Comentário teológico-espiritual sobre a Exortação do Papa Francisco sobre o Sínodo especial dos bispos sobre a Amazônia

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A primeira coisa que salta aos olhos de quem lê a exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco a respeito do Sínodo sobre a Amazônia é o seu título, com a impactante frase: “Querida Amazônia”. Isto parece indicar que a mensagem que o sucessor de Pedro deseja passar desde o início da sua exortação aos povos e às igrejas da Amazônia é que eles são queridos, amados pelo Papa, como também todas as demais criaturas de Deus ali presentes, isto é, toda a sua biodiversidade. E é este amor, esse “querer bem”, que o fez tomar iniciativas como a convocação de um sínodo especial sobre aquela região, conclamando os católicos do mundo inteiro, junto com as pessoas de boa vontade, a cuidar bem desta parte vital do planeta, seguindo o exemplo do próprio Senhor Jesus, “que primeiro cuida de nós, ensina-nos a cuidar de nossos irmãos e irmãs e do ambiente que Ele nos dá todos os dias” [1]. Porque, quem ama, cuida.

Logo em seguida, o leitor se depara com outra surpresa preparada pelo Papa, isto é, ao invés de apresentar conclusões teóricas ou se deter somente em propostas de ação concretas sobre a Amazônia, ele prefere compartilhar conosco quatro sonhos sobre a sua querida Amazônia: Um sonho social; Um sonho cultural; Um sonho ecológico e um sonho eclesial. Parece-nos importante indagar, então, sobre o conteúdo desses sonhos e o valor teológico que ocupam no documento que estamos agora a conhecer.

Ora, quando trata dos “sonhos” o Novo Dicionário de Espiritualidade [2] explica que somente o autor do sonho pode adequada e autenticamente interpretá-lo, entrando em contato com as fontes inspiradoras do mesmo, o que torna possível o seu crescimento e amadurecimento espiritual. Obviamente, estamos falando da atividade onírica que só em modo análogo pode ser aplicada aos sonhos descritos nesta exortação. Contudo, em nosso entendimento permanece verdadeiro o fato de que qualquer esforço hermenêutico da nossa parte será sempre limitado e aproximativo daquilo que verdadeiramente significa para o seu autor, os sonhos por ele compartilhados. Não obstante, é indubitável que os quatro sonhos do Santo Padre presentes nesta exortação apostólica possuem um caráter profundamente teológico-espiritual, cuja riqueza não poderá ser aqui neste breve espaço de tempo completamente exaurida, mas tão somente identificada para ulteriores estudos e aprofundamentos.

De início, vale a pena ressalvar que não é a primeira vez que o Papa Francisco usa este estilo de linguagem para se comunicar com o seu rebanho. Já no seu primeiro ano de pontificado ele confessava: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação” [3], recordando as sábias palavras de São João Paulo II, para quem “toda a renovação na Igreja há de ter como alvo a missão, para não cair vítima de uma espécie de introversão eclesial” [4]. Em outros momentos, o Papa recorda o valor e a importância do ato de sonhar e de não ter medo de sonhar diferente, de “mostrar outros sonhos que este mundo não oferece” [5], ou seja, sonhos de generosidade, serviço, pureza, fortaleza, perdão, fidelidade à própria vocação, oração, luta pela justiça e o bem comum, amor aos pobres, amizade.

Por outro lado, também o Papa emérito Bento XVI usou do mesmo recurso linguístico em seu magistério, ensinando aos jovens que nenhum sonho é irrealizável quando quem os suscita e os cultiva no coração é o Espírito de Deus[6]. E Francisco dirá ainda que Jesus pode unir todos os jovens da Igreja num único sonho, “um sonho grande, um sonho capaz de envolver a todos” [7]. Trata-se, portanto, de uma linguagem permeada de valor teológico que, ademais, segue a tradição bíblica que sempre destacou os sonhos como instrumento privilegiado por meio dos quais Deus revela a sua vontade e os seus desígnios. Não podemos aqui nos deter muito neste ponto, mas basta lembrar alguns textos da Sagrada Escritura que confirmam isso, como o de Gn 37, 2-11, no qual vemos José, o mais novo entre seus irmãos, sendo avisado em sonho de que faria grandes coisas e superaria todos os seus irmãos. Ou, quando em 1Rs 3, 5 o Senhor aparece em sonho a Salomão, para lhe dizer: “Pede-me o que quiseres”. E, finalmente, poderíamos recordar de Mt 1, 18-21, quando um outro José é instruído pelo Anjo do Senhor, também em sonho, a receber Maria como sua esposa, pois que ela haveria de ser a mãe do Salvador, por obra do Espírito Santo. Ou seja, nos sonhos de seus sábios e profetas, Deus também se comunica conosco.

