NOTA | Queimadas, conclamação a assumir atitudes perante a Casa Comum

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Até quando a terra pranteará em seu luto e a relva de todo campo estará seca? Perecem os animais e as aves por causa da maldade dos que habitam nesta terra, pois eles costumam dizer: “Deus não dá atenção ao que estamos fazendo na Terra!” (Jer 12, 4)

 

Num contexto de pandemia mundial, vivida sob o Covid-19, voltando nosso olhar para a realidade contemporânea em nível micro e macro, constatamos que vivemos uma forte crise político-social e econômico-financeira, e nossa Mãe Terra, que há séculos vem sofrendo agressões diversas, chora com os incêndios nos biomas Amazônia, Pantanal e Cerrado. Somemos a esta dor, as mentiras flagrantes que são disseminadas, desconstruindo a verdade e culpabilizando inocentes. Cobre-nos um manto de dor, sofrimento, tristeza e angústia. Urge reacendermos a chama da esperança e unir forças, pois “Estamos num momento crítico da história da Terra, no qual a humanidade deve escolher o seu futuro… A nossa escolha é essa: ou formamos uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou então arriscamos a nossa própria destruição e a da diversidade da vida” (Preâmbulo da Carta da Terra, no ano 2020).

A Conferência da Família Franciscana do Brasil, em comunhão com a Igreja, une-se a todas as organizações e movimentos sociais que têm se manifestado em favor da vida e cuidado com nossa Casa Comum, de modo especial em relação à destruição causada pelas queimadas nos biomas Amazônia, Pantanal e Cerrado. Não é possível permanecer em silêncio diante de tamanha violência e exterminação. As consequências são nefastas e a falta de proteção ao meio ambiente, na verdade, vem beneficiando os grandes conglomerados econômicos que atuam na mineração e no agronegócio. Profundamente devastadores, suas ações vão além dos limites da suportabilidade.

Irmãs e Irmãos de todos os Regionais e Núcleos do Brasil, urge vozear em favor do cuidado com nossa Casa Comum, tão agredida e violada, para que seja mais respeitada e protegida contra violências e exterminações. Podemos e devemos colaborar para a transformação desta realidade trágica por meio do fortalecimento de “uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros”. Sabemos que a solução pode vir de uma coalizão de forças ao redor dos valores e princípios éticos e humanitários e através de nossas atitudes de apoio ou nos unindo a iniciativas populares de preservação ambiental que cuidam e defendem nossa Casa Comum. Estejamos, porém, atentos em relação às populações indígenas e ribeirinhas que em tempos de pós-verdade, injustamente, estão sendo culpabilizadas. Cientes de que a solução para tantos e tais problemas não cairá do céu, perguntemo-nos ainda: Nas diferentes realidades onde vivemos e atuamos, o que e como podemos fazer para despertar crianças, jovens e adultos para a premente necessidade de cuidado com nossa Casa Comum?

Em unidade e sintonia, trazemos presente o apelo do Papa Francisco por ocasião da celebração dos cinco anos da Encíclica Laudato Si’, em que renova o chamado urgente por respostas à crise ecológica: “O grito da terra e o grito dos pobres não aguentam mais. Cuidemos da criação, dom de nosso bom Deus criador” (Convocação para a Semana Laudato Si’, 16/05/2020) e a convocação da Conferência dos Bispos do Brasil à sociedade brasileira para “…se unir mais ainda em torno do Pacto pela Vida e pelo Brasil, reforçando a voz dos que desejam um país mais justo e solidário, empenhados na proteção da Casa Comum, partindo dos mais vulneráveis” (Mensagem CNBB sobre as queimadas, 23/09/2020).

Na certeza de que São Francisco e Santa Clara intercedem por nós e por todo o povo de Deus, finalizamos invocando a proteção de nossa padroeira: “Oh Mãe preta, óh Mariama, invocamos suas bênçãos sobre toda a nossa família e sobre um Brasil sedento de “Paz – fruto da justiça, do bem e da Misericórdia de Deus” (Carta de Aparecida, 06/08/2017).

Fraterno abraço.

Brasília, 25 de setembro de 2020

 

Irmã Cleusa Aparecida Neves, CFA
Presidente da CFFB


 

 

1 COMENTÁRIO

  1. Urge a necessidade de uma conscientização com relação a valorização da natureza dos valores humanos que vem se perdendo ano após ano. Porém quando se fala ações globalizadas é necessário um olhar muito mais cauteloso, pois geralmente essas políticas globais vem com pacotes de ideologias e interesses políticos de uma minoria que precisa de apoio das instituições religiosas para implementar suas políticas opressoras e exploradoras, que sem perceber vamos nos envolvendo e nos tornando conivente tomar consciência que estamos sendo usados. Precisamos estar atentos a estas armadilhas.

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