“O FRANCISCANISMO COMO UMA DAS EXPRESSÕES DO LAICATO” – ANO DO LAICATO – PARTE III

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Igreja: o Povo de Deus

O Catecismo da Igreja Católica, promulgado no ano de 1992 sob o pontificado de João Paulo II, após cinco anos de estudos e compilações e tendo como um dos seus mais importantes objetivos auxiliar à obra de renovação da vida eclesial inteira aspirada pelos padres sinodais do Concílio Vaticano II, apresenta significativas definições acerca dos conceitos de Povo de Deus e Igreja Corpo Místico de Cristo. Afirma que o Povo de Deus é caracterizado de forma diferente quanto a outros agrupamentos religiosos, étnicos, políticos ou culturais. Foi o “povo” que o próprio Pai escolheu para si, dentre aqueles que em outro momento não eram ainda “povo”. Ou seja, esta porção foi eleita por Deus e tem Ele mesmo por centro e sentido de sua instituição; logo, seu sentido de ser povo constitui-se na unidade que adquire em torno do Senhor de tudo, sendo as condições estritamente necessárias para tal ingresso a este povo a livre adesão de fé a Cristo e o Batismo. É um povo que tem Cristo por cabeça, possui garantida a liberdade de filhos, proclama a superioridade do amor sobre tudo, tendo por missão ser “sal e luz” no mundo. Por causa disso torna-se capaz de gerar unidade, esperança e salvação para todas as nações. Mas, acima de tudo, acredita-se como um povo que tem uma meta: o Reino de Deus; cujos valores precisam começar já aqui na Terra, por meio da ação transformadora deste mesmo povo (cf. Catecismo da Igreja Católica, 782).

Mas as concepções expressas no Catecismo são oriundas dos documentos do Concílio Vaticano II o qual, por sua vez, expressa de forma clara na Constituição Dogmática Lumem Gentium quais as características e como se dá a relação desde povo com Deus, entre si e para com as nações, sempre em unidade com e por meio da Igreja. O documento, assim nos ensina: “Aprouve, contudo, a Deus santificar e salvar os homens não singularmente, sem nenhuma conexão uns com os outros, mas constituí-los num povo, que O conhecesse na verdade e santamente O servisse”, e continua: “Este povo messiânico, embora não abranja atualmente todos os homens, e por vezes apareça como pequeno rebanho, é contudo para todo o gênero humano germe firmíssimo de unidade, esperança e salvação” (9). Numa perfeita relação e atualização das promessas feitas por Deus junto à eleição da antiga Israel – referente ao povo da Primeira Aliança – a Igreja da Nova Aliança firma sua convicção na eleição dos fiéis por meio de Cristo, “recapitulador” de toda a criação e ápice da revelação divina, reconhecendo que este povo, salvo por Ele, tem por seu estado a dignidade e a liberdade; por sua lei o amor; sua meta o Reino de Deus; por sua vida o próprio Cristo; e, jamais pode se esquecer de seu dever fundamental: a obra missionária, momento querigmático por excelência.

Sobre seu envio ao mundo, deve se ter em mente que, “permanecendo uno e único, [este mesmo povo] deve estender-se a todo o mundo e por todos os tempos” (Lumen Gentium, 13), de modo que todos os povos da Terra recebam seus cuidados e sejam transformados com sua presença, por meio de sua índole celeste. Sendo um povo universal, acredita-se tornar sempre mais um instrumento de evangelização para todos os homens, mais precisamente por meio de seu testemunho cristão diante das nações, donde se originam os conceitos de “índole secular” ou “vocação secular” batismal. Permeado pelo do senso da fé e dos seus carismas, este povo congrega na certeza da vinda do Reino de Deus; mas, sabiamente inicia sua implantação já aqui na Terra, de modo a realizar plenamente aquilo que o próprio Senhor o desejou à raça Humana. O consenso universal quanto às questões de fé, apresentado desde os bispos até os fiéis leigos, “os torna aptos e prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios, que contribuem para renovação e maior incremento da Igreja” (Lumen Gentium, 12), pois demonstra a constante efusão do Espírito Santo, enviado por Cristo a fim de governar e santificar toda a Igreja. Deste modo, “reconfortados pelo Corpo de Cristo na sagrada comunhão, mostram de modo concreto a unidade do Povo de Deus, apropriadamente significada e maravilhosamente realizada por este augustíssimo Sacramento” (Lumen Gentium, 11).

Tal universidade de povos, que formam um só povo de Deus, constitui-se de indivíduos com dons, carismas, sentimentos, alegrias e realizações, todos louvando ao mesmo Deus pelos bens recebidos da parte dele, sem diferenciação de ricos e pobres, negros e brancos, homem e mulher. Em virtude desta catolicidade – que se compõe tanto de universalidade em vista dos povos onde alcança, quanto em relação ao depósito universal dos meios e conhecimentos da Revelação divina – seus membros tornam-se capazes de promover a Salvação e a santificação de todos. Embora estejam sujeitos ao pecado, este não tem poder maior que a redenção por Cristo, crescendo incessantemente nele e sendo conduzido a Deus constantemente (Decreto Unitatis Redintegratio, 764). Deste modo, a santificação é a meta a ser alcançada por este povo, sempre iluminado pela fé em Cristo e pelos ensinamentos da Santa Igreja.

Em Louvor de Cristo. Amém.

Referências

Catecismo da Igreja Católica.

CONCÍLIO VATICANO II, 1962-1965, Vaticano. Constituição Dogmática Lumen Gentium. In: VIER, Frederico (Coord.). Compêndio do Vaticano II: constituições, decretos, declarações. 29. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

CONCÍLIO VATICANO II, 1962-1965, Vaticano. Decreto Unitatis Redintegratio. In: VIER, Frederico (Coord.). Compêndio do Vaticano II: constituições, decretos, declarações. 29. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

Disponível em Custódia Sagrado Coração de Jesus

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