quanto a humanidade de Deus, humanizou Francisco. Mas, precisamos recordar a nós mesmos, o quanto necessitamos de um caminho de humanização. Nossos dias, revelam-nos uma humanidade machucada, desesperadamente agressiva, violentamente impaciente, perniciosamente discriminadora. Faltam lugares para o Menino nascer, como na antiga Belém. Falta lugar para o acolhimento, para a tolerância, para a convivência pacífica entre os humanos. Refugiados da África, da Ásia, da América Latina, aos milhares pelo mundo, nos dizem de uma humanidade falida. Não sabemos ser gente, não sabemos conviver como gente (LS 50).

A Solenidade do Natal do Senhor, faz ecoar um grito vindo da estrebaria, do sul do mundo, do submundo das periferias, das tribos indígenas, dos quilombolas, das favelas, da Amazônia em devastação, dos campos contaminados por agrotóxicos, das minas exploradas pela ganância do capital, da irmã água feita mercadoria (LS 95).

O grito vai se ecoando através dos movimentos sociais, das minorias organizadas, da teimosia dos que sonham o sonho de Deus, a espera de ser ouvido (GE 94).

A Solenidade do Natal do Senhor, nos pede um basta ao que rouba a esperança dos empobrecidos, a discriminação das mulheres, a criminalização das organizações populares. É preciso não comungar com os novos Herodes, que apregoam o uso das armas, que incentivam a divisão entre pobres e ricos, que colocam o Estado a serviço das grandes fortunas, que ameaçam as conquistas democráticas, em nome da verdade (GE 95 ss).

No presépio contemplamos não um Deus acima de todos, mas, sim um Deus que se rebaixou, que se fez menor, pequeno e por isso mesmo, abaixo de todos (Fl 2, 6 ss). Nunca a Solenidade do Natal do Senhor foi tão necessária a humanidade, como lugar de aprendizado, espaço de cura e de integração do humano.

Nós Franciscanos e Franciscanas temos muito o que aprender e a oferecer nesta hora impiedosa de desumanização: oferecer o presépio do coração, a mansidão dos que antes eram feras, a pobreza evangélica, que nos irmana a todos, como caminhos para salvar o planeta. A Solenidade do Natal do Senhor exige de nós compromisso ético com as minorias, com os povos originários, com o ecossistema cotidianamente vilipendiado (RnB 9,2).

Temos a espiritualidade da fraternidade, ela nos irmana a todas as gentes, credos, raças, culturas. Um Menino nos foi dado, o que vamos fazer com ele e por ele? Desejo à todas e a todos um bom caminho no espírito franciscano do Natal, para que o mundo se torne uma festa.

 

Brasília, 08 de dezembro de 2018
Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria

 

Frei Éderson Queiroz, OFMCap
Presidente da CFFB

 

 

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