Tudo o que acima se disse nos leva a concluir que o caminho escolhido pelo Santo Padre para escrever a sua exortação apostólica em nada perde de conteúdo teológico, mas antes se mantém estreitamente ligado às fontes essenciais da Teologia, quais sejam: A Sagrada Escritura, a Tradição e o Magistério da Igreja. Passemos, agora, a destacar algumas dimensões teológicas que, em nosso entendimento, são possíveis identificar nos sonhos compartilhados pelo Papa, tendo presente que, citando mais uma vez o Novo Dicionário de Espiritualidade [8], ao interpretarmos os sonhos temos que estar atentos à correlação existente entre eles, pois que também nos sonhos, “tudo está interligado” [9].

Dimensão soteriológica

A leitura do texto pós-sinodal nos permite identificar com clareza a relação que o Papa faz da situação atual da Amazônia com a história da Criação e da Salvação e com o fato de que nós somos chamados a ter essa dupla consciência: A de que somos sempre criaturas dependentes em tudo Daquele que nos criou e modelou (Jr 18, 6: “Eis que, como argila nas mãos do oleiro, assim sereis vós nas minhas mãos”); E, por outro lado, o Senhor nos quer como participes da sua ação criadora e salvífica, enquanto colaboradores da Missio Dei, sendo discípulos e missionários de seu Filho [10], nos chamando desde o início à corresponsabilidade pela vida de nossos irmãos e demais criaturas (Gn 4, 9: “Onde está teu irmão?”).

Parece-nos ser justamente isso que quer recordar o Papa, assumindo em seu “sonho ecológico” as vozes vindas da Amazônia por meio do documento preparatório ao Sínodo e confirmadas pelos padres sinodais, de que abusar da natureza é também abusar de irmãos e irmãs, como também da própria criação e do Criador, comprometendo todo o nosso futuro [11]. Para Francisco, essa consciência renovada da Igreja sobre o valor da criação é um dos fatores principais que a faz desejar contribuir para com o cuidado da casa comum e o crescimento da Amazônia [12]. Diante do “pecado ecológico”, definido pelos padres sinodais como “uma ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a comunidade e o meio ambiente” [13], o Papa apresenta seu “sonho ecológico”, ensinando que, para viver a fé de uma maneira comprometida e alcançando plena comunhão com Deus, é imperativo cultivar uma espiritualidade da ecologia integral, que promova entre nós, comunidade de discípulos missionários, o cuidado da criação, de uma forma sempre mais participativa e inclusiva, como se lê no Documento Final do sínodo [14].

E, assim como a narração bíblica do evento salvífico é marcada não só pelo encontro salvador de Deus com os homens, mas também por histórias de violência, destruição e desobediência ao projeto de Deus, diante das quais os profetas não ficavam calados, da mesma forma o Papa exorta a todos a uma nova educação que gere em nós a mudança e a superação de certos hábitos, como o consumismo e a cultura do descartável, geradores não só da destruição ambiental, pelo mal uso dos recursos naturais e o desrespeito à natureza, mas também de enormes crises sociais, com violência e destruição da vida humana [15].

Dimensão cristológica

Não obstante toda a preocupação manifestada pelo Papa para com as questões ambientais e sociais possa criar a falsa impressão de que se trata de um documento de menor valor teológico, a sua exortação pós-sinodal tem, inegavelmente, uma dimensão profundamente teológica e cristológica, sendo esta, em última análise, a razão que justifica todo o seu engajamento em favor de uma ecologia integral. Pois, explica Francisco, Deus não apenas criou tudo o que existe, mas também entregou a si mesmo em Jesus Cristo, nosso Senhor, que primeiro cuida de nós, ensinando-nos a cuidar de nossos irmãos e irmãs e do ambiente que Ele nos dá todos os dias. Para o sucessor de Pedro, não há dúvidas de que “esta é a primeira ecologia que precisamos” [16], porque afinal “todas as criaturas do universo material encontram seu verdadeiro significado no Verbo Encarnado, porque o Filho de Deus incorporou em sua pessoa parte do universo material, onde introduziu um germe de transformação definitiva” [17].

