Santa Clara clareando

1317

♦ Somos cristãos. Vivemos intensamente nossa humanidade. Pretendemos vivê-la. Não é tarefa fácil fazer surgir o ser humano que existe em nós e naqueles que vivem à nossa volta. Não queremos nos perder nos espaços etéreos de uma espiritualidade escapista. Centramos nossa espiritualidade na adorável figura de Cristo vivo e ressuscitado. Pode ser que, em determinados momentos de nossa caminhada, tenhamos sido homens e mulheres apenas da religião com suas afirmações dogmáticas, seus ritos e suas prescrições. Acontece que, por vezes, o Mistério irrompe e somos convidados a abrir os olhos e tentar ver as coisas da fé de um outro modo. Podemos sofrer uma “picada” do Evangelho. Há cristãos que “acordam para a real” na juventude, na idade madura ou são daqueles operários da undécima hora. Há um esforço de recuperar o tempo depois que uns e outros tenhamos sido levados ao deserto para ouvir a palavras do Senhor, cochichos de amor e convite para andar no seu seguimento. Muitos temos a hora de nosso “clic”.

♦ Clara era menina de família respeitável. O pai tinha importância entre os importantes. Ortolona, sua mãe, católica, mulher religiosa como tantas. Gostava de frequentar os santuários que existiam na época e, na volta das peregrinações, reunia as amigas para ao “chá das quatro” e conversava sobre as experiências vividas. A menina e a mocinha Clara tudo ouvia. Estava delicadamente sendo preparada para encontrar um caminho de vida. E lá nessa Assis havia surgido a figura de um rapaz que era original em todos os sentidos. Chamava-se Francesco di Pietro Bernardone. Havia nele um fogo das coisas de Deus e sua proximidade a Cristo humano e pobre a encantava. Clara se interessou por ele e sua maneira de viver. Teve os encontros com ele e com a gente dele. Um homem diferente apaixonado por Cristo e que se tinham deixado fascinar por ele. Sua figura marcou a vida de Clara.

♦ Houve a decisão da fuga. Intempestiva. Quase com falta de juízo. Saiu na fé. Como Abraão. Depois de acolhida na fraternitas viveu aqui e ali até chegar a São Damião. Um punhadinho de mulheres e a tarefa de inventar um estilo de viver. A fraternitas se dilatava femininamente. Gente sem poder. Gente simples. Um encantamento por jogar-se em Deus. Aquele crucifixo bizantino. Despojamento alegre. A julgar por isso e aquilo uma paixão pelo despojamento de Deus em Jesus. Nada de querer regras das beneditinas. Um bilhete de Francisco parecia bastar. Sem muito peso da instituição. Viver juntas e buscando o Evangelho.

♦ “Desde que por inspiração divina, vos fizestes filhas servas do Altíssimo e sumo Rei, o Pai celestial, e tomaste o Espírito Santo por esposo, optando por uma vida conforme a perfeição do santo Evangelho, quero eu – o que prometo por mim pessoalmente e por meus irmãos – nutrir sempre, a bem de vós, o mesmo diligente cuidado e solicitude para com eles”.

♦ Clara firme, teimosa, não querendo rendas e propriedades. Obnubilada pelo despojamento e pela pobreza em tudo. Queria a todo custo o Privilégio da Pobreza e quase no fim o conseguiu.

♦ Cristocentrismo intocável, viver sem prepotência de toda sorte, na caridade fraterna e sustentando os membros titubeantes da Igreja.

♦ “Clara não reivindicou para ela e suas irmãs o direito de pregar ou de ensinar, mas desejava ardentemente continuar vivendo em simbiose com os irmãos menores e recusava a ideia de ver a sua comunidade transformar-se num mosteiro de virgens reclusas e dotadas de rendas; se parece não ter tido dificuldade em aceitar a estabilidade e a clausura, à semelhança das reclusas, que ao mesmo tempo, guardavam contacto com o mundo que as rodeava, Clara sempre se recusou ceder no capítulo da pobreza, porque o fato de viver numa precariedade permanente constituía o ponto central sobre o qual a sua fundação podia, diferenciando-se do monarquismo beneditino clássico, permanecer fiel ao espírito do Poverello e, através dele, com as aspirações evangélicas que haviam animado os movimentos leigos no século XII e começos do século XIII” (André Vauchez).

♦ Até que ponto Clara ilumina nossa vida? Ela e as clarissas constituem de fato o rosto feminino do cristianismo?

Frei Almir Guimarães

Fonte: Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

1 COMENTÁRIO

  1. Quanto mais eu conheço a história de Clara, mais eu me apaixono por ela.
    A presença dela é tão forte em minha vida que me emociono todas as vezes que falo sobre ela. Acho que minha missão é divulgar a fé em Santa Clara a todas as pessoas….adoro contará história às pessoas que conheço e desse jeito já conquistei muitos devotos para a linda plantinha de Francisco.
    Amo demais!
    Lindo texto!

Deixe um comentário para Maria Glória Dias Cancelar comentário

Deixe seu comentário
Coloque seu nome aqui