Sementes colhidas no chão sagrado do Haiti, por Catequistas Franciscanas

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“Eu vi, eu ouvi a miséria do meu povo que está no Egito, ouvi o seu grito, conheço suas angústias. Por isso, desci para libertá-lo”. (Cf. Êx 3,7-8)

Iluminada pelo texto bíblico de Êx 3,7-8, em que Javé, vendo o sofrimento do seu povo e ouvindo seus gritos de aflição, desce para ajudar a restabelecer as vidas ameaçadas e sofridas, e sensibilizada com a necessidade de colaboração, dei novamente meu Sim ao projeto intercongregacional assumido pela CRB Nacional, CNBB e Cáritas Brasileira no Haiti.

Com o objetivo de oferecer ajuda temporária à equipe missionária durante o período de transição pelo qual o projeto está passando, e diante da necessidade de gente para acompanhar os projetos de nutrição, saúde e geração de renda, para lá fui enviada novamente em fevereiro de 2020, onde permaneci até a data de 16 de dezembro de 2020.

Na área de nossa atuação missionária, denominada Corail Cecelece, em Porto Príncipe, vivem aproximadamente 15 mil pessoas vindas dos mais diferentes lugares do Haiti no pós-terremoto, ocorrido em 12 de janeiro de 2010.

Chegando lá, encontrei quatro lindas e comprometidas mulheres vivendo a intercongregacionalidade, no mesmo aconchego onde eu já havia morado durante os primeiros anos da missão em terras haitianas. Nas duas primeiras semanas, dediquei tempo para visitar, escutar os sussurros daquele chão.

E, assim que comecei a atuar nos projetos, logo fomos surpreendidas pelo coronavírus. Tivemos que suspender diversas atividades por quase dois meses e meio. Aproveitamos esse tempo para planejar e organizar nossa vida em comunidade. Foi um tempo em que o medo, o receio e a insegurança tentaram nos dominar, mas a esperança de que o Haiti iria vencer sem grandes contágios, foi fazendo a gente superar as incertezas.

No período de minha permanência no Haiti, atuei no acompanhamento de um grupo de mulheres na fabricação de sabão líquido, que vendem para ajudar no autossustento. O suporte para a compra dos materiais no início da produção veio de um projeto financiado pela Missão Central Franciscana. Em seguida, continuamos a caminhar com os próprios recursos gerados com a venda do sabão.

Outra área de atuação, foi no campo da saúde e nutrição. Acompanhei mensalmente de forma sistemática setenta e cinco crianças, realizando pesagem, fazendo medicação e encaminhando os casos mais severos de desnutrição para um tratamento mais intensivo na Clínica Marie Proussepim, numa parceria com as Irmãs Dominicanas da Apresentação.

Além dessas atividades, exerci o serviço de enfermagem fazendo curativos e consultas e contribuindo na fabricação de mambá, um complexo vitamínico feito à base de produtos naturais que atua como restabelecedor das células adiposas nas crianças em extrema desnutrição.

A experiência de retorno ao Haiti me levou a nascer de novo a cada dia. A onda de violência que chega de diferentes formas e atinge o povo de Porto Príncipe, ampliou meus horizontes, fazendo-me andar naquele chão sagrado com muito mais cuidado e respeito. Despertou-me a cuidar das minhas irmãs de comunidade com mais atenção e carinho. Nesse sentido, não posso deixar de mencionar todas as mulheres contempladas pelo projeto, pois elas sempre estiveram com as lamparinas acesas.  Quando havia algum perigo nas estradas, elas nos avisavam: “Irmãs vão para casa! Tem perigo na estrada!”  Eram como as parteiras do Egito, que facilitavam a fuga das crianças para não morrerem.

Aproveito para agradecer todas vocês, irmãs, que me possibilitaram retornar ao Haiti. Meu coração voltou disposto a ir para outras terras missionárias muito feliz e forte! A palavra-chave é GRATIDÃO!

Disponível em: https://www.cicaf.org.br/portal/index.php/noticias/item/2664-sementes-colhidas-no-chao-sagrado-do-haiti

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