Em meio ao Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, em andamento no Vaticano, o Papa Francisco canonizará Irmã Dulce dos Pobres, conhecida como “O Anjo Bom da Bahia”, a primeira santa genuinamente brasileira, já que Santa Paulina nasceu na Itália. Com sua canonização e de outros quatro novos santos, neste domingo, 13 de outubro, Francisco atinge a marca de 892 santos em seu Pontificado.
A vida de Irmã Dulce, que nasceu em Salvador, foi marcada por ações de caridade e assistência aos mais pobres. A vocação para ajudar o próximo se manifestou bem cedo, quando ela ainda era criança. Em Salvador, sua terra natal, a festa está marcada para o dia 20, domingo seguinte, em que estarão presentes muitos dos que conviveram com a Santa. O presidente Jair Bolsonaro cancelou sua participação na primeira celebração no Brasil na Arena Fonte Nova.
A baiana Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador. Religiosa da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, Irmã Dulce morreu em 13 de março de 1992. A religiosa foi beatificada em 22 de maio de 2011, em cerimônia no Parque de Exposições.
A cura conseguida pelo baiano que mora em Recife, José Maurício, levou Irmã Dulce à glória dos altares. Através das orações à Beata Dulce, José voltou a ver.
O Início do Processo
A Canonização de Irmã Dulce começou em janeiro de 2000. Com o início do processo, seus restos mortais, que desde 1992 estavam na Igreja da Conceição da Praia, foram então transferidos para a Capela do Convento Santo Antônio, na sede das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), também em Salvador.
Já em abril de 2009, o Papa Bento XVI reconheceu as virtudes heróicas da Serva de Deus, autorizando oficialmente a concessão do título de Venerável à freira baiana. O título foi o reconhecimento de que Irmã Dulce viveu, em grau heróico, as virtudes cristãs da fé, esperança e caridade.
O voto favorável e unânime da Congregação para a Causa dos Santos, que levou ao título de Venerável, havia sido concedido em 2008 e anunciado em janeiro de 2009 pelo colégio de cardeais, bispos e teólogos após a análise da Positio – documento canônico misto de relato biográfico e das virtudes e resumo dos testemunhos do processo. Os teólogos que estudaram a vida e as obras de Irmã Dulce a definiram como a “Madre Teresa do Brasil”, pelas semelhanças do seu testemunho cristão com a santa de Calcutá, sendo “um conforto para os pobres e um exame de consciência para os ricos”.
O título de Bem-Aventurada Dulce dos Pobres foi concedido depois que foi reconhecido como milagre a salvação, pela intercessão de Irmã Dulce, da sergipana Cláudia Cristiane Santos. Em janeiro de 2001, ela sofreu durante 18 horas com sangramentos após o parto do seu filho, Gabriel, na Casa de Saúde e Maternidade São José, na cidade de Itabaiana. Após o padre José Almí de Menezes pedir a intercessão de Irmã Dulce, Cláudia se viu curada instantaneamente.
Amor aos pobres desde pequena
Aos sete anos, em 1921, perdeu sua mãe. No ano seguinte, junto com seus irmãos Augusto e Dulce, faz a primeira comunhão na Igreja de Santo Antônio Além do Carmo.
A vocação para trabalhar em benefício da população carente teve a influência direta da família, uma herança do pai que ela levou adiante, com o apoio decisivo da irmã, Dulcinha. Aos 13 anos, a menina passou a acolher mendigos e doentes em sua casa, transformando a residência da família – na Rua da Independência, 61, no bairro de Nazaré – num centro de atendimento. A casa ficou conhecida como ‘A Portaria de São Francisco’, tal era o número de carentes que se aglomeravam à sua porta. Também foi nessa época que ela manifestou pela primeira vez, após visitar com uma tia áreas onde habitavam pessoas pobres, o desejo de se dedicar à vida religiosa.
Foi a segunda filha do dentista Augusto Lopes Pontes, professor da Faculdade de Odontologia, e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes. Em 8 de fevereiro de 1933, logo após a sua formatura como professora, Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, no estado de Sergipe. Em 13 de agosto de 1933, recebeu o hábito de freira das Irmãs Missionárias e adotou, em homenagem à sua mãe, o nome de Irmã Dulce.
A primeira missão de Irmã Dulce como freira foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação, no bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa, em Salvador. Mas o seu pensamento estava voltado mesmo para o trabalho com os pequeninos.
Já em 1935, dava assistência à comunidade pobre de Alagados, conjunto de palafitas no bairro de Itapagipe. Nessa mesma época, começou a atender também os operários do bairro, criando um posto médico e fundando, em 1936, a União Operária São Francisco – primeira organização operária católica do estado, que depois deu origem ao Círculo Operário da Bahia. Em 1937, fundou, juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup, o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído através de doações.
Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugurou o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.
O Galinheiro vira hospital
Em 1939, Irmã Dulce invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos, para abrigar doentes que recolhia nas ruas de Salvador. Foi expulsa do lugar, e peregrinou por quase uma década, levando os seus doentes por vários locais da cidade. Por fim, em 1949, Irmã Dulce ocupou um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, após autorização da sua superiora, com os primeiros 70 doentes.
A iniciativa deu origem à tradição propagada há décadas pelo povo baiano de que a freira construiu o maior hospital da Bahia a partir de um simples galinheiro. Já em 1959, foi instalada oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce e, no ano seguinte, foi inaugurado o Albergue Santo Antônio.
O incentivo para construir a sua obra, Irmã Dulce teve do povo baiano, de brasileiros de diversos estados e de personalidades internacionais. Em 1988, ela foi indicada pelo então presidente da República, José Sarney, com o apoio da Rainha Sílvia, da Suécia, para o Prêmio Nobel da Paz. Oito anos antes, no dia 7 de julho de 1980, Irmã Dulce ouvia do Papa João Paulo II, na sua primeira visita ao país, o incentivo para prosseguir com a sua obra.
Irmã Dulce e o Papa João Paulo II voltariam a se encontrar em 20 de outubro de 1991, na segunda visita do Sumo Pontífice ao Brasil. João Paulo II fez questão de quebrar o rigor da sua agenda e foi ao Convento Santo Antônio visitar a religiosa baiana, cuja saúde já se encontrava bastante debilitada em função de problemas respiratórios. Cinco meses depois da visita do Papa, os baianos chorariam a morte do Anjo Bom do Brasil.
Sua memória é feita no 13 de agosto, escolhido como o dia oficial da festa litúrgica da religiosa. Foi nesta mesma data, em 1933, na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em Sergipe, que ela recebia o hábito de freira e adotava, em homenagem à sua mãe, o nome de Irmã Dulce.
Fonte: Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil