Entrevista: Movimento Laudato Si’, com Mayra Santos, JUFRA

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MAYRA CAROLINY DE OLIVEIRA SANTOS

Mayra Santos é natural de Floriano, Piauí. Bióloga, mestra em Zoologia com ênfase em Conservação da Biodiversidade, doutoranda em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Secretária Nacional para a área Nordeste A e Regional A2 CE/PI da Juventude Franciscana do Brasil. E atua como Coordenadora de programas do Movimento Laudato Si’.

1. Mayra, dia 24 de maio, nós vamos celebrar 07 anos da Encíclica Laudato Si’. Quais efeitos sociais a Encíclica despertou na Igreja e nas relações inter-religiosas no Brasil?

Partindo da premissa que “Tudo está conectado”, o Papa uniu a religião com a ciência, trazendo de maneira simples o que muitos e muitas não entendiam ou não conseguiam assimilar na sociedade. Ver a Criação e as criaturas, o sagrado, como algo que fazemos parte, que é por nosso dever ser cuidado. Cuidar da casa comum aos olhos de Francisco deixou, o que os cientistas há muito falam, digamos “popularizado”. E ao mesmo tempo uniu religiões, por ser uma luta de todos e todas, por estarmos conectados e a necessidade de mudanças que é responsabilidade de cada um e cada uma.

Todos os anos são publicados relatórios, artigos e notas que apontam tudo que está acontecendo e o que vai acontecer, perdas e até espécies que não iremos conhecer e que muitas vezes não chega à sociedade ficando fechado a quem “detém o conhecimento”, pelo palavreado, palavras complexas e até o difícil acesso. A carta encíclica mudou isso e abriu a visão, nela contém informações socioambientais importantes e escancara quem são os atingidos, os que sofrem. Desde 2015, a carta e todas as ações recorrentes delas uniu e fez gerar mudanças em todas as pessoas.

2. Sabemos que mudar de estilo de vida é um compromisso global. São vários passos. Como o Movimento Laudato Si’ em parceria com a 1ª, 2ª e 3ª Ordem Franciscana além da CFFB, CNBB, CONIC tem contribuído para a formação humana, social, política e ecologia na base da Família?

Essas parcerias são importantes para chegar na base.  E essa é a maneira que queremos contribuir: chegando na base, em quem de fato movimenta e propaga os compromissos propostos pelo Papa. Juntos/juntas conseguimos criar cursos, gestos concretos, atividades em conjunto, que movimenta para além da internet e sim, no cotidiano e base familiar. Utilizamos datas importantes para divulgação de materiais, usando a comunicação em parceria para chegar a diversas pessoas através das redes. A base é de fato a propagadora de mudanças.

3. Neste semestre mais uma turma de Animadores Laudato Si’ iniciará. Quantas pessoas já foram capacitadas em nosso país? Quais os efeitos positivos e os desafios no atual contexto brasileiro?

Mais de 1.500 pessoas certificadas no Brasil e em países de língua portuguesa,  no curso de Animadores Laudato Si’, que é um curso presente no mundo todo. Esses animadores e animadoras são importantes, todos e todas levam o movimento para suas comunidades e nos ajudam no desafio de chegar em todos os locais e até locais com muitas problemáticas ambientais e nos trazem informações de acontecimentos que muitas vezes não são divulgados amplamente. Desde o início do curso propomos a execução de projetos nas comunidades, necessário para receber a certificação, portanto propagamos para mais pessoas, para além dos inscritos.

Para conhecer mais sobre o curso, acesse: https://laudatosianimators.org/pt/home-pt/

4. No Evangelho percebemos em raríssimas passagens o cuidado com a Mãe Terra. Já em Francisco de Assis, no Cântico das Criaturas fica evidente a vida simples, espiritual, e de defesa que devemos ter com nossa Casa Comum. Quais pesquisas e análises o Movimento realiza para além da capacitação? Há grupos, coletivos, associações, entidades civis parceiras?

Além do curso, temos atividades para animadores que finalizaram o curso, muitos formam grupos regionais, chamados Capítulos Laudato Si’ e outros em suas comunidades formam os Círculos Laudato Si’, no qual o Movimento publica material mensalmente para os encontros. Também temos capacitações anuais como as Oficinas Laudato Si’, que apresenta caminhos para os animadores e lideranças regionais, e, também, o encontro Intercontinental para animadores dos países de língua portuguesa. Nós também oferecemos diversas conferências durante a semana Laudato Si’ e o Tempo da Criação, a maioria delas com nossos parceiros e membros.

5. Atualmente, você integra o Secretariado Fraterno Nacional da JUFRA do Brasil para a Área Nordeste A. Quais ações a JUFRA e a OFS realizaram em parceria com o Movimento? Como a Vida Religiosa Masculina e Feminina poderia firmar parcerias?

Sim, com certeza podem. O Movimento Laudato Si’ nasceu a partir da Carta encíclica do Papa que teve com inspiração nosso Pai Seráfico São Francisco de Assis, acredito que isso chama a atenção da Família Franciscana, e enquanto família nos deixa a vontade para trabalhar com todos os ramos do Movimento. Temos muitos animadores que são da Família e que todos os anos participam do curso e propagam todas as atividades, é sempre uma alegria. Como exemplo de atividades prática com a Família, todos os anos (antes da pandemia), por exemplo, em Canindé, montávamos um local durante os festejos de São Francisco para falar da encíclica e os nossos voluntários são as irmãs e os irmãos Franciscanos, freis, freiras, jufristas e a OFS.

6. Seria possível apresentar o tema e alguns pontos de sua pesquisa de doutorado? Tem inspiração em Francisco e Clara?

Eu sempre digo que Francisco e Clara estiveram presentes em minhas escolhas, sou bióloga por conta disso e estar em um Doutorado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade é muito desafiador e ao mesmo tempo uma felicidade imensa. Eu cresci no interior do Piauí com muitos sonhos e dificuldade e, por essas razões, não perco de vista meu ponto de partida, parafraseando Santa Clara. Portanto, meus trabalhos e dissertação de mestrado foram em ambientes de Cerrado e Caatinga, biomas presentes no meu estado e sigo colocando no doutorado esses biomas. Um deles está extremamente em perigo por conta de grandes empreendimentos agropecuários e o outro por ser um ambiente único de savana que apenas existe no Brasil e que também sofre desmatamento. Então decidi mostrar através de um grupo de animais, os anuros, que conhecemos como sapos, rãs e pererecas, a necessidade de preservação desses ambientes que possuem uma biodiversidade imensurável, a exemplos dos próprios anuros que são ligados com o ambiente e que precisam também ser preservados para que outros animais e outras funções sejam preservadas. Afinal, tudo está interligado na natureza.

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