Em nosso entendimento, essa consciência cristológica, tão marcante nesta exortação apostólica, longe de desviar a atenção ou enfraquecer o nosso olhar para a dramática situação em que vivem hoje os povos originários e a biodiversidade amazônica, tornar ainda mais evidente que é por seguir a Cristo que nós, cristãos, temos uma missão a cumprir em defesa da vida ameaçada na Amazônia e em outros lugares do mundo. Diante do mal, é preciso que nos indignemos como Jesus se indignou (Cf. Mc 3,5), afirma o Papa, alertando que não podemos nos acostumar com o mal, nem sermos anestesiados pela consciência social, quando a vida de milhões de pessoas em todo o mundo está em perigo, como a dos camponeses e povos indígenas na Amazônia [18].

Por isso, ao falar do seu “sonho social”, Francisco recorda que é do coração de Cristo que brota a caridade anunciada pelos Evangelhos e que deve vir sempre acompanhada de um desejo de justiça, de fraternidade, de solidariedade e da capacidade de se relacionar e encontrar com os outros [19]. Eis, portanto, alguns critérios muito claros para sabermos se estamos ou não verdadeiramente seguindo a Jesus, que na visão do Papa Francisco, passa necessariamente pelo assumir o rosto misericordioso de Cristo na nossa vida concreta e no agir da Igreja, pois mesmo para essa “a misericórdia pode se tornar uma mera expressão romântica se não se manifestar concretamente na tarefa pastoral”, completa o Papa, comentando o seu “sonho eclesial” [20]. Como Vigário de Cristo no mundo, Francisco assume o grito dos povos da floresta, como antes fizeram os profetas que conclamavam o povo a “romper os grilhões da iniquidade, soltar as ataduras do jugo e pôr em liberdade os oprimidos” (Is 58, 6), sendo este o jejum agradável a Deus.

Recordemos, finalmente, que é motivado pelo seu seguimento a Cristo que o Papa, como também todo cristão é chamado a fazer, denuncia os modelos econômicos nefastos para a Amazônia, frutos de uma economia globalizada, que se afasta dos valores evangélicos, fazendo mal “sem pudor à riqueza humana, social e cultural” [21], ao invés de buscar antes a promoção da dignidade humana, por meio de uma economia solidária e autossustentável. Aos que, por ignorância e falta de embasamento teológico, criticam a “interferência” do Papa nestes assuntos, bastaria recordar o que nos ensina o Catecismo, de que “em matéria econômica, o respeito pela dignidade humana exige a prática da virtude da temperança, para moderar o apego aos bens deste mundo; da virtude da justiça, para acautelar os direitos do próximo e dar-lhe o que lhe é devido; e da solidariedade, segundo a regra de ouro e conforme a liberalidade do Senhor, que ‘sendo rico Se fez pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza’” [22].

Dimensão pneumatológica e eclesiológica

Do ponto de vista teológico, há de se notar ainda que uma grande parte da exortação apostólica do Papa em relação ao Sínodo sobre a Amazônia diz respeito à ação do Espírito Santo sobre a Igreja naquela região, mas com alcance universal. Tal não podia ser diferente, considerando que o tema escolhido para o referido sínodo fala de “novos caminhos para a Igreja”. Francisco, de fato, deixa claro logo no início da sua exortação, que espera que toda a Igreja seja enriquecida e questionada pelo trabalho realizado pelos Padres sinodais, cujas conclusões se encontram no Documento Final, a serem assumidas com empenho pelos católicos e inspirarem a todas as pessoas de boa vontade [23].

No âmbito eclesial, algumas características se destacam no “sonho eclesial” do Papa Francisco: A sinodalidade, a inculturação, a maior participação das mulheres e a itinerância apostólica são algumas delas.

