Momento histórico na Fundação Imaculada de Angola

1137

Moacir Beggo

Pela primeira vez desde a sua criação, há 28 anos, a Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola estará em festa pela ordenação diaconal de três jovens frades: Frei Ermelindo Francisco Bambi, Frei João Alberto Bunga e Frei João Batista C. Canjenjenga.

Os três serão ordenados pelo bispo diocesano de Viana, o Capuchinho Dom Joaquim Ferreira Lopes, no dia 15 de abril, às 9 horas, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, em Mulenvos, Viana.

Para marcar esse momento histórico, eles escolheram o lema “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Esse momento histórico da Fundação deixa os frutos dessa presença evangelizadora em Angola mais visíveis.

Em 28 anos, a FIMDA conta com dois frades ordenados presbíteros – Frei António Baza e Frei Afonso Quissongo – e os três que serão ordenados diáconos. A Fundação já não é mais uma pequena entidade. Ela tomou proporções bem maiores e os números falam por si. Além do grande número de vocacionados sendo acompanhados antes dos estágios vocacionais, o Seminário Monte Alverne contava com 48 seminaristas neste início do ano, o Postulantado Santo Antônio de Quibala admitiu 11 jovens e 8 fazem o Noviciado em Rodeio, no Brasil. Na Fraternidade Franciscana da Porciúncula, em Viana, que é etapa do pós-Noviciado, 29 frades de profissão temporária cursam Filosofia. Em Petrópolis, 5 frades cursam a Teologia.

A Missão de Angola foi elevada à condição de Fundação, com o nome de Imaculada Mãe de Deus, no dia 26 de maio de 1998. Hoje tem cinco Fraternidades.

Conheça os futuros diáconos


FREI ERMELINDO FRANCISCO

“Ser franciscano é a escolha mais acertada e feliz que fiz em minha vida”

Natural de Camabatela, Província do Kwanza Norte, onde nasceu no dia 1º de março de 1987, Frei Ermelindo é o quarto filho de cinco do casal Madalena e de Francisco Xavier Fortunato.

Frei Ermelindo conheceu os Frades Menores na pessoa de Frei José Antônio dos Santos, quando este era seu professor de História no Ensino Médio na Escola João XXIII, em Viana. Ingressou no Seminário Franciscano Monte Alverne, em Malange (2008), onde concluiu o Ensino Médio e o Curso de Filosofia. O Postulantado foi feito em Kibala em 2012. No ano seguinte, vestiu o hábito franciscano em Rodeio e iniciou o Curso de Teologia em 2014, no ITF. Fez seus estágios pastorais na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus e na Paróquia São João Batista em São João de Meriti e professou solenemente no dia 23 de setembro de 2017, em Petrópolis (RJ).

ACOMPANHE A ENTREVISTA

Site Franciscanos – Como se deu seu discernimento vocacional?

Frei Ermelindo – Tomar uma decisão a respeito do que fazer da vida não é fácil. Ter a certeza da vocação a seguir é ainda mais difícil, pois trata-se do chamado de Deus para a nossa vida. E é difícil justamente pelo fato de que nem sempre percebemos os sinais de Deus, nem sempre ouvimos a voz de Deus nos direcionando, sobretudo no mundo moderno onde há muitas vozes que soam alto e, se não estivermos atentos, podem abafar a Voz do Senhor. Foi dentro desse emaranhado de vozes que fui observando a realidade com atenção, ou seja, olhar tudo com os olhos do coração. E, aos poucos, fui fazendo o discernimento vocacional a partir de três realidades:

Minha família: Nela aprendi, e ainda aprendo hoje, valores que gostaria muito de compartilhar com as outras pessoas pelo mundo a fora.

A comunidade eclesial: As celebrações solenes em que participava, enquanto criança-adolescente, enchiam meu coração de alegria e de curiosidade, mesmo muitas vezes sem entender o real significado do que estava sendo celebrado.

A realidade social: Seguir mais de perto Nosso Senhor Jesus Cristo dentro da Ordem Franciscana significa também assumir as dificuldades e as contradições do mundo e estar do lado daquelas e daqueles que mais sofrem.

Foi dentro desta tripla dimensão que decidi fazer minha caminhada vocacional franciscana, para testemunhar o amor de Deus, para colaborar na Igreja de Cristo e para servir os pobres, quer sejam materiais ou espirituais.

Site Franciscanos – Por que escolheu ser frade franciscano?

Frei Ermelindo – Acredito que não fui eu quem escolheu ser franciscano, mas foi São Francisco quem me escolheu para a sua Ordem. A cidade em que nasci é profundamente franciscana. Desde pequeno, até aos 10 anos, o único grupo de (religiosos) padres que conhecia eram os Frades Menores Capuchinhos na vila de Camabatela. Quando minha família se mudou para Luanda, por conta do conflito armado, conheci outras congregações e, consequentemente, perdi o contato com os Capuchinhos. Quando eu conheci os Frades da Província, reativou em mim a paixão pelos franciscanos, daí não me restaram dúvidas que queria ser frade. Em fim, ser franciscano é uma escolha que eu fiz e faço todos os dias, porque me realiza como pessoa e como cristão. Ser franciscano é a escolha mais acertada e feliz que fiz em minha vida.

