A igreja São Sebastião, em Santarém (PA), ficou tomada por um sentimento de gratidão e compromisso com a celebração eucarística por ocasião dos 80 anos da chegada dos quatro primeiros frades norte-americanos na Amazônia brasileira. Vale recordar que já desde 1907, havia a presença franciscana dos frades menores alemães, que depois foi reforçada com irmãos vindos da província Sagrado Coração (EUA). Então, sendo a eucaristia memória da vida e entrega do Senhor, unidos à Páscoa de Cristo. Frades e o povo de Deus recordaram com amor as vidas doadas e as belas recordações desse anúncio do Reino feito por esse grupo de seguidores de Francisco.
Deixa tua terra e vai
No início da celebração um grupo de carimbó, dança típica da região, adentrou a igreja, bailando ao som de um canto que evocava a saída missionária. A itinerância franciscana que coloca em movimento e em contato com as culturas locais foi bem simbolizado com esse momento, e depois da motivação inicial a procissão adentrou o espaço litúrgico. Presidiu a celebração, Frei Edilson Rocha, ministro custodial. Frades de muitas partes do território da Custódia e frades vindos dos Estados Unidos participaram da celebração. Muitas pessoas das comunidades da rede franciscana de paróquias também se uniram para celebrar essa página da vida franciscana na Querida Amazônia.
Depois do ato penitencial, três lideranças leigas foram convidadas para recordar a vida e missão dos frades norte-americanos nessa terra. Especialmente destacando a sua atuação e zelo pastoral, com destaque para a figura de Dom Tiago Ryan, bispo da então prelazia de Santarém e um dos primeiros missionários estunidenses na região.
Antes da liturgia da Palavra o livro das leituras foi acolhido, sendo conduzido por um frade norte-americano. Na homilia Frei Edilson aproveitou para conectar a liturgia do dia, com a comemoração franciscana e com os jubileus franciscanos dos 800 anos da Regra Bula e do Presépio. Em sua reflexão Frei Edilson afirmou: “O fato de ser membro da Custódia São Benedito da Amazônia e de ser fruto daquela nova presença iniciada há 80 anos e que perseverou na região até os dias de hoje, até que a Prelazia de Santarém se tornasse Diocese, Arquidiocese, sendo, finalmente, uma Igreja local completamente edificada, com um clero majoritariamente autóctone, o fato de ser parte dessa história pode parecer que eu faço aqui um discurso auto elogioso. Pode parecer a gente querer falar bem de si mesmo, esquecendo que enquanto seres humanos, somos também frágeis, pecadores, com defeitos que afetam diretamente a nossa missão”.
Uma bonita memória fraterna no chão da Amazônia
O Custódio aproveitou para expressar a enorme alegria que sente ao escutar as pessoas falando dos feitos dos frades na região. Frei Edilson destacou ainda a grande fraternidade que foi formada na região, unindo frades alemães, que já estavam desde 1907, e norte-americanos. Destacou ainda algumas características deles: “Agiam como irmãos que viviam a serviço da missão que lhes foi confiada junto ao Povo de Deus; em segundo lugar e estreitamente ligado com o aspecto anterior: Eles se faziam e agiam como irmãos com todas as pessoas, o que os levava a viver muito próximo do povo, sobretudo dos pobres. O fato de serem muito acessíveis, simples, facilitavam a comunicação com as pessoas, mesmo quando alguns deles falassem com um pesado sotaque, ou mesmo falassem bem pouco a língua portuguesa. Mas a verdade é que muitos aprenderam bem a língua, falavam perfeitamente, inclusive o linguajar mais popular. Como disse acima, sou suspeito de falar de modo elogioso de uma realidade humana da qual faço parte por mais do que a metade destes 80 anos! Mas posso dar testemunho pessoal da minha experiência de ter convivido com grandes irmãos, que ajudaram a moldar a minha personalidade e colaboraram na minha formação humana, cristã, franciscana e intelectual, bem como de muitas outras pessoas”.
Abordando a liturgia da Palavra, o presidente da celebração pontuou que contemplemos como Abraão, o pai na fé, acredita na promessa de Deus, mesmo diante das aparentes impossibilidades ou “aporias”, e até sorri diante do desafio que lhe é proposto, dadas as condições dele e de sua esposa Sarai. Ele permanece firme na fé e Deus sela com ele uma Aliança. Assim também os nossos irmãos que passaram por aqui, amadureceram e, em muitos casos, morreram na missão, acreditaram e deram sua parcela de colaboração na construção da Igreja, mesmo quando ainda não poderiam nem de longe vislumbrar os horizontes do futuro das Igrejas locais que tinha o encargo de edificar na Amazônia brasileira. Acreditaram no Projeto e na proposta de Deus. Colocaram a mão no arado e não olharam para trás.
Os confrades que vieram para a Amazônia – sejam os primeiros que aqui chegaram no início do século XX, sejam os confrades dos Estados Unidos, a partir de 1943 – tiveram que construir não somente a Igreja Local, através do labor missionário na evangelização. Eles também precisaram suprir necessidades vitais do povo da região, sobretudo nas áreas mais remotas, onde o Estado ou o poder público não chegavam: tinham que se preocupar também com a saúde e a educação, entre outras urgências daqueles primeiros tempos da presença franciscana. Preocuparam-se também com a melhora das condições de vida do povo. Eles não fizeram isso sozinhos: as Irmãs missionárias também vieram para a Amazônia. Frei Edilson concluiu a homilia, com sentimento de gratidão e de compromisso com esse legado histórico.
Gratidão e desafio
Na preparação das oferendas, leigos e leigas da Rede Franciscana trouxeram aos pés do altar vasilhas com águas dos rios da região, lamparinas, símbolos da caminhada pastoral nestas oito décadas. Depois a celebração seguiu com costume. No final da celebração, um vídeo curto elaborado por Frei Paixão que falava sobre a trajetória dos missionários foi apresentado, e Ângela Tereza (Teca) declamou um poema composto especialmente para a comemoração dos 80os. Frei Edilson concluiu dizendo, que esse aniversário vai ainda se estender pelo segundo semestre.
Equipe de Comunicação Custodial
Fonte: franciscanosamazonia.org.br