Viver a Paz em Tempo de Pandemia

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“Para construir a Paz São Francisco e Santa Clara apresentam o caminho da irmandade universal”

A situação atual atinge todos os aspectos da vida humana e também da nossa casa comum, o planeta Terra. As agressões à VIDA se tornaram mais graves ou mais explícitas, exigindo novas e audaciosas ações promotoras de PAZ.

Nesse contexto, nós Irmãs Catequistas Franciscanas com o grupo de Simpatizantes do Carisma, escolhemos dois aspectos para nossa reflexão/ação na Semana da Paz deste ano: a Paz vivida na família e a Paz expressa no cuidado da vida. Ao mesmo tempo, sentimos a necessidade de renovar nossa esperança, diante dos muitos desafios que enfrentamos na construção da Paz.

Na família: Jesus enviou os discípulos a anunciar a Boa Notícia às famílias, comunidades e povos, e deu esta recomendação: “Em qualquer casa onde vocês entrarem, digam primeiro: A Paz esteja nesta casa” (Lc 10,5).

O anúncio da Paz também foi eixo central na missão de Francisco de Assis. Ele afirma que o próprio Senhor lhe revelou a importância desse anúncio (Test 23), e o colocou em prática, durante toda a vida, com palavras e gestos.

A hiperconvivência familiar deste momento, decorrente das medidas de distanciamento social, tornou mais graves os conflitos já existentes e também facilitou novas agressões e abusos. As principais vítimas têm sido as mulheres e crianças, mas sofrem também os homens, mais acostumados ao espaço público do que ao familiar.

Trabalhar pela Paz nas famílias, neste momento, significa denunciar com vigor todo abuso e violência, exigindo dos poderes públicos políticas adequadas de enfrentamento dessa triste realidade. Significa também colocar empenho e buscar estratégias para cultivar aqueles valores que tornam saudável e prazerosa a convivência: o diálogo, o respeito mútuo, o bem-querer, a paciência, a misericórdia, o perdão…

Muitas vezes dizemos: “por amor à paz, eu me calo”. Mas esse não é o melhor caminho. Por amor à Paz – aquela com P maiúsculo – é necessário derrubar os muros e buscar o diálogo. Não desistir na primeira recusa, mas fazer quantas tentativas forem necessárias.

Nossa visão de respeito também pode ser equivocada. Quando “cada um fica na sua”, o que acontece não é respeito, mas individualismo. O respeito supõe escuta, valorização das diferenças, aprendizado mútuo.

Outra atitude indispensável é a paciência, que não significa tolerância passiva e, muito menos, indiferença. São Paulo diz que “o amor é paciente” (1Cor 13,4). Ou seja, o amor provoca “empatia”, nos coloca no “páthos” da outra pessoa, nos faz entender e compartilhar os seus sentimentos. Podemos entender a paciência também como “ciência da Paz”, sabedoria que ajuda a tomar as decisões certas, na hora certa, sem atropelos, e assim atingir os objetivos.

E o que dizer da misericórdia e do perdão? Esse é o caminho mais curto para nos aproximar do coração de Deus, que é compassivo e cheio de amor, que não guarda raiva nem nos trata conforme nossos erros (Sl 103,8-10). O coração de Deus vê com ternura a nossa fragilidade e está sempre disposto a nos acolher. Assim ele deseja que sejamos também nós, seus filhos e filhas.

Outro aspecto pode ser incluído, neste momento, ao falarmos da Paz nas famílias. Estamos em ano eleitoral e ainda temos bem presente a violência que marcou toda a campanha das últimas eleições. Quem pensava de modo diferente não foi visto como simples adversário, mas como inimigo a ser combatido e eliminado. Muitas famílias se viram divididas e ainda não conseguiram se recompor. Por isso, assumir a causa da Paz significa também trabalhar para que esse clima não se repita nas próximas eleições, mas possamos escolher nossos governantes, com sabedoria, a partir dos critérios da ética e do bem comum.

No cuidado da vida: A criação toda está gemendo e sofrendo, diz São Paulo aos Romanos (8,22). Isso se percebe com muita clareza, olhando para nossa Casa Comum. Seus gemidos não podem mais ser ignorados. A violência é tão grande que está colocando em risco seu bem mais precioso: a Vida.

Em 1855, o cacique Seattle, do povo Suquamish, enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), após o Governo ter manifestado o desejo de comprar o território indígena e oferecer àquele povo outra reserva. Nessa carta ele diz:

“O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo”. Essa carta, distribuída mais tarde pela ONU, tem enorme importância em nossos dias!

Deus colocou o ser humano como cuidador da criação, mas ele se acreditou “senhor da criação”, interpretando de forma equivocada o que se lê no livro do Gênesis (1,26.28). E passou a dominar, depredar e explorar os recursos naturais, pensando que fossem inesgotáveis.

A mesma atitude de dominação e exploração vigorou entre os humanos, gerando muitas formas de violência, que também se tornam atentados contra a vida: injustiças, discriminações, ódios, vinganças, exploração… Tudo para conseguir fama, poder e riquezas, sem se importar com os meios utilizados, nem com as pessoas, comunidades e povos atingidos.

Para construir a Paz frente a essa realidade, São Francisco e Santa Clara apresentam o caminho da irmandade universal, que inclui o cuidado recíproco entre as pessoas e também o cuidado da Casa Comum e de todos os seres criados. O Cântico das Criaturas é um precioso hino de Paz.

O Papa Francisco diz que a crise ambiental é um forte apelo a uma “conversão ecológica” (LS 217). Precisamos “fazer as pazes” com a Mãe Terra. E esta conversão, para que consiga criar um dinamismo de mudança duradoura, não pode ser apenas individual, mas deve ser uma “conversão comunitária” (LS 219).

As agressões feitas à Mãe Terra não atingem da mesma forma todos os seus filhos e filhas. Por isso, a “conversão ecológica” significa, ao mesmo tempo, ouvir o grito da terra e o gemido dos filhos e filhas mais vulneráveis, aqueles que a sociedade coloca à margem e que são privados dos bens necessários a uma vida de paz.

Com esperança: A cada ano, são acrescentados novos desafios e exigências à grande tarefa de gestação de uma cultura de Paz. As agressões e violências ganham novos perfis e coloridos, como acontece nesse momento, quando a situação social, política, econômica e ambiental é agravada pela pandemia da Covid-19. Esse contexto não é nada animador, e pode levar ao desânimo, à inércia e até à depressão.

Mas é justamente agora que somos convocados e convocadas a renovar nossa audácia profética, deixando claro qual a razão de nossa esperança (1Pd 3,15): ela é obra do Espírito Santo, derramado em nossos corações, por isso, não decepciona! (Rm 5,5).

É motivo de esperança a nova consciência planetária de que tudo está interligado e o aumento de grupos e organizações que assumem com mais empenho o cuidado da Casa Comum. É motivo de esperança o magistério do Papa Francisco, com a “Laudato si”, o Sínodo para a Amazônia e tantos outros pronunciamentos e gestos proféticos em favor da paz. É motivo de esperança a solidariedade de pessoas, grupos e entidades, para aliviar o sofrimento e defender a vida, nesse tempo de pandemia.

Não é a esperança de quem simplesmente “espera” que as coisas aconteçam, mas é “esperança ativa”, do verbo “esperançar”. É esperança teimosa, que não se deixar vencer pelos desafios; é esperança paciente, que respeita os diferentes ritmos de caminhada; é esperança urgente, que sabe discernir o que não pode esperar.

Com esperança e criatividade, podemos encontrar caminhos de Paz também no momento atual!

Fonte: Equipe da Semana da Paz – CICAF

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