A Eucaristia na mística franciscana – Parte 02

2330

Francisco de Assis: modelo de amor eucarístico

Francisco de Assis – narra o seu primeiro biógrafo, Tomás de Celano – «ardia de amor com todas as fibras do seu ser pelo sacramento do Corpo do Senhor». E «considerava grave sinal de desprezo não participar em pelo menos uma missa por dia, se o tempo o permitia. Comungava com muita frequência e com tanta devoção que tornava devotos também os outros». Depois, um dia quis enviar os frades pelo mundo «com píxides preciosas, para que alcançassem do modo mais digno possível o preço da redenção, onde quer que o vissem conservado com pouco decoro». E queria também que se demonstrasse grande respeito pelas mãos do sacerdote, porque lhes foi conferido o poder divino de consagrar este sacramento. «Se me acontecesse – dizia com frequência – encontrar juntos um santo que vem do céu e um sacerdote pobrezinho, saudaria primeiro o sacerdote e correria a beijar-lhe as mãos». De facto, diria: «Ei! Espera, São Lourenço, porque as mãos deste tocam o Verbo da vida e possuem um poder sobre-humano!».

Está resumido nesta página todo o sentido da vida eucarística de São Francisco. Nada falta: a missa, a comunhão, a adoração, o decoro do altar e das igrejas, a veneração pelos sacerdotes. Em tudo isto Francisco é mestre e modelo quer para os sacerdotes quer para os simples fiéis.

E entre os seus filhos espirituais não faltarão figuras admiráveis de serafins da eucaristia, como António de Pádua e Boaventura que escreveram páginas de doutrina sublime; como Pascoal Baylon, que se tornou protetor dos congressos eucarísticos; como José de Cupertino que se elevava com a face estática em direção aos ostensórios e aos tabernáculos; como Pio de Pietrelcina que durante várias horas por dia e de noite se detinha em oração junto do altar eucarístico.

A missa era para Francisco um mistério tão sublime que na carta ao capítulo geral e a todos os frades escreveu estas exclamações ardentes: «Trepide a humanidade, o universo inteiro trema, o céu exulte, quando no altar, nas mãos do sacerdote, estiver Cristo filho de Deus vivo». O que perturba o santo de Assis é o amor de Jesus levado até à humildade inconcebível: «Ó admirável altura, ó dignidade maravilhosa! Ó humildade sublime! Ó sublimidade humilde, que o Senhor do universo, Deus e Filho de Deus, se humilhe a ponto de se esconder, pela nossa salvação, no pequeno pedaço de pão!».

Por isso ele considerava grande falta de amor a ausência da missa quotidiana. Portanto, não só participava pelo menos numa missa, mas quando estava enfermo, na medida do possível, pedia para que celebrassem a missa na sua cela, ou pelo menos pedia que lhe lessem a página do Evangelho do dia.

Francisco ensina como receber a sagrada comunhão: «Comungava muitas vezes – diz Tomás de Celano – e com tanta devoção que tornava devotos também os outros». É suficiente pensar que logo depois da comunhão «muitas vezes entrava em êxtase». E Tomás de Celano revela-nos o ânimo de Francisco escrevendo que «quando recebia o Cordeiro imolado, imolava o espírito naquele fogo, que ardia sempre no altar do seu coração».

Francisco preparava-se para a sagrada comunhão com um cuidado muito atento: não só a sua vida santa, rica de heroísmos quotidianos, mas também a confissão sacramental devia preparar todas as vezes a sua alma para receber Jesus eucarístico com o máximo candor de graça. Naquela época não podia comungar mais do que três vezes por semana: pois bem, Francisco confessava-se três vezes por semana. Quando se ama, quer-se agradar à pessoa amada, doando-lhe tudo o que a possa rejubilar. A alma purificada pelo sacramento da confissão torna-se uma habitação cheia de candor e de perfume para Jesus, hóstia imaculada. Francisco não só o sabia e o fazia, mas recomendava-o a todos com fervor seráfico. Dirigindo-se aos fiéis Francisco escrevia que Jesus «quer que todos sejam salvos por Ele, e que Ele seja recebido com coração puro e corpo casto. Mas são poucos os que o querem receber…». E dirigindo-se aos governantes do povo: «Aconselho-vos, senhores, a pôr de lado qualquer cura e preocupação e a receber devotamente a comunhão do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo».

