Cristo nos Salva e nos Envia Através dos Leigos e Leigas

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“A missão leiga pode ser concretizada a dois passos de nós, como também a quilômetros de distância.”

Minha pequena trajetória missionária junto às Irmãs Catequistas Franciscanas mostrou que, ser missionário(a) leigo(a) é sair de si mesmo; sair do mundo de conforto, de comodidade, de egocentrismo; sair da terra da ignorância, mediocridade… para fazer a vontade Dele. Ir sem temor, sem preconceito, sem regras estabelecidas. Ir desarmado(a) porque Ele nos mostra, nos guia, nos protege.

Com essa visão, acredito que todos(as) nós, simpatizantes do carisma, podemos e devemos ser missionários(as) ao lado das Irmãs Catequistas Franciscanas, onde quer que elas estejam. Afinal, não foi a esse Carisma que optamos nos unir?

A missão leiga pode ser concretizada a dois passos de nós, como também a quilômetros de distância. Basta ouvir o coração e dizer sim.

O Papa Francisco nos diz que missão é sair de si para dar a vida. É saída em direção ao chamado. Deus pede nossa disponibilidade pessoal.

O exercício missionário cria em nós um novo espírito para imprimir a capacidade de conhecer a verdade, experimentando a compaixão, escolhendo a bondade e ofertando a alegria.

Como depoimento de caminhada missionária, transcrevo breve relato de um trabalho realizado em Angola:

Uma das experiências mais comoventes aqui em Angola é a realização de aulas de “reforço” para algumas mamás (mães) em processo de alfabetização. Noemi, Ruthe, Esther, Sarah, Ana, Maria, Isabel, Lia, cada qual com sua história e suas peculiaridades. Mamás que trazem no coração e na mente as marcas da guerra, da fome, da dor…marcas essas que insistem em bloquear o aprendizado.

Marcas de guerra e de miséria são incalculáveis e se manifestam em várias nuances. Noemi apresenta dificuldades em memorizar o desenho das letras, o nome e o som de cada uma delas. Ruthe, cada vez que é questionada sobre sua leitura, a escrita das palavras ou das famílias que as compõem, perde-se em risadas incontroláveis que acusam seu nervosismo e medo de errar. Esther, com seus olhos sempre arregalados, presta a atenção para não ser ridicularizada pelo fato de não conseguir ler, somente soletrar. Sarah, muito reservada, apresenta limitações para interagir descontraidamente. Ana, ansiosa e muito acelerada, tem dificuldades para esperar e aprofundar. Maria, extremamente tímida; sua voz muito baixa; esconde o caderno com as mãos cada vez que eu me aproximo para acompanhar a caligrafia. Isabel, com dificuldade de manifestar doçura, guarda no peito a raiva e o rancor de uma vida árdua, sem muita perspectiva; traz para a aula somente pedaços de caderno e lápis que lhe são possíveis ter. Lia, com passagem rápida pelo “reforço”, logo consegue recuperar e acompanhar as explicações do facilitador (alfabetizador).

Nos encontros de 2 a 3 vezes por semana, com duração de duas horas, afinamos nossas relações e os avanços são visíveis. O que essas mamás precisam é de atenção, de alguém que as incentive e acredite no seu potencial; de alguém paciente que respeite o ritmo de cada uma, de alguém que aplique o melhor método, a melhor didática para cada situação; de alguém que as compreenda e as ame.

Noemi só conseguiu memorizar as vogais depois que simulamos ser cada vogal um filho seu: A, seria a mais velha; E, o segundo; I, o terceiro, bem fininho; O, o mais cheinho e U, o caçula. Com a afirmativa de que uma mãe sempre reconhece os seus filhos, onde quer que estejam, e que ela não poderia perde-los, Noemi passa a reconhecer as vogais, localizá-las nas palavras e chamá-las pelos devidos nomes.

Três frases de Paulo Freire me inspiram nesse trabalho:

“Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante”;

“A leitura de mundo, precede a leitura da palavra”;

“É preciso que a leitura seja um ato de amor”.

A convivência com essas mulheres me faz uma pessoa melhor. Sou eternamente grata.

Por: Luciana Luiza Schmitt – Simpatizante do Carisma

Fonte: Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas

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