A luta pela existência

676

Antes de contar sobre a minha experiência no 2º Encontro Pusuruduk, apresento os pontos fundamentais desse evento:

O 2º Encontro Pusuruduk foi realizado na Aldeia Caroçal, no Rio Cururu-Jacareacanga, nos dias 02 a 08 de novembro de 2018, e contou com a participação do povo indígena Munduruku do Alto Tapajós. O encontro foi coordenado pelo Frei João Messias Souza, OFM, e teve como objetivo a formação de jovens lideranças indígenas sobre direitos dos povos indígenas, associativismo indígena, sustentabilidade, danos causados à saúde pela mineração e o papel do Ministério Público Federal na defesa e proteção dos direitos indígenas. Temáticas que são cada vez mais necessárias e urgentes, pois estamos observando nos últimos tempos o advento de medidas (nas diferentes esferas do poder) que representam um verdadeiro retrocesso aos direitos e que afrontam diretamente a existência dos povos indígenas. Sabemos que é um cenário adverso e incerto aos povos originários que continuam sendo massacrados, ameaçados, invisibilizados e sofrendo violações constantes e cruéis em decorrência de interesses econômicos, pois estão em terras com muitas riquezas e que são medidas pela esfera do lucro para os não-indígenas (pariwat). Nessa lógica do lucro, o dinheiro vale mais do que a vida de um povo, por isso, a importância desse espaço de empoderamento de conhecimentos, luta, articulação e resistência na proteção de direitos que são fundamentais. É preciso ecoar que esses direitos não se perdem pela omissão ou inércia do Estado, eles continuam existindo e foram frutos de muitas lutas dos ancestrais que derramaram seus sangues para escrever uma nova história e mudar o caminho de assimilação forçada e extermínio destinado aos povos indígenas. Além disso, o encontro possibilitou o fortalecimento da cultura, crenças e saberes tradicionais, instrumentos necessários para sua existência enquanto povos originários. Nos momentos do encontro foram manifestados os cantos, danças e narrativas desse povo. Participaram desse evento mais de 500 indígenas (jovens, estudantes, lideranças, professores, caciques).

O encontro contou com a presença do Cacique-geral Arnaldo Kaba Munduruku, dos Membros do Ministério Público Federal na pessoa do Promotor Paulo Moreira e seus assistentes Layane Santos e Joilton Silva, da coordenadora do DSEI-Rio Tapajós Cleidiane Carvalho, e também com a minha participação, advogada Hérica Lima.

Aceitei a proposta de participar desse diálogo sobre os direitos indígenas com o povo Munduruku, primeiro, por ser uma honra conversar, aprender e estar na presença de um povo conhecido mundialmente por ser guerreiro e não ter se dobrado aos colonizadores antigos e atuais. E segundo, por ter tido como inspiração para minha monografia as violações de direitos humanos e fundamentais perpetradas contra esse povo e sua luta em defesa do território, do rio e da vida. É muito difícil ser indígena em nosso país, um país que condecora e presta homenagens a matadores de índios, e que tem raízes genocidas que insistem em destruir o sonho do bem-viver dos povos indígenas. Os direitos de proteção aos povos indígenas não são um presente ou um privilégio, é uma obrigação, é condição fundamental para se ter uma vida com dignidade, para que possam continuar existindo.

O rio Cururu é um rio que apresenta um cenário encantador: uma natureza que nos toca pela beleza, várias espécies de animais, um povo simples com uma forma de vida que nos faz pensar sobre o que é essencial e necessário para existir. Passar por esse ambiente nos muda completamente. Ensina-nos que ainda temos muito que aprender com os povos indígenas! Precisamos respeitá-los e protegê-los! Sem dúvida será uma experiência que será guardada com muito carinho.

Que a força dos antepassados ecoe sempre no povo Munduruku para que sigam atentos, vigilantes e atuantes. Sawe!

Hérica Lima

É advogada, formada pela UFOPA, participa da paróquia Cristo Libertador, em Santarém, sendo a mais jovem Ministra Extraordinária da Eucaristia, e como uma das coordenadoras do grupo de coroinhas. Fez seu trabalho final do curso de Direito, como o tema: “Resistiremos até o ultimo Munduruku. As violações dos direitos humanos e fundamentais do povo indígena Munduruku e a sua luta pela terra, pelo rio e pela vida”, obtendo a nota máxima e recomendação de publicação.

Disponível em Custódia São Benedito da Amazônia

DEIXE UM COMENTÁRIO

Deixe seu comentário
Coloque seu nome aqui