Além disso, quando se ama vê-se com olhos de amor não só a pessoa amada, mas também tudo o que lhe diz respeito. Neste sentido, São Francisco cultivou a tensão altíssima de amor quer à adoração da eucaristia, quer à veneração por tudo o que se refere à eucaristia, isto é, às igrejas e aos sacerdotes.

A paixão de amor pela adoração eucarística era tão fervorosa em Francisco, que não foram poucas as noites inteiras por ele transcorridas aos pés do tabernáculo. E se por vezes o sono se apoderava dele, adormecia por alguns minutos nos degraus do altar, e depois recomeçava incansável e fervoroso.

Para Francisco, a fé na Eucaristia é um todo com a fé na Santíssima Trindade e no Verbo encarnado. E queria que fosse assim para todos. Por isso, escrevia com vigor e ardor: «O Filho, enquanto Deus como o Pai, em nada difere do Pai e do Espírito Santo. E então quantos se detiveram unicamente na humanidade do Senhor Jesus Cristo e não viram nem acreditaram no Espírito de Deus, que Ele é verdadeiro Filho de Deus, foram condenados; de modo semelhante agora todos os que vêem o sacramento do corpo de Cristo, o qual é sacrificado no altar mediante as palavras do Senhor, mas para o ministério do Sacerdote, sob as espécies do pão e do vinho, e não vêem nem crêem, segundo o Espírito de Deus que Ele é deveras o Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, são condenados». E mais adiante continua a sua admoestação com uma comparação eficaz: «Assim como apareceu aos santos apóstolos em verdadeira carne, assim agora se mostra a nós no pão consagrado; e assim como eles com o olhar físico só viam a sua carne mas, contemplando com o olhar da fé, acreditavam que Ele é Deus, é também nós, vendo o pão e o vinho com o olhar do corpo, vemos e firmemente cremos que o seu Santíssimo Corpo e Sangue são vivos e verdadeiros».

Esta fé e este amor chegarão ao ponto de lhe fazer exclamar várias vezes que «do altíssimo Filho de Deus não vejo nada mais corporalmente, neste mundo, do que o Santíssimo Corpo e o Sangue (…) E quero que estes Santíssimos mistérios sejam honrados, venerados e colocados em lugares preciosos antes de todas as coisas».

O amor à Eucaristia é inseparável do amor à casa do Senhor. Não se pode amar Jesus e descuidar a sua habitação. Também sobre isto Francisco deixou uma lição maravilhosa em fervor e prática. Pessoalmente ele preocupava-se com a limpeza das igrejas, dos cálices e das píxides, das toalhas e das hóstias, dos vasos de flores e das lâmpadas.

Exortava os ministros do altar a serem fervorosos e fiéis ao circundar o Santíssimo Sacramento com todas as decorações e reverências. Dirigindo-se aos guardiães afirmava: «Peço-vos, mais do que se o fizesse a mim mesmo, que quando for conveniente e virdes que é necessário, supliqueis humildemente aos sacerdotes para que venerem acima de tudo o Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo (…) Os cálices, os corporais, os ornamentos dos altares e tudo o que diz respeito ao Sacrifício devem ser preciosos. E se o Santíssimo Corpo do Senhor for colocado de modo mísero num lugar qualquer, segundo o preceito da Igreja, seja por ele colocado num lugar precioso, conservado e levado com grande veneração e seja dado devidamente aos outros (…) E quando é consagrado pelo sacerdote no altar e levado a qualquer lugar, todos, de joelhos, prestem louvor, glória e honra ao Senhor Deus, vivo e verdadeiro».

Quando chegava a uma cidade, depois de ter pregado ao povo, normalmente reunia a parte do clero e falava destes problemas com fervor apaixonado, recorrendo até à ameaça das penas eternas: «Não se comove o nosso ânimo – exclamava – sabendo que o Senhor, tão bom, se confia nas nossas mãos e nós podemos tocá-lo e recebê-lo?». Ou ignoramos que cairemos nas suas mãos? Corrijamo-nos decididamente, portanto, destas e de outras coisas, e onde quer que se encontre o Santíssimo Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, colocado e deixado indignamente, retiremo-lo daquele lugar e coloquemo-lo e encerremo-lo num lugar precioso».

