Natal de São João Batista
Vejam como João Batista foi importante para os cristãos! O próprio Jesus proclamou que, “entre os nascidos de mulher, não há um maior do que João; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele” (Lucas 7,28). Tão importante, a ponto de ser o único santo (com exceção de Maria) que tem seu nascimento celebrado pela Igreja.
Assim como celebramos o nascimento Jesus no dia 25 de dezembro, nesta quarta-feira, dia 24 de junho, celebramos o natal de João Batista.
A Palavra de Deus, neste dia de Festa (cf. Isaías 49,1-6; Salmo 138 (139); Atos 13,22-26; Lucas 1,57-66.80), nos leva a contemplar e celebrar acima de tudo o mistério d’Aquele que se fez o menor no reino de Deus, e por isso é o maior: Jesus. Essa Palavra nos traz uma mensagem de alegria e esperança para todos nós. Pois ela nos aponta e nos mergulha, através de João Batista, para dentro da verdadeira Luz de todos os povos, para o Salvador, Jesus, do qual nem merecemos desamarrar as sandálias.
Nasceu o menino, filho de Isabel e Zacarias. A vizinhança toda, solidária, festejou! Pois Isabel, como não podia ter filhos, foi agraciada pela misericórdia do Senhor com uma gravidez bem-sucedida. E Zacarias continuava mudo (cf. Lucas 1,62-64), sem poder falar, pois não havia acreditado na mensagem do anjo, de que sua mulher, estéril, ia ter um filho (cf. v. 20).
Oito dias depois, no dia da circuncisão do menino, queriam dar-lhe o nome de Zacarias. Zacarias Júnior, diríamos hoje! Mas a mãe propôs outro nome, João, o que causou estranheza a algumas pessoas. João?!… Um nome que nem consta nos anais da família!… E o pai, ainda sem poder falar, escreveu numa tabuinha: “João é o seu nome”. Resultado: na hora, a voz de Zacarias se soltou, e ele começou a louvar Deus.
A notícia se espalhou pela vizinhança e por toda a região. Espantados e até com medo, todos pensavam consigo: “O que não vai ser deste menino?!”. Diz o evangelho que, “de fato, a mão do Senhor estava com ele”, que “crescia e se fortalecia em espírito”. Quando cresceu, passou a viver nos lugares desertos, “até ao dia em que se apresentou publicamente a Israel”.
Cumpria-se, assim, o que já proclamava o profeta Isaías: “O Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome” (Isaías 49,1). João, filho de Isabel e Zacarias, era destinado a ser também ele um profeta, mas um profeta com uma missão bem específica e muito importante: a de fazer a ponte entre o Antigo e o Novo Testamento inaugurado por Jesus.
O próprio apóstolo Paulo, mais tarde, vai pregar que, antes de Jesus vir a público, “João pregou um batismo de conversão para todo o povo de Israel”. E o fazia, avisando a todos: “Não sou eu, não, o messias que vocês esperando. Depois de mim, sim, virá aquele, do qual nem mereço desamarrar as sandálias” (cf. Atos 13,24-25).
Deus tem seus caminhos, Deus tem seus planos para a salvação da humanidade em Jesus Cristo. Depois que Jesus morreu, e ressuscitou, a comunidade cristã primitiva logo o percebeu: A mão misteriosa de Deus já estava ali, na pessoa de João Batista, desde a sua concepção e seu nascimento até como pregador de um batismo de conversão para acolher a grande novidade do Reino que em Jesus estava para irromper. Foi Deus que enviou João para “dar testemunho da luz e preparar para o Senhor um novo povo disposto a recebê-lo” (cf. João 1,6-7; Lucas 1,17).
Por isso, celebrando o natal de São João Batista, contemplamos ao mesmo tempo a figura do Salvador do mundo presente entre os seres humanos. Contemplamos a figura Filho de Deus que, descendo do céu, mergulhou (foi batizado) no oceano de nossa existência humana para fazer de cada um de nós, n’Ele, também filhos de filhas do Altíssimo Senhor do céu e da terra. Contemplamos e celebramos o divino Cordeiro que, por sua morte e ressurreição, tirou o pecado do mundo e nos garantiu a salvação e a paz.
Como João Batista, também nós, agora na qualidade de cristãos renascidos nas águas do Batismo, somos destinados a uma missão, a saber, a missão de anunciar o Salvador, que fez de nossos corpos a sua morada. E como o faremos? Por nossas palavras e ações, por nossa postura ética cristã em um mundo que, muitas vezes, aberta ou disfarçadamente, opõe resistência à Palavra libertadora de Deus.
E concluímos esta meditação com esta oração oficial da Igreja Católica: “Ó Deus, que suscitastes São João Batista, a fim de preparar para o Senhor um povo perfeito, concedei à vossa Igreja as alegrias espirituais e dirigi nossos passos no caminho da salvação e da paz. Amém”.
Frei José Ariovaldo da Silva é doutor em Liturgia pelo Pontificio Ateneo S. Anselmo (1981), em Roma; lecionou Liturgia no Instituto Teológico Franciscano (ITF), em Petrópolis (RJ). É membro fundador da Associação dos Liturgistas do Brasil (Asli), da qual foi primeiro presidente.