Papa Francisco envia mensagens em vídeo aos participantes do 15º Interclesial das CEBs: “Sigam trabalhando. Vão adiante!”

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Na noite da terça-feira, 18 de julho, aconteceu a celebração de abertura do 15º Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), em Rondonópolis/MT, no Centro de Eventos Santa Terezinha. O tom foi de valorização da atuação religiosa de leigas e leigos, da diversidade cultural e de crítica ao modelo socioeconômico voltado ao extrativismo dos recursos naturais.

A celebração abriu oficialmente o Intereclesial que se estende até o dia 22 (sábado), reunindo cerca de 1,5 mil representantes das CEBs de todo o Brasil, além religiosas e religiosos, lideranças de organismos ligados à Igreja Católica, a outras denominações cristãs e expressões espirituais, movimentos sociais e populares. Participam do intereclesial 63 bispos.

O Papa Francisco enviou uma mensagem aos participantes do encontro dizendo querer-se fazer próximo do 15º Intereclesial de CEBs. O Santo Padre pediu aos participantes para seguirem trabalhando e para não se esquecerem de buscar sintonia com o tema: “Igreja em Saída”. O Papa comparou a Igreja como a água. “Se a água não corre no rio, fica estagnada e adoece. A Igreja quando sai, caminha, se sente mais forte”, disse.

Confira o vídeo que o Papa enviou aos participantes:

Cultura popular e biomas brasileiros

Os milhares de participantes da cerimônia sentaram-se em cadeiras dispostas ao redor de um grande palco, que funcionou como altar. A celebração foi conduzida pela Equipe de Liturgia do Intereclesial, um grupo de leigas e leigos trajados com túnicas que destacavam a simbologia afro-brasileira e indígena. A mesa do altar estava coberta por uma toalha feita de retalhos de tecido, destacando o caráter popular da Igreja.

A cerimônia de abertura teve várias procissões, músicas e menções verbais que valorizaram as comunidades indígenas, quilombolas, pessoas que vivem da agricultura familiar ou estão em acampamentos provisórios, pescadores, trabalhadoras e trabalhadores urbanos, mulheres artesãs, migrantes e imigrantes, entre outros grupos sociais que compõem o povo brasileiro. Delegações de representantes das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste foram lembradas e homenageadas pela associação com seus biomas (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Pampa e Mata Atlântica) e pela disposição histórica à luta e resistência populares.

Em seguida a história dos Intereclesiais foi lembrada por uma mescla entre informações ditas ao microfone e entradas com os estandartes referentes a cada uma das edições do encontro, desde o primeiro, em Vitória (ES), em 1975, até a atual, em Rondonópolis (MT).

A proclamação da abertura oficial do 15º Intereclesial ocorreu a partir de uma fala do bispo da diocese de Rondonópolis-Guiratinga, dom Maurício Jardim. Ele agradeceu a presença dos participantes e recordou do bispo anterior, dom Juventino Kestering, falecido em 2022, que foi quem assumiu o compromisso de acolher o Intereclesial na diocese. Um grande banner contendo a imagem de dom Juventino e uma de suas frases emblemáticas – “Saúde aos doentes, alegria aos tristes e esperança aos desanimados” – foi exposto perante o público, que fez uma sessão de aplausos em sua memória.

SEGUNDO DIA

O ataque às minorias e a uma espiritualidade comprometida com a transformação social, assim como a criação de espaços de resistência e a articulação popular correspondem aos maiores impactos da realidade do país e da Igreja sobre a caminhada pastoral das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Prevalece uma clericalização sobretudo dos padres novos, sem generalizar, que vão disseminando essas ideias no meio dos leigos. “O clericalismo é uma perversão na Igreja” (Papa Francisco).

Esse é um dos pontos do levantamento feito pelos regionais e apresentado pelos cerca de 150 representantes de comunidades dos regionais Oeste 1 (Mato Grosso do Sul) e Sul 1 (São Paulo), destacado nesta quarta-feira (19), no segundo dia do 15º Intereclesial das CEBs, que se estende até o sábado (22), em Rondonópolis/MT.