Ainda mais corretamente, o próprio Francisco indo pregar pelas cidades e aldeias «levava consigo uma vassoura para limpar as igrejas», como refere a Legenda perusina, porque «sofria muito se entrasse numa igreja e a visse suja», o que fazia com que recomendasse aos sacerdotes «de ter o máximo cuidado em manter limpas as igrejas, os altares e todas as alfaias que servem para a celebração dos mistérios divinos».

Se a isto acrescentarmos que Francisco pedia a Clara que preparasse os corporais para doar às igrejas pobres e que ele mesmo por vezes preparava os vasos de flores para o altar, podemos ter uma ideia mais completa do seu fervor eucarístico.

Por fim, o que dizer da veneração de Francisco pelos sacerdotes? É suficiente voltar às palavras do seu testamento: «O Senhor deu-me e continua a dar-me tanta fé nos sacerdotes que vivem segundo a forma da Santa Igreja romana, devido à sua ordem, que se me perseguissem desejo recorrer a eles e não quero considerar o seu pecado, porque neles vejo o Filho de Deus».

Aos mesmos sacerdotes ele diz com amor: «Cuidai da vossa dignidade, irmãos sacerdotes, e sede santos porque Ele é Santo. E assim como o Senhor Deus vos honrou acima de todos os homens, por este mistério, assim vós mais do que qualquer outro homem amai-O e honrai-O». É deveras inefável a dignidade daquele que «personaliza Cristo» e está chamado a ser em toda a parte «presença de Cristo» e a pensar, falar e agir em tudo «como Cristo».

Por isso Francisco preocupa-se com que os sacerdotes possam celebrar sempre «a missa puros e, cheios de pureza, cumpram com reverência o verdadeiro sacrifício do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, com intenção santa e pura». Que eles tenham sempre a máxima devoção e o máximo candor da alma, com a perfeita obediência a todas as normas da Igreja e com toda a delicadeza ao levá-lo nas mãos e ao distribuí-lo aos outros, fazendo assim admirar até os anjos que os assistem.

Francisco não se cansa de recomendar aos sacerdotes sobretudo a humildade, referindo o exemplo do próprio Jesus que «todos os dias se humilha, como quando desceu da sede real ao seio da Virgem: de facto, todos os dias Ele mesmo vem a nós sob aparência humilde, todos os dias desce do seio do Pai ao altar nas mãos do sacerdote».

E as mãos do sacerdote deveriam ser puras como as de Nossa Senhora, recomenda o padre seráfico, exprimindo-se com estas palavras sublimes: «Ouvi, meus irmãos. Se a Bem-Aventurada Virgem é tão honrada, como é justo, porque o levou no seu santíssimo seio (…) quanto mais deve ser santo, justo e digno aquele que o toca com as suas mãos, recebe no coração e nos seus lábios e oferece aos outros, para que o comam, Ele já não morredouro, mas eternamente vivo e glorificado, sobre o qual os anjos desejam fixar o olhar».

L’Osservatore Romano


Manifestação do amor divino

Nunca acabaremos de meditar nas riquezas da Eucaristia. Trata-se do grande dom do Senhor, do memorial de sua paixão, morte e ressurreição. Francisco, em seu Testamento, assim se exprime: “Do Altíssimo Filho de Deus nada enxergo corporalmente neste mundo senão o seu santíssimo Corpo e Sangue que eles (os sacerdotes) consagram e somente eles administram aos outros” (Test 10). Deve-se dizer que Francisco não tem propriamente uma doutrina própria a respeito da Eucaristia. Notamos, no entanto, uma atenção doutrinal e devocional muito grande de Francisco pelo mistério da piedade ou unidade e, consequentemente, pelos sacerdotes, ministros da Eucaristia.

A situação no tempo de Francisco

No final do século XII e inícios do século XIII constatamos que a Eucaristia, quanto ao seu aspecto celebrativo, conhece uma certa decadência: o povo não compreende a missa, não participa da comunhão e esta vai se tornando mais rara. Ao mesmo tempo a autoridade eclesial se empenha em restaurar a prática da Eucaristia e, sobretudo em ambientes místicos, vai surgindo uma devoção ao Santíssimo Sacramento. As determinações novas de incentivo à participação na Eucaristia estão registradas nas decisões do Concílio do Latrão IV, em 1215. Há também a questão das heresias da época que atacavam a doutrina ortodoxa da Eucaristia. Diziam que a Eucaristia celebrada por sacerdotes indignos era inválida. Formulavam elas também teorias errôneas a respeito da presença real de Cristo. Francisco adotará a fé da Igreja. Cercará a Eucaristia de todo respeito e adoração.

