O Brasil também está vivendo o apelo do Papa Francisco para celebrar os 5 anos da Encíclica Laudato si’, que aborda a dimensão socioambiental da fé e da evangelização e tem ajudado a valorizar ainda mais a Ecologia Integral, isto é, o cuidado com o meio ambiente, mas também com o ser humano, em especial, as populações que vivem na Amazônia. No contexto da pandemia da Covid-19, “a defesa integral e integrada da criação” enfrenta ainda o problema da crise econômica que se aproxima, reforçando negativamente o drama dos pobres.
Carta ao Papa Francisco
Essa preocupação faz parte de uma carta enviada ao Papa Francisco neste mês e assinada pelo presidente e secretário da Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB, respectivamente, dom Sebastião Lima Duarte, bispo da diocese de Caxias, no Maranhão; e por dom Vicente de Paula Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte. Afinal, como já alertava o Pontífice na Laudato si’, “é impossível sermos saudáveis em um planeta doente”.
O documento aprofunda o tema afirmando que “a pandemia não é um simples acidente de percurso na história socioambiental do nosso mundo globalizado. Ela é o resultado de um conjunto de opções feitas ao longo dos últimos anos”, conectadas, por exemplo, “a um modo de produção e consumo que desmata, polui e aquece o planeta, que também empobrece uma parte crescente da humanidade”. O texto ganhou o título de “Ecologia Integral: um caminho de vida e de cura para um planeta doente. Lições e desafios da Encíclica Laudato si’ depois de 5 anos de sua publicação”. O presidente, dom Sebastião, explica:
”O Papa Francisco, na Laudato si’, nos ajuda a mudar esse parâmetro de que não é a dominação do meio ambiente, simplesmente na exploração extrativista e predatória, mas é o cuidado que a gente deve ter com essa obra de Deus, para que a gente pudesse usufruir dela e, particularmente, todos os povos da terra – os pobres, os povos tradicionais.”
O Brasil a partir da Laudato si’
O presidente da Comissão, então, exemplifica o que está sendo feito a partir do Brasil para ajudar nesse “caminho de vida e de cura” do nosso planeta doente. A Encíclica tem sido lida nas paróquias de todo o país e colocada em prática nas comunidades através de práticas pastorais da Igreja. Uma mobilização em prol da Casa Comum que também tem sido acolhida nas universidades e em ambientes sociais.
O bispo também cita outros documentos importantes para serem usados nesse processo, como a carta baseada na Laudato si’ do Celam, “Guardiões da Casa Comum”, e a própria “Querida Amazonia”, do Papa Francisco, que reflete a urgência de colocar em prática a Encíclica em diferentes âmbitos, não apenas no eclesial. Dom Sebastião, assim, lembra que um dos momentos mais importantes vividos durante essa caminhada de 5 anos da Encíclica foi o próprio Sínodo para a Amazônia que, no seu Documento Final, propôs várias conversões, especialmente, “a cultural e a conversão para a sinodalidade”.
O debate da Ecologia Integral
“Que esses possam ser um sinal de Deus”, afirma dom Sebastião, nestes tempos difíceis e de várias crises, inclusive a política no Brasil, com “muitas controvérsias e até mesmo de acirramentos”. O próprio documento lembra que “a Ecologia Integral nos ensina que tudo está interligado na Casa Comum”. Trata-se de um longo processo para construir uma nova civilização, com “linhas de orientação e de ação para mudar a cultura pautada no consumismo” e “que deve contar com a colaboração de lideranças políticas e religiosas de todo mundo”.
“A tentativa de mineração em áreas indígenas, que o governo está querendo impor, e é claro que isso vai trazer para nós, não só uma reflexão, mas uma presença muito ativa e solidária da Igreja e da Comissão para Amazônia, mas também a Comissão para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB que tem publicado textos e colaborado com esse debate de uma Ecologia Integral, onde o meio ambiente e o ser humano são importantes, onde a Amazônia não seja simplesmente objeto da ganância e do lucro e também da exploração predatória, mas que se valorize os povos que ali vivem e a própria natureza, também com o direito que a natureza tem por si mesma de existir.”
A Semana Laudato si’ no Brasil
A conversão é exigente e profunda, lembra o documento enviado ao Papa, através de “uma aliança coletiva”, aquela da Ecologia Integral. “Seja em relação ao minério, ao petróleo, à água ou às florestas, é urgente passarmos a uma forma de vida pós-extrativista, inclusive pela profecia de uma Igreja que ouse retirar seus investimentos financeiros de todo tipo de extrativismo predatório! Precisamos reaprender a respeitar as dinâmicas metabólicas do planeta, o ritmo e os ciclos das águas, das estações, da vida”, fala o texto. A obra da criação, finaliza dom Sebastião, precisa estar a serviço de todos e não apenas de alguns grupos. A Igreja, como uma das responsáveis em cuidar dela, tem proposto o debate da conversão ecológica numa semana intensa de reflexão sobre o tema no Brasil porque, celebrar a Laudato si’ significa trazer suas denúncias, sonhos, intuições e propostas para o cotidiano da vida litúrgica e pastoral de nossa Igreja, numa continuidade fluida entre a formação, a ação e a celebração cristã”.
“Nós enviamos uma carta ao Papa Francisco, um texto que já foi publicado, e também falando da nossa programação que temos pela frente. No dia 21, por exemplo, teremos uma live importante com os cientistas que se inspiram na Laudato si’ e que estão nos ciclos universitários, ajudando a atualizar e a tornar presente o pensamento do Papa Francisco em relação à Casa Comum.”
Fonte: Vatican News