Ravasi: combater o racismo, “somos todos humanidade”

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“Não podemos tolerar qualquer tipo de racismo e ao mesmo tempo, afirmar que defendemos a sacralidade de toda vida humana”: são palavras do Papa Francisco na Audiência Geral de 3 de junho, enquanto explodiam protestos nos Estados Unidos por causa da morte de George Floyd, o afro-americano que morreu em 25 de maio depois de ser preso por um policial branco. As palavras do Pontífice foram recordadas pelo Cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, por ocasião do webinar sobre o tema do racismo, das mulheres e da Igreja Católica. “A luta contra o racismo não pressupõe uniformidade, mas multiplicidade na unidade”, disse o cardeal, citando o Antigo Testamento. Na verdade, relata a palavra “adamah”, mais tarde traduzida para “Adão”, que em hebraico tem o significado de “humanidade”. Isto implica, reiterou o Cardeal Ravasi, que “somos todos Adão”, somos todos humanidade. Da mesma forma, o apóstolo São Paulo, na Carta aos Gálatas e na Carta aos Colossenses, afirma que “não há escravo ou liberto, bárbaro ou estrangeiro”, porque “somos todos um em Cristo”.

O cardeal Ravasi fez também algumas considerações sobre as relações: “O racismo é a negação da relação, é uma forma de negacionismo social e espiritual” da diversidade do outro, explicou. Afirmar a necessidade de ir na direção do outro e, ao mesmo tempo, reconhecer a diferença do outro são, portanto, duas ações fundamentais para combater o preconceito racial.

A importância do fator educativo

Em seguida o webinar ofereceu espaço para vários e importantes testemunhos como o da Irmã Rita Mboshu Kongo, teóloga congolesa e professora na Pontifícia Universidade Urbaniana, que sublinhou a importância do fator educativo como instrumento para combater o racismo. A escola e a família, explicou a professora, são os principais lugares para entender, desde o início, o quanto a discriminação, especialmente a feminina, está errada. Irmã Rita falou sobre sua experiência pessoal: como filha mais velha de sua família, foi incentivada por seu pai a superar preconceitos. “O racismo deve ser combatido com a formação da consciência”, afirmou Irmã Rita, sugerindo também ajudar as mulheres a estudar para ampliar seus conhecimentos. “Peço à Igreja que se comprometa mais com a formação das religiosas”, reiterou também a Irmã Kongo, “para que elas possam ter uma formação adequada para o apostolado que lhes é pedido”.

A ligação entre racismo e sexismo

O webinar foi moderado por Silvia Cataldi, socióloga da Universidade La Sapienza de Roma. Na sua exposição a socióloga destacou que o termo “raça” é usado com muita desenvoltura hoje em dia, apesar de ter sido questionado pela comunidade científica. A ciência demonstrou, de fato, que as diferenças genéticas entre indivíduos são maiores do que as diferenças raciais entre grupos de pessoas. Infelizmente, acrescentou a socióloga, ainda hoje há genocídios e atos de violência perpetrados por causa de “doutrinas” racistas. Não só isso, o racismo está muitas vezes ligado ao sexismo: os dois termos andam de mãos dadas porque se baseiam no mesmo mecanismo, ou seja, generalizam um determinado grupo de pessoas, acabando por classificá-las, de uma forma genérica, como um todo único.

Fraternidade antídoto para o vírus da discriminação racial

A encíclica “Fratelli tutti” do Papa Francisco, concluiu Silvia Cataldi, responde a esta tendência errônea: de fato, a Encíclica lembra que “o racismo é um vírus que muda facilmente e, em vez de desaparecer, dissimula-se mas está sempre à espreita”. Mas contra este preconceito podemos responder com a fraternidade, porque – todos os participantes do webinar disseram a uma só voz – “somos todos irmãos e irmãs, criados à imagem e semelhança de Deus”.

Fonte: Vatican News

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