Eucaristia, como dom e expressão de amor/entrega

Ninguém atinge a finalidade de sua vida sem uma profunda vivência do amor. Belo corpo, recursos financeiros, sucessos e relacionamentos não enchem o homem de plenitude. Somos incompletos quando não chegamos a viver o amor que é dom das entranhas. Todos nós que vivemos nesta sociedade de consumo, de interesse, sabemos quanto é difícil o dar-se totalmente no jogo do amor. Há uma avidez de posse, de bens, de gozo. Tudo é calculado em vista do lucro e do beneficio. Ora, o amor é exatamente o contrário. É esforço de saída de si mesmo, de morte a seus próprios interesses para que outros possam ser mais profundamente eles mesmos e assim felizes. O egoísmo mata e o amor dá vida. O amor esconde em si misteriosa força.

O homem tem necessidade de alimento, lazer, descanso, bens e posses. Precisa de condições mínimas vitais para viver e tem direito de conseguir o necessário para uma vida digna. Mas não pode contentar-se com bens materiais. Necessita de toda Palavra que sai da boca de Deus. Precisa de alimento e fortaleza que vêm do Senhor. Em todos os bens o homem vê um presente e um dom do Supremo Doador. O amor é a única coisa necessária para o homem.

A Eucaristia como dom

Tudo na tarde da Ceia era dom. Tudo se revestia de profundo amor. O Mestre lavava os pés dos seus, antecipando o momento em que haveria de ser o Servo suspenso no alto da cruz, purificando o homem de toda mancha com a água e o sangue de seu peito rasgado e aberto. Não se podia detectar interesses particulares e busca de si próprio. Tudo é abertura, dom, serviço, amor. Jesus servia, era empregado. Colocava-se à disposição. Sendo de condição divina não hesitara em tomar a condição humana, tomando-se obediente até à morte e morte de cruz. Tomara o último lugar no banquete da vida.

Cristo inaugurou o tempo do amor, do dom, da partilha. Não tinha tempo para si mesmo. Através de parábolas, encontros e confrontos, inculcou a necessidade da criação de uma terra de fraternidade. Veio trazer um amor divino, não mera filantropia. O episódio do bom samaritano, a compreensão amorosa para com a mulher adúltera, o ensinamento e o exemplo a respeito do perdão, o empenho em exaltar os pequenos, a compaixão para com a viúva de Naim, o mandamento do amor e sua paixão e morte por amor atestam claramente que Jesus é o mensageiro e encarnação do dom/ amor.

No momento de sua passagem, de sua páscoa, na ceia derradeira, toma o pão. Diz que esse pão é seu corpo e sua vida, é dom de si para a vida de muitos. Diz que o cálice é seu sangue vertido para o bem de todos. Junta o pão e o cálice a seu corpo e à sua vida. Mandou que os seus repetissem essa ceia de amor que estava para sempre vinculada ao sacrifício amoroso da cruz. Fazemos hoje a memória de Jesus na Missa e ele se torna realmente presente.

Os que são de Cristo, os discípulos do Senhor vivem cotidianamente vida de partilha, dom, entrega para a vida de muitos. As celebrações eucarísticas de que participam exprimem sua vida-para-os-outros e para Deus. Na Eucaristia os cristãos se encontram juntos com o Senhor que se toma pão e sacrifício amoroso. Renovam seu compromisso de amor, alimentam-se da força de Cristo, rendem graças ao Deus Altíssimo pelo dom de Jesus, unem-se ao Mestre no momento em que renova seu sacrifício de modo incruento. Na Eucaristia tudo é dom. Esse mesmo Cristo que se oferece na missa continua presente entre os seus em suas capelinhas e igrejinhas oferecendo-se constantemente ao Pai e esperando a homenagem do coração de
seus fiéis.

