Sefras aposta em projeto inovador com o ‘Centro de Referência para Crianças e Adolescentes em Situação de Rua’

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O Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), em parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo, inaugurou nesta terça-feira, 22 de novembro, a sua sétima obra social na capital paulista, criando um espaço de convivência para atender crianças e adolescentes em situação de rua. Segundo Frei José Francisco de Cássia dos Santos, diretor-presidente da Ação Social Franciscana, trata-se de um projeto inovador, “porque quer ser uma iniciativa experimental, onde, a partir dele, torne-se uma política pública permanente”.

Autoridades eclesiais, políticas e civis, assim como colaboradores e colaboradoras do Sefras, prestigiaram a inauguração do projeto inédito na cidade de São Paulo. Ele será gerido pelos franciscanos da Província da Imaculada Conceição e vai ocupar um prédio espaçoso na Rua Dom Antônio de Melo, 155, no bairro da Luz, região central de São Paulo. O Ministro Provincial, Frei Paulo Roberto Pereira, esteve presente, assim como Frei José Francisco, Frei Marx Rodrigues dos Reis, coordenador da Frente da Solidariedade para com os Empobrecidos e frades que trabalham no Sefras. Dom Carlos Silva, OFMCap, bispo auxiliar de São Paulo e Vigário Episcopal da Região Brasilândia, representou o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer.

A secretária Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Soninha Francine, representou o Prefeito Ricardo Nunes. Além dela, secretários, vereadores e autoridades civis marcaram presença. O evento, que começou às 11 horas, foi abrilhantado por crianças, que são “símbolos de resistência e esperança”, como definiu Frei José Francisco, e que moram na Comunidade Jardim Pery Alto, onde o Sefras desenvolve um trabalho social. “É uma pequena mostra de seus talentos musicais que nós podemos desenvolver e apreciar a partir das crianças e dos adolescentes”, disse Frei José Francisco.

Para ele, abrir as portas deste projeto era motivo de muita alegria. “Nós queremos também, enquanto franciscanos, fazer coro com o Poder Público e também com todas as iniciativas da sociedade civil, de organizações, movimentos e entidades que lutaram e estão lutando para a construção de políticas públicas para a garantia de direitos e proteção da criança e do adolescente na nossa cidade”, explicou Frei José.

Segundo o frade, a esperança é muito grande para que vire uma política pública permanente. “Nós, os franciscanos, tivemos a graça de participar de uma experiência dessa com o Centro de Referência ao Imigrante. Começou assim como um projeto e depois, graças a Deus, São Paulo pôde ser orgulhar de apresentar o único Centro de Referência ao Imigrante do Brasil”, acredita Frei José.

Ele lembrou que o projeto de Lei nº 0253/2021 está em tramitação na Câmara Municipal e aproveitou para fazer um pedido aos representantes do legislativo municipal: “Vamos torcer muito para que vocês olhem com carinho as crianças e adolescentes de nossa cidade e para que possam ter aquilo que merecem”.

AO LADO DOS POBRES

O Ministro Provincial, Frei Paulo Pereira, lembrou que os franciscanos têm uma memória de cuidado, de atenção, de respeito à vida, herdados de Jesus Cristo, que quando “passou por esta terra nos ensinou não outra coisa senão sair de si mesmo e ir em direção do outro, especialmente do outro mais necessitado”.

“Tristemente nós tivemos de ouvir da maior autoridade católica deste Estado, que é o Cardeal, quase um pedido de desculpas por ser amigo dos pobres. Recentemente, Dom Odilo teve que dizer: ‘Cuidar dos pobres não é comunismo’, como se o comunismo fosse um pecado. A gente teve que lembrar que cuidar dos pobres não é um pecado. Cuidar dos pobres é um dever de todos nós”, recordou o Ministro Provincial.

Segundo ele, os franciscanos participam disso oferecendo, talvez, um matiz bem identificado não só pela cor do  hábito, mas por aquilo que os frades herdaram: o senso de fraternidade. “Então, nós estamos ao lado dos pobres porque eles são nossos irmãos antes de qualquer outra qualidade. E, como irmãos, eles nos provocam, nos ensinam, exigem de nós. Por isso, a opção franciscana pelos pobres, porque queremos nos fazer com eles uma família a partir do senso de fraternidade. É importante que assim seja e a história dos últimos 500 anos no Brasil tem a marca efetiva da Igreja Católica e de nós, franciscanos, sobretudo nas obras de caridade”, recordou Frei Paulo.

                                                                           (toque nas imagens para ampliá-las)

“Continuamos a fazer isso, mas nós queremos dar um passo além, por isso, fico feliz de ver aqui o Poder Público representado. É necessário repetir como está escrito na camiseta da companheira ali: ‘Quem tem fome, tem pressa’. A criança de rua tem pressa e é necessário que a gente se apresse para atender e é necessário que o Poder Público e o legislador se apressem para aprovar a lei, aqui já mencionada, para que haja defesa da criança e do adolescente. E nós nos unimos não só atendendo e acolhendo a emergência, mas sobretudo gerando parcerias, alianças, que façam com que a pressa, a urgência, sejam garantidas na normatividade. Nós não queremos viver sempre nos sustos – hoje tem, amanhã não sei se terá -, mas é necessário a gente estabelecer parcerias e alianças que garantam uma caminhada mais cheia de confiança”, pediu Frei Paulo.