Quanto à sinodalidade, o texto papal se aproxima indiscutivelmente com aquilo que os Padres sinodais chamaram de “espírito sinodal” ou de “conversão sinodal”, ao sugerirem uma renovação na forma de estruturar as Igrejas locais em cada região e país, para que, impregnadas do espírito sinodal, sejam organizadas segundo esta dinâmica, como autênticos organismos de “comunhão”, trilhando caminhos comuns na evangelização, de uma forma mais descentralizada, sem enfraquecer o vínculo com a Igreja universal [24]. Para o Papa, no caminho evangelizador da Igreja na Amazônia, um dos exemplos inspiradores dessa sinodalidade foram as comunidades eclesiais, quando souberam integrar a defesa dos direitos sociais com o anúncio missionário e a espiritualidade [25]. O Santo Padre também recorda que, numa Igreja sinodal, as mulheres deveriam poder acessar funções e serviços eclesiais compatíveis com o papel central que já desempenham nas comunidades amazônicas, serviços esses que implicam em estabilidade, reconhecimento público e envio pelo bispo. Tudo isso, segundo Francisco, traria um impacto real e efetivo na organização, nas decisões mais importantes e na orientação das comunidades eclesiais, além de enriquece-las com o estilo de sua marca feminina [26].

Já no que se refere à itinerância apostólica, reconhecendo que a Amazônia é uma região de grande mobilidade interna e migratória, o Papa assume em seu “sonho eclesial” a proposta presente já no documento de trabalho preparatório ao Sínodo, defendendo que, além das estruturas mais estáveis e fixas, deva-se também fomentar as equipes de missão itinerantes, apoiando igualmente maior itinerância e inserção da vida consagrada junto aos mais pobres e excluídos [27].

Naturalmente, tudo isso só será possível se houver, ao mesmo tempo, uma renovação no modelo de formação do clero, da vida consagrada e dos agentes pastorais em geral, a fim de que se abram a estes novos sopros do Espírito, a partir de uma espiritualidade encarnada, dialogante, inculturada, misericordiosa que, sendo verdadeiramente cristã [28], saiba deixar-se enriquecer por outras espiritualidades e cosmovisões ancestrais, como são a dos povos indígenas da Amazônia, com quem muito temos a aprender em relação ao respeito e cuidado das criaturas, das quais não somos mais que guardiões. Pois, afinal, não há lugar, situação ou cultura que seja tocada pela presença do Ressuscitado [29].


Notas:

[1] PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … de fevereiro de 2020, n. 41.

[2] Cf. BORRIELO, L. / DOWNEY, M. (Ed.), Nuovo Dizionario di Spiritualità, Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano 2003, 693-696.

[3] PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica Evangelii Gaudium, 24 de novembro de 2013, n. 27.

[4] Ibidem.

[5] PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Christus vivit, 25 de março de 2019, n. 36

[6] Cf. PAPA BENTO XVI, Vigília de oração com os jovens na esplanada de Montorso, Loreto, 1 de setembro de 2007.

[7] PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Christus vivit, 25 de março de 2019, n. 157.

[8] Cf. BORRIELO, L. / DOWNEY, M. (Ed.), Nuovo Dizionario di Spiritualità, … 693-696.

[9] PAPA FRANCISCO, Carta encíclica Laudato si’ sobre o cuidado da casa comum, 24 de maio de 2015, n. 91, 117, 138 e 240.

[10] Cf. Documento de Aparecida, Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Editora Paulus, São Paulo 2009.

[11] Cf. PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 42. Ver também: Instrumentum laboris, 26.

[12] Cf. PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 60.

[13] Documento Final, n. 82.

[14] Cf. Documento Final, n. 81.

[15] PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 58 e 59. Ver também Documento final, n. 84.

[16] PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 41.

[17] Cf. PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 74.

[18] Cf. PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 15.

[19] Cf. PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 22.

[20] Cf. PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 84. Ver também Documento final, n. 32.

[21] Cf. PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 39. Ver também Documento final, n. 73.

[22] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 2407.

[23] Cf. PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 4.

[24] Cf. Documento final, n. 91 e 92.

[25] Cf. PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 96.

[26] Cf. PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 103. Ver também Documento Final, n. 95, 99 e 102.

[27] Cf. PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 98. Ver também Instrumentum laboris, n.129, d, 2.

[28] Cf. PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 90. Ver também Documento Final, n. 106, 107 e 108.

[29] Cf. PAPA FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, … n. 74.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

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