O encontro trata do tema “CEBs – Igreja em saída na busca da vida plena para todos e todas” e busca refletir acerca do impacto da realidade do país e eclesial sobre as CEBs; assim como sobre os gritos e desafios em vista de sua superação. O Intereclesial tem a participação de aproximadamente 1,5 mil representantes das CEBs de todo o Brasil, além religiosas e religiosos, bispos, lideranças de organismos ligados à Igreja Católica, e outras denominações cristãs e expressões espirituais, movimentos sociais e populares.

Reunidos no Centro de Eventos Santa Terezinha, no bairro Jardim Belo Horizonte, na plenária chamada “Casa Comum”, os representantes das CEBs de Mato Grosso do Sul e São Paulo discutiram e socializaram suas impressões a partir de uma metodologia participativa, caracterizada pela escuta, pelo trabalho em grupo e o diálogo em plenária. Entre as CEBs e os meios populares essa forma de trabalho diz respeito ao método “ver-julgar-agir”. Ver a realidade social e eclesial, avaliá-la à luz da interpretação popular da Bíblia e dos parâmetros que orientam a atuação pastoral da Igreja e, por fim, desenvolver ações para transformar a situação atual.

Esse mesmo tipo de atividade ocorreu ao longo do dia nas demais plenárias do Intereclesial, distribuídas em comunidades de Rondonópolis, que receberam nomes dos biomas brasileiros (“Amazônia”, “Caatinga”, “Cerrado”, “Mata Atlântica”, “Pampa” e “Pantanal”).

Diversas músicas dos cancioneiros das CEBs, dos movimentos sociais e da MPB entremearam as colocações dos representantes. Entre elas, “Cálice” (Chico Buarque e Gilberto Gil), “Negra Mariama” (Maria Cecília Domezi), “Eu vim para que todos tenham vida” (José Weber), “Utopia” (Zé Vicente), “Eu sou feliz é na comunidade” (Maria Batista dos Santos) e “Pão da igualdade” (Cecilia Vaz Castilho).

“As CEBs são formadas por pessoas que lutam pelos direitos de todos e principalmente de quem mais necessita, já os grandes visam mais o agronegócio e prejudicam os pequenos. Sou agricultora e sei o quanto a gente padece nas mãos dos grandes, mas a gente tem conseguindo muita coisa no assentamento, através de muito sacrifício, luta e das cooperativas”. Palavras da agricultora Irley Menezes, que mora no Assentamento Itamarati 2, no município de Ponta Porã, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, representante do Regional Oeste 1 das CEBs. Ela acrescentou que as CEBs se contrapõem ao esplendor da instituição religiosa representada por uma visão hierárquica e oficial, sendo uma “Igreja em saída”, como defende o papa Francisco. “Somos uma Igreja ‘pé no chão’, que não fica só na oração”, destacou.

Alex Rossi, da Comunidade São Francisco, paróquia de mesmo nome, no município de Penápolis (SP), assinalou que o processo histórico e a situação atual interferem na caminhada pastoral das Comunidades Eclesiais de Base. “O patriarcalismo, o latifúndio, o autoritarismo e o racismo impactam na realidade das CEBs, assim como este momento de ódio e polarização política que vivemos na atualidade”, pontuou. Além disso, a estrutura clericalista, de caráter oficial, hierárquico e conservador promove “leigos clericalizados, contra a lógica da comunidade”. “Por isso, hoje em dia, ser de comunidade é ser contra a lógica clericalista e contra o neoliberalismo, que olha o próprio umbigo e não quer comunidade”, expôs o representante do Regional Sul 1. Alex

Programação

Nesta quinta-feira pela manhã (quinta, 20) os participantes do Intereclesial vão se reunir no Centro de Eventos Santa Terezinha (“Casa Comum”) para partilhar o que foi discutido no “ver” e desenvolver o processo do “julgar” (discernir, iluminar) com base nos assuntos que compõem o encontro: educação; ecologia integral; economia de Francisco e Clara; poder e sinodalidade na Igreja; e dimensão político-social.

A partir das 13h15, terá início a Feira da Economia Solidária na Feira do bairro Vila Aurora, com visitação e compra aberta à população da cidade. Em paralelo, até as 17h os representantes das CEBs vão continuar as reflexões nas plenárias/biomas; em seguida se deslocarão para o local de realização da feira. À noite, no mesmo lugar, haverá shows com artistas atuantes na caminhada pastoral das comunidades.

Fonte: franciscanos.org.br

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