Ele agradeceu aos frades na pessoa do Frei José Francisco, às irmãs religiosas que trabalham no Sefras e todos os colaboradores e colaboradoras. Lembrou que o Sefras tem mais de 20 anos e hoje é uma sigla conhecida. “Isso é uma conquista muito grande, que não nos enche de orgulho, mas de compromisso em seguir sendo o espaço de convergência, de seguir sendo parceiro de todas as forças: do Poder Público, da sociedade organizada, até daqueles que a gente ousa querer organizar. Mas nós queremos ser uma presença criativa e lutadora, para que a vida aconteça apesar de tantos… Faz escuro, mas nós queremos cantar!”, completou o Ministro Provincial.

Dom Carlos Silva lembrou que o número sete na Bíblia é um número perfeito porque junta o céu e a terra. “Essa é a sétima obra que os franciscanos, em parceria com o Poder Público, realizam na cidade de São Paulo. Então, muito obrigado a esta parceria bonita em favor da vida. Lá no livro do Deuteronômio, capítulo 30, diz: ‘Diante de ti ponho a vida e ponho a morte. Escolhe, pois a vida’. Escolher a vida é ‘acolher, cuidar e defender’. É isso que está escrito na camiseta de toda a equipe. Que esta seja a missão de vocês!”, pediu.

Ele disse que trouxe a todos os frades, a todo o Poder Público, para todos que compõem essas equipes e trabalham em defesa da vida, o abraço do Cardeal Dom Odilo Scherer e que veio também a este evento como representante das Pastorais Sociais da Arquidiocese de São Paulo. Segundo ele, um momento bonito em que se abrem as portas para este serviço. “Que tenhamos nossas portas e também o nosso coração com sensibilidade para acolher os mais necessitados, aqueles que são os preferidos de Jesus. Parabéns ao Sefras e ao Poder Público”, completou.

Soninha Francine (foto acima),  secretária Municipal de Direitos Humanos e Cidadania,  lembrou que o Sefras é um dos grandes parceiros que a Prefeitura tem na área social, na área de imigrantes, na área da população de rua, e de crianças e adolescentes.

Para ela, esse é um centro de referência de portas abertas, de baixa exigência, de algo “que a gente precisa muito nas políticas públicas, de direitos humanos, nas políticas assistenciais, socioassistenciais, mas em especial de portas abertas para meninas e meninas em situação de rua”.

“Eu adoro esse tipo de serviço, o centro de referência, para que as próprias meninas e meninos saibam que podem vir aqui, saibam que aqui eles podem procurar atendimento, atenção, banho, descanso, lanche, brincadeira, amigos, amor. É muito bom inaugurar um serviço e ver assim necessidades, desejos e sonhos manifestados como um espaço físico e, de agora em diante, um espaço de atuação e serviço e por que não de amor? Parece que falar de amor não é o caso porque política pública é outra coisa. Tudo bem! Política pública é garantia de direitos, cidadania, mas desde quando a gente consegue tratar de gente sem solidariedade. sem empatia, sem amor? Então, nas parcerias que temos com o Sefras e outras entidades isso fica sempre visível”, enfatizou, oferecendo apoio: “Contem com a gente. para que esse seja um tremendo modelo de centro de referência!”. Inicialmente, a previsão é de que sejam realizados 50 atendimentos das 08 às 21h, sete dias por semana.

UMA GOTA NO OCEANO

Segundo dados da ONG Visão Mundial, mais de 70 mil crianças e adolescentes vivem em situação de rua no Brasil, com 51% desse total tendo seus direitos violados todos os dias. Afunilando esses dados, o Censo realizado pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo, e divulgado no último mês de agosto, aponta que, nos últimos 15 anos, o número de crianças e adolescentes nas ruas passou de 1.842 (em 2007) para 3.759 (em 2022) – sendo 71,6% autodeclarados pretos ou pardos. Ou seja, todos os dias, quase 4 mil crianças e adolescentes estão expostos a diferentes tipos de violência na capital paulista.

“A partir deste pano de fundo, esse Centro de Referência chega como resposta à uma demanda que pulsa em nosso dia a dia. O que mais ouvimos é que as crianças são o futuro da nossa nação, então nosso objetivo é investir no cuidado infantil e na sua reinserção social de forma qualificada, o que entendemos ser um dos passos mais importantes quando o objetivo é gerar oportunidades que minimizem o cenário de pobreza. Sabemos que lançar esse serviço é uma gota na imensidão que é o mar das vulnerabilidades, mas também estamos cientes de que precisamos começar micro para atingir o macro”, pontua Frei Marx Rodrigues dos Reis, coordenador da Frente da Solidariedade para com os Empobrecidos.

MAPEAMENTO

Localizado na região da Luz, o “Centro de Referência para Crianças e Adolescentes em Situação de Rua” vai desenvolver o mapeamento do perfil de seus atendidos (incluindo suas demandas e vínculos com o território de origem) e a articulação com os Fóruns Regionais dos Direitos da Criança e do Adolescente para reflexão sobre as realidades locais, além de promover rodas de conversa sobre a temática que envolve crianças e adolescentes em situação de rua.

Com relação aos serviços, serão oferecidos acolhida e escuta, atendimento individual (ou em pequenos grupos) e cuidados básicos (banho, alimentação e descanso), além de atividades socioeducativas em conformidade com a faixa etária. As famílias de origem dessas crianças e adolescentes também serão atendidas, com o intuito de fortalecer e recuperar vínculos afetivos e familiares.

Frei Paulo encerrou o evento com a bênção do local e “A Oração de São Francisco”.

Fonte: franciscanos.org.br

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