FRANCISCLAREANDO | Recomeçar com Fervor e Alegria

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“Irmãos vamos recomeçar a servir ao Senhor”! Recomeçar não supõe obrigatoriamente ruptura, senão retomada, reengate depois de pequena pausa. De fato, com as festividades natalícias a humanidade cristã fez uma pausa no cotidiano rotineiro para celebrar o Amor que veio a nós em forma de frágil criança, para lembrar-nos que nossa fragilidade tem potencial divino para ser fortaleza. Fizemos uma pausa e, como os pastores, fomos visitar o Menino e levar-lhe as ofertas de nossa pobreza. Visitamos familiares, amigos, amigas. Igual aos sábios que, reconhecendo o sinal seguiram a estrela e tiveram um marcante encontro com este Amor que lhes deu luz para reconhecer a malícia do poder diante de imaginária ameaça para seu domínio, que os iluminou a buscar caminhos alternativos para salvar a vida, realmente, ameaçada. Como Maria, como José fizemos pausa no cotidiano para agradecer ao Amor Divino que se fez criança e veio morar entre nós.

Mudamos o calendário. Recomeçamos a contagem dos dias, recomeçamos muitas atividades que tínhamos pausado. E talvez não colocamos neste recomeço o fervor que merecia, a energia que lhe poderia dar um rosto diferente.

Francisco nos ensina com seu exemplo a recomeçar, com coragem e fervor apesar dos obstáculos, das dificuldades. Sua vida foi um rosário de recomeços, desde que, ouvindo o apelo do Crucificado se dispôs a seguir unicamente o caminho do santo Evangelho: “Assim, o servo de Deus, Francisco, despojado de todas as coisas que são do mundo, dedicou-se à justiça divina, e, desprezando a própria vida, entregou-se ao serviço divino por todos os modos possíveis.

Voltando à igreja de São Damião, alegre e fervoroso, fez para si um hábito como de eremita e confortou o sacerdote daquela igreja com as mesmas palavras com que fora confortado pelo bispo. Depois, levantou, entrou na cidade e, como um ébrio do espírito, começou a louvar o Senhor pelas praças e becos.

Mas quando acabou essa louvação do Senhor, voltou-se para adquirir pedras para a reparação da referida igreja dizendo: “Quem me der uma pedra terá uma recompensa, quem me der duas, terá duas recompensas, mas quem me der três, terá outras tantas recompensas”.

Falava assim e com muitas outras palavras simples, porque era iletrado e simples, escolhido por Deus não por palavras doutas da sabedoria humana, mas portava-se em tudo simplesmente.

Muitos zombavam dele, julgando-o louco; outros ainda, movidos pela piedade, eram levados às lágrimas, vendo como ele abandonara tão grande intemperança e vaidade do mundo e se deixara tão rapidamente inebriar do amor divino. Mas ele, desprezando as zombarias, dava graças a Deus, com todo fervor do espírito” (LTC 21,1-10).

Nos atrevemos aqui a dizer que, para Clara, recomeçar significa ser firme em seu propósito, perseverar. São bem conhecidos os obstáculos que enfrentou para seguir Jesus Cristo na pobreza, como O seguia Francisco, da maneira como ela desejava seguir. Sua tenacidade em garantir a originalidade do projeto a levou a envolver o próprio papa, solicitando a aprovação de seu propósito de viver a pobreza como privilégio. A Legenda nos traz este testemunho: Quando a notícia lhes chegou aos ouvidos, os parentes ficaram de coração dilacerado, condenaram o acontecido e os propósitos de Clara, e querendo conseguir o impossível, juntaram-se e dirigiram-se ao local. Usando da força e da violência, conselhos dissuasores e promessas vãs, tentaram demovê-la de situação tão humilhante e tão em desacordo com a sua condição e sem precedentes nas redondezas. Mas Clara, agarrando-se às toalhas do altar e descobrindo a cabeça tonsurada, reafirmou a sua vontade de não mais se deixar arrancar ao serviço de Cristo. A oposição dos seus aumentou-lhe a coragem e as perseguições tornaram maior a força do seu amor.

E assim, apesar de contrariada durante muito tempo no caminho do Senhor e opondo-se os parentes à sua opção de santidade, não esmoreceu o ânimo nem diminuiu o fervor. Pelo contrário, entre insultos e desprezos renovou a esperança, até que os parentes desanimaram dos seus intentos e a deixaram em paz (LSC 9,1-5;14,1-3).

Nosso mundo está cheio de Herodes que matam aberta ou mascaradamente, mas também cheio de humildes pastores que sempre abrem as mãos para dar de sua pobreza; está cheio de sábios que, atentos aos sinais dos tempos, se colocam a caminho com esperança, levantando-se quando tropeçam, dando-se as mãos para não cair, retomando o caminho cada vez que involuntariamente se desviam, buscando alternativas para defender a vida ameaçada, malogrando os planos dos Herodes com sua política de morte.

Que Francisco, Clara, todas/os que, já tendo “lavado suas vestes no sangue do Cordeiro”, estão mergulhados na Fonte da vida, nos ajudem a recomeçar sempre com fervor e alegria, sendo o braço renovador de Deus que, a cada dia, faz “novas todas as coisas”.

Autora: Irmã Maria Fachini, CICAF

Disponível em: CICAF.org.br

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