Site Franciscanos – Qual o significado do diaconato para você?

Frei Ermelindo – O diaconato é transitório, mas diaconia é para sempre. Exercer a diaconia, para mim, significa estar atento às necessidades de nossos confrades, das nossas comunidades, de todas as pessoas, sobretudo os mais pobres da nossa sociedade. Ser diácono não é apenas aparecer em grandes celebrações – o que é importante – mas estar em sintonia com a realidade que nos circunda, lavar os pés de quem precisa. Hoje, como muitas vezes admoesta o Papa Francisco, existem muitas pessoas que se encontram nas periferias existenciais, portanto diaconia é estar com essas pessoas. Diaconia significa agir no “anonimato”, como a perícope em que o Evangelista João narra as Bodas de Caná: os servos ouviram Maria dizendo que fizessem tudo que Jesus dissesse, portanto, encheram as seis talhas com água (em cada uma cabiam 100 litros de água). Por fim, foi nas mãos dos servos (diáconos) que a água se transformou em vinho. Esses detalhes são interessantes, porque quem serve não aparece. Assim deve ser o diácono. Assim eu quero ser!


FREI JOÃO ALBERTO BUNGA 

“Partilhar essa simplicidade, minoridade e fraternidade com todos que Deus me der”

Natural de Luanda, Frei Bunga nasceu no dia 5 de abril de 1988, filho de Alberto Abel e Dª Sofia Bunga, filhos de camponeses e pessoas simples. “Venho de uma família pobre em termos materiais, mas rica de amor. O esforço dos meus pais sempre foi o de transmitir uma boa educação para todos e penso que conseguiram. Eles, no entanto, não tiveram grandes oportunidades. Sempre desejaram para nós bênçãos e muita sorte na vida. Sou o quinto filho entre 10 que os meus pais tiveram, nos quais 3 são mulheres e 7 homens; atualmente estamos em 9”, explica Frei Bunga.

A vida franciscana o motivou desde cedo. “Desde pequeno queria ser padre. Quando vi meu tio (frade capuchinho) pela primeira vez, senti que deveria ser como ele. O tempo foi passando e o meu desejo de servir a Deus como sacerdote aumentava cada vez mais. Cresci num ambiente catequético com os salesianos; na escola, com os Maristas e tinha boa convivência com diocesanos. Todos me convidaram para ser um deles. Mas a chegada dos frades na minha Paróquia deu outro rumo ao meu discernimento vocacional. Foi uma proposta de vida que combinava com a minha forma de ser e ajudou para que eu fizesse a escolha certa. O dia em que assisti ao filme ‘Irmão Sol Irmã Lua’ consegui formar a minha opinião e tomar a decisão sobre o estilo de vida que gostaria de servir a Deus. Me cativou, portanto, a simplicidade e o desapego de Francisco e Clara. Pessoas que tinham quase tudo para serem felizes de outro jeito, mas preferiram partilhar aquilo de melhor que tinham com os pobres. Assim, meu desejo tem sido esse, partilhar com todos aqueles que Deus me coloca no caminho a graça de conhecer esses espírito de minoridade, fraternidade, sendo no meio das pessoas um outro Cristo a exemplo de Francisco de Assis”.

Sua caminhada vocacional começou na Paróquia São Lucas, em Palanka, onde fez acompanhamento vocacional. Nessa época estudava no Colégio dos Irmãos Maristas, em Luanda (2004-2007). “Fiz estágio vocacional em dezembro de 2007 e, em seguida, fui a Malange, onde iniciei o aspirantado na Fundação Imaculada Mãe de Deus. Fiz estudos filosóficos no Seminário Maior Arquidiocesano de Malange (2008-2010) e ingressei no Postulantado em Quibala (2011). Vesti o hábito franciscano em Rodeio (2012) e voltei para Angola, onde fiz o Ano Missionário no Seminário Monte Alverne (2013). Depois, retornei para cursar Teologia no ITF (2014-2017) e professei solenemente no dia 24 de setembro de 2017, em Petrópolis. Fui transferido para Fraternidade do São Francisco de Assis, em Palanka, como vice-formador da etapa de Filosofia e ajudo nos projetos sociais da FIMDA”, detalha Frei João.

Segundo Frei João, nessa caminhada, algumas provações só solidificaram sua vocação, como a morte de seu pai durante o Noviciado, a morte de sua sobrinha quando estava fazendo o Ano Missionário. No tempo da Teologia, mais perdas e mais provações: “Bem no primeiro ano, faleceu minha única avó e depois veio a falecer o meu irmão, que o chamava de ‘Sapiente’. Graças a Deus, em todos os lugares quando estes fatos aconteceram, a mão de Deus agiu. Tive apoio dos mestres, da comunidade formadora e dos irmãos de caminhada. Isso me marcou muito. Hoje, mais do que nunca, quero me entregar a Deus e participar da fraternidade franciscana, que me ensinou a vencer todos esses tropeços na minha vida”.

