Frei Modestino: intuição que nos inspira

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A pausa que estamos vivendo, necessária em tempos de pandemia, nos obriga também a adentrarmos nos nossos sonhos, anseios, desejos e buscas de pequenas a grandes mudanças.

Percorrendo a nossa história, paramos no OLHAR INSPIRADOR, na INTUIÇÃO PRIMEIRA, que continua latejando ainda hoje na continuidade da promoção e defesa da vida.

Nossa Congregação nasceu como resposta ao apelo de Deus, manifestado na necessidade da realidade concreta de Rodeio-SC, há mais de cem anos! Há um grande caminho percorrido desde a intuição primeira, mas os desafios da realidade continuam nos provocando a não desistir de caminhar.

Frei Modestino, “homem ativo e piedoso. Um verdadeiro frade. Em sua dureza e rudez exterior, percebia-se a simplicidade, a coragem. Mesmo dando provas do medo, a coragem era guia dos seus passos. Homem de uma piedade sólida e profunda, de fé inabalável, oração contínua e amor a Nossa Senhora. Totalmente doado ao próximo. Por seu temperamento, os conflitos interiores se externavam na vida cotidiana, mas sabia unir os anseios de liberdade com a obediência.

As ideias fluíam na vida de Frei Modestino. Ele é o autor da iniciativa de Frei Policarpo, de atribuir a função de professoras nas escolas às mulheres. Sabia ele do valor do trabalho feminino, onde a base de tudo é o amor, a sensibilidade e o carinho materno”, assim nos escreve sobre o Frei Modestino, a Irmã Augusta Neotti no livro “Nos Trilhos da História”.

A “intuição” original de Francisco, seguida também por Clara de Assis, tinha como luz e norma o Evangelho e isso bastava. Aos poucos, no confronto com novas realidades, várias mudanças na organização foram sendo necessárias. Essas mudanças não foram isentas de conflitos. Francisco e Clara, desde cedo, souberam enfrentar os desafios, mantendo a fidelidade ao projeto original e atendendo às novas exigências da realidade. Juntos, os novos irmãos e irmãs vão discernindo o proceder com o novo que vai surgindo e sendo vislumbrado. Acreditam que o mesmo Senhor, que deu o bom começo, dará o crescimento e também a perseverança na continuidade.

Irmã Marlene Puri recorda Frei Modestino:

“A falta de professores nas escolas paroquiais de Rodeio/SC provocou Frei Modestino a sonhar e buscar novas alternativas junto com Frei Polycarpo. Dá para notar sua grande sensibilidade diante da realidade do povo, e sua relação de fraternidade, companheirismo, partilha e diálogo com frei Polycarpo, para juntos buscarem uma solução para a educação nas escolas paroquiais.

Frei Modestino disse a Frei Polycarpo: “porque não pensamos nas mulheres?” Porque até agora eram só os homens que podiam dar aulas. Fez uma proposta ousada e positiva. Ele conseguiu olhar as mulheres com o olhar de Jesus Cristo, que aprendeu com as mulheres, acreditou nas mulheres, confiou a missão a elas. Podemos recordar a Samaritana e Maria Madalena, que, entre tantas, no seguimento de Jesus, tornaram-se protagonistas da missão.

Frei Modestino pensou e confiou que as moças do grupo das filhas de Maria e da Ordem Franciscana Secular poderiam responder à falta de professores. Amábile Avosani, Maria Avosani e Liduína Venturi deixaram-se contagiar por esse sonho.

Neste tempo em que somos convocadas a “reinventar caminhos”, Frei Modestino nos inspira através de sua capacidade de escuta, com o coração sensível às necessidades do povo. Precisamos escutar o povo, ouvir seus clamores, perceber suas potencialidades. Modestino teve uma sensibilidade espiritual e soube ler e reconhecer a mensagem de Deus através da realidade. Deixemos que a realidade atual nos interpele em nossa vida-missão, tanto a realidade local onde vivemos, como a realidade do mundo.

