Com a natureza vivemos o fecundo tempo outonal, quando a terra explode em generosidade e se enfeita de frutos belos e saborosos. A terra trabalha, silenciosa e ininterruptamente para produzir o alimento de todo ser que vive nela, para adornar-se, (afinal, é feminina), para acolher-nos quando já tivermos cumprido nossa missão e ajudar-nos a voltar a ser o que éramos: pó, humus, terra…
O trabalho é uma das facetas de nossa semelhança com Deus. Por ele continuamos a obra da criação e por ele cumprimos a missão de dominar (transformar a terra em domus, em lar familiar), “casa comum” segundo nosso Papa.
Para Francisco, o trabalho é graça, “E os irmãos que forem capazes de trabalhar, trabalhem; e exerçam a profissão que aprenderam, enquanto não prejudicar o bem de sua alma e eles puderem exercê-la honestamente. Porquanto diz o Profeta: “Viverás do trabalho de tuas mãos: serás feliz e terás bem-estar” e o Apóstolo: “Quem não quer trabalhar não coma”. “Cada qual permaneça naquele ofício e cargo para o qual foi chamado”. E como retribuição pelo trabalho podem aceitar todas as coisas de que precisam, exceto dinheiro” (RnB 7, 4-6).
Ele dá o exemplo, trabalhando sempre: “E eu trabalhava com minhas mãos, e quero firmemente que todos os outros frades trabalhem em trabalho que convém à decência. Os que não sabem, aprendam, não pela cobiça de receber o preço do trabalho, mas pelo exemplo e para repelir a ociosidade. E quando não nos derem o preço do trabalho, recorramos à mesa do Senhor, pedindo esmola de porta em porta” (Test 20-22).
Clara reconhece e testemunha a graça do trabalho dedicado e devoto e o estabelece como regra de vida: “As Irmãs a quem o Senhor deu a graça de trabalhar trabalhem com fidelidade e devoção, depois da hora de Terça, em um trabalho que seja conveniente à honestidade e ao bem comum, de modo que, afastando o ócio, inimigo da alma, não extingam o espírito da santa oração e devoção, ao qual as outras coisas temporais devem servir” (RSC 7,1-2).
“Disse também que durante o tempo em que esteve doente, a ponto de não se poder erguer do leito, pedia que nele a sentassem e, amparada com almofadas, fiava e tecia os panos com que confeccionava os corporais que depois oferecia às igrejas do vale e das colinas de Assis. Interrogada sobre como teve conhecimento destas coisas, afirmou que a viu fiar e tecer muitas vezes e observou que as irmãs cosiam os corporais e os enviavam, através dos irmãos, às ditas igrejas ou os ofereciam a sacerdotes que visitavam o mosteiro” (PC 1,11).
A humanidade vem cumprindo a ordem do Criador de crescer, de transformar o mundo em casa. Infelizmente vemos que muitos seres foram e estão sendo excluídos desta casa, que teria lugar para todos. Que nossa luta seja pelo respeito ao direito de cada ser ao seu lugar nesta casa e que cada trabalho seja respeitado. Que não nos cansemos de lutar pelo trabalho justo e pela justiça no trabalho. E que, por nosso trabalho possamos concretizar o sonho de justiça do Criador para seus filhos e filhas: “Construirão casas e nelas habitarão; plantarão vinhas e comerão do seu fruto” (Is 65,21).
Escrito por: Irmã Maria Fachini – Irmã Catequista Franciscana.
Fonte: cicaf.org.br