Para Frei João, ser diácono se resume na passagem bíblica, onde o próprio Filho do Homem afirma: “Não vim ao mundo para ser servido mas para servir, e dar a vida em resgate de muitos” (cf. Mc 10,45). “Portanto, ao aceitar assumir o ofício de diácono, me coloco à disposição da Igreja, daqueles que não têm voz nem vez e daqueles que também têm voz e vez, mas que estão fracos e pobres de Espírito. Ou seja, é partilhar essa simplicidade, minoridade e fraternidade franciscana com todos que Deus me der a graça de servir”, completou Frei João.


FREI JOÃO BAPTISTA CANJENJENGA

“É preciso dizer como  São Francisco de Assis:  “É isso que eu quero””

Natural de Huambo, onde nasceu no dia 3 de janeiro de 1986, Frei João Baptista Chilunda Canjenjenga é filho de Ana Maria Chitula e José Pedro Canjenjenga, o penúltimo de treze.

Ingressou no Seminário Monte Alverne, em Malange, em 2005, onde ali também fez o Postulantado em 2008. Vestiu o hábito franciscano em Rodeio no ano seguinte e se tornou o primeiro professo solene na celebração do jubileu da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola e o terceiro na história da Missão.

Cursou Filosofia em Luanda até 2013 e concluiu o curso de Teologia em Petrópolis em 2017. Na Fraternidade da Porciúncula, onde reside atualmente, é ecônomo e ajuda nos trabalhos sociais.

Acompanhe a entrevista

Site Franciscanos – Como se deu o seu discernimento vocacional?

Frei João – Desde pequeno comecei a sentir o chamado de Deus em meu coração. Ao longo dos anos, fui alimentando o meu sim a este chamado, que sempre se renovou, mas não manifestava publicamente. Certo dia, em 1996, a convite de um amigo, comecei a frequentar as reuniões do grupo vocacional da Paróquia Santa Cruz do Kanhe, como é conhecida popularmente pelos fiéis, assistida por padres diocesanos, na Província do Huambo. Em dezembro de 1999 tive que mudar de uma Província para outra, isto é, de Huambo, terra que me viu a nascer, para Luanda, com o propósito de morar com as minhas irmãs no município da Maianga. Procurando dar continuidade à minha participação nos encontros do grupo vocacional em Luanda, conversei com a minha irmã mais velha, que já era ‘expert’ em assuntos de Igreja, na Paróquia São Pedro Apóstolo, bairro do Prenda. Por sua vez, ela dirigiu-me a um vizinho nosso que já frequentava encontros vocacionais com os Frades Menores no Palanka, Quimbo São Francisco. No terceiro domingo do mês, dia em que aconteciam as reuniões, o vizinho levou-me à reunião. Foi então, pela primeira vez, que ouvi a história de São Francisco de Assis. Com o passar do tempo fui me identificando com o carisma franciscano e, com ajuda Deus e do promotor vocacional, fui amadurecendo o meu discernimento vocacional. Imaginei ser vontade de Deus, pois até então não me havia decidido em que Ordem ou Congregação serviria a Deus por intermédio do seu povo. Daí continuei a participar dos encontros vocacionais no Palanka com os frades. No momento posso afirmar que, com ajuda de Deus e dos confrades, tenho sido perseverante e persistente no sim ao chamado de Deus e ao seguimento de Cristo Jesus pobre e crucificado.

Site Franciscanos – Por que escolheu ser frade menor?

Frei João – Na verdade não escolhi ser Frade Menor. Quando criança, meu principal sonho era ser presbítero (estar entre os padres que estam vestidos de vestes brancas). Como disse acima, em Luanda, conheci os Frades Menores. Resumindo, hoje tenho a plena certeza de que foi Deus mesmo que me escolheu, me elegeu e me conduziu para que a sua vontade fosse feita em mim e na minha pessoa. Diante disso, a mim coube apenas a missão de dizer sim ao chamado de Deus para o seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a forma de vida dos Frades Menores.

Site Franciscanos – Qual o significado do diaconato para você?

Frei João – Para mim, o diaconato é o serviço encarregado dos pobres, marginalizados e enfermos, serviço vital para a Igreja encontrar sua identidade ao modo de Jesus Cristo. O ministério do diaconato impele ao serviço de animar, reavivar, organizar a comunidade em vista do serviço caritativo aos necessitados. O diaconato também remete ao anúncio da Palavra e a participação litúrgica que expressam a inseparabilidade entre o anúncio da salvação em Cristo e o serviço dos irmãos e irmãs necessitados. Por função, esse ministério está relacionado ao bispo e não ao presbítero.

 

Fonte: http://franciscanos.org.br/?p=155332

 

DEIXE UM COMENTÁRIO

Deixe seu comentário
Coloque seu nome aqui