Mensagem da presidente da CFFB para a Festa de Santa Clara 2023

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FESTA DE SANTA CLARA
MENSAGEM

Se aproxima a Festa de Santa Clara, 11 de agosto. Na beleza deste nome temos um modo de ser e viver de uma mulher santa que “Em casa foi luminosa como um raio, no claustro teve o clarão de um relâmpago. Brilhou na vida, irradia depois da morte! Foi clara na terra e reluz no céu! Como é grande a veemência de sua luz e como é veemente a iluminação de sua claridade”[1] .

Obnubilada pelo despojamento e pela pobreza, Clara de Assis, vivendo em um contexto familiar, social e eclesial desafiador foi capaz de fazer uma experiência pautada na dinâmica da sinodalidade. Reconhecendo em sua vocação a iniciativa de Deus, iniciou um itinerário de vida em penitência: “Depois que o Altíssimo Pai Celestial, por sua misericórdia e graça, se dignou iluminar meu coração, comecei a viver em penitência” (TestC 24). Conforme encontramos nas Fontes Clarianas, também deixou-se tocar pelo testemunho de Francisco, com quem teve vários encontros e a quem gostava de escutar (ProcC 17, 3; 20, 6; LSC 5). Em relação aos pobres, tinha gosto de ir ao encontro deles (ProcC 1, 4) e “Estendia a mão com prazer para os pobres, da abundância de sua casa supria a indigência de muitos” (LSC 3). Em relação à Igreja, vai ao encontro do bispo no domingo de Ramos antes de ir ao encontro de Francisco (LSC 7; ProcC 2,2) e, relevante é sua firmeza e insistência junto ao Papa para que as damianitas pudessem fazer uma experiência diferente do estilo de vida traçado para a Vida Religiosa Consagrada, principalmente no tocante à vida de pobreza e fraternidade.

Mulher do encontro, em sua Regra deixa expresso com clareza seu desejo e orientação para que haja a participação de todas as Irmãs ou da totalidade delas nas decisões da fraternidade e assuntos referentes à vida das damianitas, tendo em vista um bom discernimento e uma opção acertada: “Se alguém, por inspiração divina, vier ter conosco querendo abraçar esta vida, a abadessa deverá pedir o consentimento de todas as Irmãs” (RSC 2, 1; 4, 7). Nos capítulos, tanto os eletivos (RSC 4, 1-3) quanto os semanais deveria ter a presença e participação de todas as irmãs (RSC 4, 15). Sua Regra é cheia de expressões como: “de acordo com todas as Irmãs”, na “totalidade das irmãs”, “consenso comum das Irmãs”, “comum acordo de todas as Irmãs” e, para a eleição do conselho das Irmãs que colaboravam com a abadessa, deveria eleger “ao menos oito Irmãs” (RSC 4,15-24). Para Clara, a presença e opinião das Irmãs, sem exceção, era de grande valia, deixou escrito em sua Regra:  “Com efeito, muitas vezes é ao mais pequeno que o Senhor revela aquilo que mais convém” (RSC 4,18).

Podemos dizer que, iluminada pela graça do Altíssimo, seu esforço e empenho na dinâmica do encontro, da escuta e do discernimento foi contínuo e o caminho que percorreu foi o de “um itinerário em que a ESCUTA é escuta do VERBO, do ESPÍRITO, da IGREJA, das PESSOAS. Tal encontro e tal escuta gerou no DISCERNIMENTO um PROJETO DE VIDA que mudou sua própria vida e contribuiu na renovação da IGREJA e do MUNDO”[2].

Atenta e sábia, sempre demonstrando sua decisão pessoal marcada pela coragem, firmeza e persistência, foi fiel a seu projeto de vida. Soube planejar e agir, cultivar a mística da fraternidade (irmãs e irmãos) e exercer o poder como serviço. Como abadessa, sem a centralização do protagonismo e das decisões, procurou articular a vida em São Damião na modalidade circular.

Clara de Assis é uma mulher que tem muita “claridade” para o nosso tempo. Sua experiência convida-nos a refletir sobre modalidades concretas da “aplicação” da sinodalidade em nossas vidas, seja na Igreja, seja na realidade conventual (nossas fraternidades) ou na sociedade. Sua história revela ser a história de cada uma, cada um de nós, franciscanas e franciscanos, na medida em que testemunhamos fidelidade ao ideal que abraçamos. Ao lado do seráfico pai, como nossa mãe, ela interceda por nós para que sejamos fiéis à graça e dom que recebemos do Altíssimo: a nossa vocação.

Desejando-lhes Boas Festas, convido a fazermos nossa essa oração:

Clara, Santa cheia de claridade, Irmã de São Francisco de Assis, intercede pelos teus devotos que querem ser puros e transparentes.

Teu nome e teu ser exalam o perfume das coisas inteiras e o frescor do que é novo e renovado. Clareia os caminhos tortuosos daqueles que se embrenham na noite do próprio egoísmo e nas trevas do isolamento.

Clara, irmã de São Francisco, coloca em nossos corações a paixão pela simplicidade, a sede pela pobreza, a ânsia pela contemplação.

Te suplico Irmã Lua, que junto do Sol de Assis no mesmo céu refulge, alcança-nos a graça que, confiantes vos pedimos (…).

Santa Clara, ilumina os passos daqueles que buscam a claridade. Amém!

Brasília, 05 de agosto de 2023


Irmã Cleusa Aparecida Neves, CFA
Presidente da CFFB

[1] Cfr. Bula de Canonização.

[2] Cfr. SCHWERZ, Frei Nestor, OFM, Sinodalidade na  ótica franciscana, reflexão realizada no Encontro Nacional da Conferência da Família Franciscana do Brasil, CFFB, Brasília, 12.03.2022.

1 COMENTÁRIO

  1. Irmã Cleusa! Gratidão por essa carta animadora, esperançosa que faz abrir a mente e o coração para sermos francisclareanos de verdade e de vida!

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