Os freis Modestino e Polycarpo viram, sentiram compaixão do povo que não tinha escola para suas crianças. No diálogo, os dois buscaram alternativa. Olhando para os dois, percebemos que o diálogo e a comunhão na missão são fundamentais para responder às necessidades da realidade em que vivemos e construir caminhos alternativos.”

O Papa Francisco na Exortação Apostólica Pós-Sinodal ‘Querida Amazônia’ nos diz que “a Força e o Dom das mulheres nos convida a alargar os horizontes para evitar reduzir a compreensão da Igreja a meras estruturas funcionais. A Vida Religiosa Consagrada, capaz de diálogo, síntese, encarnação e profecia, ocupa um lugar especial na configuração plural e harmoniosa da Igreja, especialmente a amazônica”.

Estamos vivendo um novo período, uma nova época, a ecológica, marcada por uma profunda consciência da presença do Sagrado em cada realidade do Universo.

A Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas tem 105 anos de história. Muitas mudanças aconteceram nesse tempo, algumas bastante significativas. Porém o momento atual, o hoje, nos pede mudanças, um novo olhar, sem perder de vista a intuição inicial, mas acreditando que, também hoje, Deus continua sendo o autor desta história que vamos escrevendo.

O futuro nunca foi tão incerto como o sentimos agora, em todos os aspectos. No entanto, se não avançamos, corremos o risco de engessar o CARISMA por medo de arriscar.

No sonho de ressignificarmos nossa forma de organização, abre-nos uma porta, vislumbra-se um novo horizonte sem fronteiras. Sentimos a necessidade de uma nova configuração, reavivando em nós o encantamento por Jesus Cristo, a paixão pelo Reino e pela humanidade; reafirmando as opções missionárias prioritárias na congregação, possibilitando sempre mais a convivência em fraternidade e o cultivo da mística e espiritualidade, respondendo de forma mais leve, ágil e criativa aos desafios atuais da nossa vida-missão.

Este novo requer de nós um olhar contemplativo, corajoso, ousado e de discernimento, ir tecendo relações interculturais e intergeracionais no cotidiano, abertura para acolher a novidade que o Espírito de Deus vai suscitando. É muito importante que neste processo estejamos atentas aos clamores e vozes da Amazônia. E nós, todas, onde quer que estejamos, nos deixemos “amazonizar”.

A Igreja nos propõe uma Vida Consagrada alternativa e profética, intercongregacional, com um sentido e disposição para estar onde ninguém quer estar e com quantos ninguém quer estar. Aqui cabe bem a intuição e o apelo inicial que nos lança para um novo esforço de inculturação que ponha em jogo a criatividade, a audácia missionária, a sensibilidade da Vida Comunitária. Isso faz parte do nosso Carisma, da nossa essência e origem.

Ainda somos catequistas, educadoras, formadoras de opinião. Então, nunca esqueçamos de ajudar os povos, as populações onde estamos inseridas e dentro de nossas casas, a manter os projetos de vida. A descobrir e ajudar a descobrir que Deus está em tudo e tudo está em Deus.

O novo nos exige mudanças e mudanças radicais. É o que nos está desafiando este tempo de pandemia mundial, catástrofes locais e o grito insistente da terra e dos pobres ignorados. Repito aqui o artigo 06 da nossa Forma de Vida: “o apelo de recomeçar sempre, e o testemunho dos pobres nos animam a viver com radicalidade as características de nossa origem”.

“De tudo ficaram três coisas…
A certeza de que estamos começando…
A certeza de que é preciso continuar…
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar…
Façamos da interrupção um caminho novo…
Da queda, um passo de dança…
Do medo, uma escada…
Do sonho, uma ponte…
Da procura, um encontro!”

Fernando Sabino

Irmãs Míriam Spezia e Puri Mafikene Marlene

Fonte: Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas

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