FESTA DE SANTA CLARA
MENSAGEM
Se aproxima a Festa de Santa Clara, 11 de agosto. Na beleza deste nome temos um modo de ser e viver de uma mulher santa que “Em casa foi luminosa como um raio, no claustro teve o clarão de um relâmpago. Brilhou na vida, irradia depois da morte! Foi clara na terra e reluz no céu! Como é grande a veemência de sua luz e como é veemente a iluminação de sua claridade”[1] .
Obnubilada pelo despojamento e pela pobreza, Clara de Assis, vivendo em um contexto familiar, social e eclesial desafiador foi capaz de fazer uma experiência pautada na dinâmica da sinodalidade. Reconhecendo em sua vocação a iniciativa de Deus, iniciou um itinerário de vida em penitência: “Depois que o Altíssimo Pai Celestial, por sua misericórdia e graça, se dignou iluminar meu coração, comecei a viver em penitência” (TestC 24). Conforme encontramos nas Fontes Clarianas, também deixou-se tocar pelo testemunho de Francisco, com quem teve vários encontros e a quem gostava de escutar (ProcC 17, 3; 20, 6; LSC 5). Em relação aos pobres, tinha gosto de ir ao encontro deles (ProcC 1, 4) e “Estendia a mão com prazer para os pobres, da abundância de sua casa supria a indigência de muitos” (LSC 3). Em relação à Igreja, vai ao encontro do bispo no domingo de Ramos antes de ir ao encontro de Francisco (LSC 7; ProcC 2,2) e, relevante é sua firmeza e insistência junto ao Papa para que as damianitas pudessem fazer uma experiência diferente do estilo de vida traçado para a Vida Religiosa Consagrada, principalmente no tocante à vida de pobreza e fraternidade.
Mulher do encontro, em sua Regra deixa expresso com clareza seu desejo e orientação para que haja a participação de todas as Irmãs ou da totalidade delas nas decisões da fraternidade e assuntos referentes à vida das damianitas, tendo em vista um bom discernimento e uma opção acertada: “Se alguém, por inspiração divina, vier ter conosco querendo abraçar esta vida, a abadessa deverá pedir o consentimento de todas as Irmãs” (RSC 2, 1; 4, 7). Nos capítulos, tanto os eletivos (RSC 4, 1-3) quanto os semanais deveria ter a presença e participação de todas as irmãs (RSC 4, 15). Sua Regra é cheia de expressões como: “de acordo com todas as Irmãs”, na “totalidade das irmãs”, “consenso comum das Irmãs”, “comum acordo de todas as Irmãs” e, para a eleição do conselho das Irmãs que colaboravam com a abadessa, deveria eleger “ao menos oito Irmãs” (RSC 4,15-24). Para Clara, a presença e opinião das Irmãs, sem exceção, era de grande valia, deixou escrito em sua Regra: “Com efeito, muitas vezes é ao mais pequeno que o Senhor revela aquilo que mais convém” (RSC 4,18).
Podemos dizer que, iluminada pela graça do Altíssimo, seu esforço e empenho na dinâmica do encontro, da escuta e do discernimento foi contínuo e o caminho que percorreu foi o de “um itinerário em que a ESCUTA é escuta do VERBO, do ESPÍRITO, da IGREJA, das PESSOAS. Tal encontro e tal escuta gerou no DISCERNIMENTO um PROJETO DE VIDA que mudou sua própria vida e contribuiu na renovação da IGREJA e do MUNDO”[2].
Atenta e sábia, sempre demonstrando sua decisão pessoal marcada pela coragem, firmeza e persistência, foi fiel a seu projeto de vida. Soube planejar e agir, cultivar a mística da fraternidade (irmãs e irmãos) e exercer o poder como serviço. Como abadessa, sem a centralização do protagonismo e das decisões, procurou articular a vida em São Damião na modalidade circular.
Clara de Assis é uma mulher que tem muita “claridade” para o nosso tempo. Sua experiência convida-nos a refletir sobre modalidades concretas da “aplicação” da sinodalidade em nossas vidas, seja na Igreja, seja na realidade conventual (nossas fraternidades) ou na sociedade. Sua história revela ser a história de cada uma, cada um de nós, franciscanas e franciscanos, na medida em que testemunhamos fidelidade ao ideal que abraçamos. Ao lado do seráfico pai, como nossa mãe, ela interceda por nós para que sejamos fiéis à graça e dom que recebemos do Altíssimo: a nossa vocação.
Desejando-lhes Boas Festas, convido a fazermos nossa essa oração:
Clara, Santa cheia de claridade, Irmã de São Francisco de Assis, intercede pelos teus devotos que querem ser puros e transparentes.
Teu nome e teu ser exalam o perfume das coisas inteiras e o frescor do que é novo e renovado. Clareia os caminhos tortuosos daqueles que se embrenham na noite do próprio egoísmo e nas trevas do isolamento.
Clara, irmã de São Francisco, coloca em nossos corações a paixão pela simplicidade, a sede pela pobreza, a ânsia pela contemplação.
Te suplico Irmã Lua, que junto do Sol de Assis no mesmo céu refulge, alcança-nos a graça que, confiantes vos pedimos (…).
Santa Clara, ilumina os passos daqueles que buscam a claridade. Amém!
Brasília, 05 de agosto de 2023
Irmã Cleusa Aparecida Neves, CFA
Presidente da CFFB
[1] Cfr. Bula de Canonização.
[2] Cfr. SCHWERZ, Frei Nestor, OFM, Sinodalidade na ótica franciscana, reflexão realizada no Encontro Nacional da Conferência da Família Franciscana do Brasil, CFFB, Brasília, 12.03.2022.
Irmã Cleusa! Gratidão por essa carta animadora, esperançosa que faz abrir a mente e o coração para sermos francisclareanos de verdade e de vida!