São Francisco e a Eucaristia

Já dissemos anteriormente que São Francisco teve especial carinho para com a Eucaristia. Francisco traça um paralelo entre a Encarnação do Verbo no seio de Maria e sua vinda sobre os altares: “Ele se humilha todos os dias, tal como na hora em que descendo do seu trono real para o seio da Virgem vem diariamente a nós sob aparência humilde; todos os dias desce do seio do Pai sobre o altar, nas mãos do sacerdote” (Adm 1,16-18). Nestes versículos Francisco realça o aspecto da humildade, do abaixamento.

Francisco tem consciência de que, do Altíssimo, nada se pode ter na terra a não ser seu Corpo e Sangue. Podemos “ver” o Senhor. E os sacerdotes é que são ministros dessa presença. Por isso, o Poverello tinha especial carinho e respeito pelos sacerdotes, mesmo pelos pecadores. Contra as heresias Francisco afirmava, com a Igreja, que a presença de Cristo na Eucaristia não depende da santidade do ministro. O Santo tem uma visão de fé.

Evidentemente Francisco quer que os clérigos tenham santidade de vida ao celebrarem a Eucaristia e cuidem delicadamente de tudo o que serve ao altar. Limitemo-nos aqui a uma citação da Carta a todos os clérigos: “Todos aqueles que administram tão sacrossantos mistérios e especialmente aqueles que os ministram sem a reta discrição, considerem no seu íntimo como são vulgares os cálices, corporais e panos de linho sobre os quais é oferecido em sacrifício o corpo e o sangue de Nosso Senhor. E muitos o guardam em lugares bem comuns e o levam de modo lamentável (pela rua) e o recebem indignamente e o ministram indiscriminadamente” (Carta aos Clérigos 4-5). Na Carta aos Custódios (7) Francisco lembra: “E
quando o sacerdote o oferecer em sacrifício sobre o altar, e aonde quer que o leve, todo o povo dobre os joelhos e renda louvor, honra e glória ao Senhor Deus”.

Celano descreve a devoção de Francisco pela Eucaristia na linha da manifestação do amor divino. “Ficava estupefato diante de tão amável condescendência e de tão digna caridade… achava que era um desprezo muito grande não assistir pelo menos a uma missa cada dia, se pudesse… comungava muitas vezes ….. (cf. 2Cel201).

Curiosamente Francisco solicita que os frades participem de uma mesma missa, mesmo sendo sacerdotes. Parece mostrar o caráter comunitário da Eucaristia: “Advirto ainda os meus irmãos e exorto-os que, nos lugares onde moram, seja celebrada uma só missa por dia, segundo a forma da santa Igreja. E se houver vários sacerdotes no lugar, contente-se um sacerdote, por amor à caridade, com ouvir a missa do outro” (Carta a toda Ordem 30-31).

É também neste escrito que encontramos palavras cheias de força e de respeito pela Eucaristia. Francisco mostra-se extasiado: “Pasme o homem todo, estremeça a terra inteira, rejubile o céu em altas vozes quando, sobre o altar, estiver nas mãos do sacerdote o Cristo, Filho de Deus vivo! Ó grandeza maravilhosa, ó admirável condescendência! Ó humildade sublime, ó humilde sublimidade! O Senhor do universo, Deus e Filho de Deus, se humilha a ponto de se esconder, para nosso bem, na modesta aparência de pão … Nada de vós retenhais para vós mesmos, para que totalmente vos receba quem totalmente se vos dá”! (Carta à Ordem 26-29).

Dentro da ótica da pobreza de Francisco entende-se esta sua última afirmação: dar tudo a Cristo já que ele se dá inteiramente a nós. Somos agraciados de todos os dons e bens do Senhor. Estamos cobertos dos favores do Senhor. E que favor maior do que este que é Cristo? Ele se entregou totalmente no gesto da paixão e morte que é atualizado e vivenciado novamente na Eucaristia. Por isso a atitude do cristão diante do mistério da presença do Senhor é de entrega amorosa. Não pode o homem nada reter para si diante daquele que se entregou totalmente. Estamos em pleno coração do mistério do dom e do amor. Realmente a Eucaristia é mistério de amor infinito!

Frei Almir Ribeiro Guimarães

Encontros com Francisco de Assis, Roteiros para círculos de estudos – Editora Vozes

Fonte: Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

DEIXE UM COMENTÁRIO

Deixe seu comentário
Coloque seu nome aqui