Frei Franklin Freitas (Negão), OFM
Nasceu em Pelotas – RS. Província São Francisco de Assis.
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Neste mês celebramos o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Como a Família Franciscana aborda e garante direitos às juventudes consagradas e leigas. Existem contextos comuns e distintos?
Acredito que o movimento franciscano, desde o seu nascimento com Francisco e Clara, sempre teve no horizonte este cuidado com a vida e ao mesmo tempo a preocupação com a dignidade das pessoas – especialmente, com as mais fragilizadas. Ligeiramente, vem a nossa memória, por exemplo, o cuidado de Francisco para com os irmãos leprosos. A minha percepção é que a CFFB/RS, desde a formação inicial, já tem essa preocupação na formação e sensibilização dos religiosos/as na linha dos direitos humanos. Eu mesmo, como religioso no início da formação, tive a oportunidade de trabalhar na Pastoral da Aids, Pastoral Carcerária, Pastoral Afrobrasileira… Entre outras.
No entanto, eu percebo que poderia haver um engajamento mais significativo em atividades sobre os direitos das juventudes. Vejo uma boa parcela se envolvendo em grupos e ações relacionados à fome, imigração, direitos das mulheres, superação das violências… No campo mais específico das juventudes, juntamente aos movimentos juvenis, temos poucas parcerias. Aqui no RS iniciamos no mês passado nossa participação na caminhada de construção da EDUCAFRO/RS. Outros passos virão.
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Quais pautas ligadas às juventudes dentro das realidades contemporâneas você avalia como carentes e necessitam de maior aprofundamento e discussão, em especial, por parte dos formadores e das formadoras?
O Fenômeno juventude em si é um desafio a ser compreendido por toda a vida religiosa. Não apenas aos formadores. Muitas vezes, são limitados os contatos com os jovens que participam das nossas comunidades. Achei interessante a dinâmica do Papa Francisco no Sínodo da Juventude em querer ouvir a todos. Até mesmo aos jovens não católicos. E devemos seguir esse mesmo caminho… Procurar conhecer e estudar sobre as juventudes em geral para podermos sentar na mesma mesa e dialogar com elas. Temas como “violência juvenil”, “educação”, “sexualidade”, “igualdade de gênero”, “injustiça social”, “cuidado da casa comum”… São temas que percebo hoje, as juventudes de modo geral, investindo forças e mobilização.
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É predominante a assistência espiritual de frades junto a OFS e JUFRA. Como a Família Franciscana poderia colaborar para uma maior participação de irmãs consagradas e leigas na assistência? A que se deve essa realidade de assistência masculina?
Culturalmente, quando se fala em assistência espiritual nos movimentos da Igreja, logo a referência comum leva aos padres. Acho que é um pouco herança deste “clericalismo” que o Papa Francisco tanto acentua em vários âmbitos da nossa Igreja. Eu percebo mudanças significativas. Pelo menos aqui no RS onde já há uma assistência colegiada na JUFRA e quem puxa a frente são as irmãs. Agora a nível local das fraternidades, talvez fosse interessante a própria elaboração do material, ressaltar a importância da presença feminina, que inclusive, na maioria das vezes está lá, participa mais que a masculina… Só não é reconhecida efetivamente a sua função.
Em relação à Família Franciscana, é preciso também crescer na compreensão da missão dos assistentes e das assistentes espirituais na JUFRA e na OFS. Resgatando, a partir de Clara, a importância da mulher no movimento francisclariano e sua profunda contribuição para a nossa espiritualidade e caminhada enquanto Família Franciscana.
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Muitos atentam a existência de um fenômeno de distanciamento dos jovens da Igreja, intensificado com a pandemia. Com base em sua experiência, quais aspectos devem ser refletidos pela Família Franciscana sobre o fenômeno e quais alternativas podem ser assumidas para reaproximá-los?
O principal aspecto que vejo em nossas comunidades, de modo geral, é trabalhar a acolhida das juventudes. Acolher o jovem como ele é. Essa acolhida deve supor também que ele se sinta livre para expressar-se. Dar a sua opinião e ser protagonista. O Papa Francisco nos lembra no Christus Vivit a importância da criatividade no trabalho com os jovens nas áreas da música, dança, teatro, esporte. Em algumas realidades, a porta de entrada das juventudes – dificilmente, serão nossos grupos convencionais, e sim ações específicas que os motivarão posteriormente para uma organização com fins religiosos. Nosso carisma, neste sentido, é bastante amplo para os mais variados projetos.
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Temos dentro da Igreja diversos movimentos de juventudes. Qual é o papel das franciscanas e franciscanos religiosos junto a estes movimentos?
O primeiro papel é de presença fraterna. Aproximar-se como um irmão ou uma irmã menor. Caminhar junto! Posteriormente, havendo necessidade, assessoria. Muitas vezes, só participamos daquilo que oficialmente somos nomeados para assessoria. Temos que aprender a presença gratuita e fraterna. Não só para dentro da Igreja, mas inclusive, nos movimentos de fora que não se aproximam de nós. Tive a oportunidade de participar de congressos e encontros da UNE na época que estudava teologia. Aprendi muito. Algumas pautas não são comuns, mas a maioria é. E podemos a partir do que é comum construir pontes e nos ajudarmos mutuamente na construção do Reino de Deus.
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A JUFRA do Brasil contemplou 50 anos. Qual a importância da caminhada da JUFRA no seio da Família Franciscana?
A JUFRA tem o papel de manter sempre jovem o carisma franciscano dentro da nossa Família. Ela se renova mais facilmente do que as nossas ordens e congregações. Os jufristas acabam trazendo as pautas humanas e sociais do presente nas juventudes para dentro da Família Franciscana. De certa maneira, através da JUFRA dialogamos com o NOVO que por vezes incomoda e nos empurra. Ao longo destes 50 anos da JUFRA acredito que sua a presença nas lutas e conquistas das juventudes na sociedade foi um papel muito bem desenvolvido. Acredito que todos nós religiosos/as temos a obrigação de fomentar uma fraternidade da JUFRA onde estamos inseridos. Isto faria com que o nosso carisma se mantivesse sempre atualizado as novas realidades.
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Como o SAV, escolas e centros de promoção do carisma podem contribuir com as discussões próprias das juventudes?
Construindo parcerias com os movimentos juvenis e a própria JUFRA. Utilizando-se do material disponível no portal da JUFRA, por exemplo. Em relação ao SAV, penso que muitas vezes focamos em trabalhos para a sensibilização de jovens ingressarem na 1ª Ordem e deveríamos investir em animações vocacionais de divulgação da JUFRA e OFS. O mais importante, no entanto, é dar espaço e convidar a própria juventude para estar junto nos trabalhos do SAV, nas escolas e também nos centros de promoção. Não esquecendo que é para “estar junto e ser protagonista”.
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Revisão: Francisco José Araújo, OFS
[…] Participativa e Franciscana’, de frei Faustino dos Santos, OFM e a entrevista ‘Juventudes e Direitos no Horizonte da Família Franciscana‘, com frei negão, Franklin Freitas, […]