Os discípulos se alegraram ao ver o Senhor

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“Ao longo do tempo de nossa vida e da história da comunidade dos discípulos de Jesus, há um período particularmente belo que se chama tempo pascal. No tempo que passa, ele antecipa a vida da glória. Durante algumas semanas refletimos sobre textos que falam da presença do Ressuscitado e ao mesmo tempo vamos nos acostumando com sua presença-ausência. O que é claro: temos a certeza de que ele nos acompanha, embora por vezes nuvens espessas nos assaltem.” 

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM.

 

(João 20, 19-31)

Jesus mostrou-lhes as mãos e o lado. Detenhamo-nos do esplendor da manhã de Páscoa.

 

Estamos vivendo o tempo da alegria.  Jesus ressuscitou e está no meio de nós. Nesse tempo pascal não cessamos de repetir aleluias e cantar jubilações. Como pano de nossa vida, de nossa fé, está ele, o Ressuscitado. A vida tem sentido. A morte não tem a última palavra. Colossenses recorda: “Vossa vida está escondida com  Cristo em  Deus” (Cl 3,3).

As portas estavam fechadas. Depois da morte do Mestre o pequeno grupo estava amedrontado.  Os apóstolos não queriam se expor à caçoada de alguns chefes religiosos que haveriam de dizer que se enganaram redondamente com esse Jesus que se deixou crucificar. Eles se trancaram. As portas estavam vedadas com barras de ferro. Talvez bem mais fechados estavam os corações do que as portas da sala.

“Não tenhas medo. Eu sou o primeiro e o último, aquele que vive.  Estive morto, mas agora estou vivo para sempre. Eu tenho a chave da morte da  região dos mortos” (Ap 2, 17-18).

Jesus chega. Coloca-se no meio deles, como nos tempos passados. Passa, no entanto, através das portas fechadas. Aquele que chega, deseja a paz. Quer que o coração dos seus se aquiete, busque asilo na certeza de sua presença.

Aquelas mãos, as mãos de Jesus.  Ali estão as chagas. Mas chagas brilhantes, brilhosas, luminosas. Não se pode deixar de compreender que na vida de Jesus, como na vida de seus discípulos, chagas luminosas virão depois de chagas sanguinolentas…  elas  não podem ser separadas.

Aquelas mãos, as mãos de Jesus! O Ressuscitado mostra as mãos segundo o evangelista, pois, elas conservaram as chagas, as  marcas dos pregos.  Aquelas mãos que haviam tocado a madeira da carpintaria de José, que fizeram lama com saliva no chão, que tocaram os olhos dos cegos, que haviam abençoado as crianças! Aquelas mãos tinham preciosos rubis. O escarlate do sangue brilhava e os apóstolos experimentam uma grande alegria.  Jesus infunde a paz no coração dos temerosos e medrosos discípulos.

“Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. Ele viera da parte do Pai. Agora, Jesus ressuscitado enviava os seus apóstolos. Tinham que abrir as portas e ir pelo mundo afora anunciar a vitória do amor sobre o ódio, que a morte não tinha mais a derradeira palavra.

Eles seriam embaixadores do perdão.  Nas primeiras páginas das Escrituras, Deus soprara  sobre o primeiro homem feito de barro e de terra e ele se tornou alma vivente.Os apóstolos, constituídos mensageiros do perdão, são habitados pelo sopro do Espírito. A missão da Igreja é anunciar o mundo novo da paz, da vida, do perdão dos dilaceramentos, das indiferenças, das crueldades desde que os coração se tornem contritos e arrependidos. O perdão é o grande presente pascal.

Tomé, porém, chegara mais tarde. Queria provas da ressurreição.  Queria tocar as chagas. Queria ver.  Felizes os que não viram, mas creram. Felizes nós que tivemos a graça de organizar nossa vida à luz do Ressuscitado, que sentamos à mesa com ele  para nos alimentar de seu corpo,  que fazemos dele o sentido de vida, ele que penetra o amor de um homem e de uma mulher, que deita óleo em nossas feridas e instila esperança em nossas vidas.

 


TESTO SELETO

Abrir as portas

O Evangelho de João descreve com traços obscuros a situação da comunidade cristã  quando em seu centro falta Cristo ressuscitado. Sem sua presença viva, a Igreja se converte  num grupo de homens e mulheres que vivem  “numa casa com as portas fechadas  por medo dos judeus”.

Com as portas fechadas não se pode ver e ouvir o que acontece lá fora. Não é possível captar a ação do Espírito Santo no mundo. Não se abrem espaços de encontro e de diálogo  com ninguém. Apaga-se a confiança no ser  humano e crescem os receios e preconceitos. Uma Igreja sem capacidade de dialogar é uma tragédia, pois os seguidores de Jesus são chamados a atualizar o eterno diálogo de Deus com o ser humano.

O medo pode paralisar a evangelização e bloquear nossas melhores energias. O medo nos leva a rejeitar e condenar. Com medo não é possível amar o mundo.  Se não o amamos não o olhamos como Deus olha.  E, se não olhamos com os olhos de Deus, como comunicaremos a Boa Notícia?

Se vivemos com as portas fechadas, quem deixará o redil para buscar as ovelhas perdidas? Quem se atreverá a tocar algum  leproso excluído? Quem se sentará à mesa com pecadores ou prostitutas? Quem se aproximará dos esquecidos pela religião?  Os querem buscar o Deus de Jesus nos encontrarão com as portas fechadas.

Nossa primeira tarefa é deixar entrar o Ressuscitado através de tantas barreiras que levantamos para defender-nos do medo. Que Jesus ocupe o centro de nossas igrejas, grupos e comunidades. Que só Ele seja fonte de vida, de alegria e de paz.  Que ninguém ocupe seu lugar, que ninguém se aproprie de sua mensagem. Que ninguém imponha  um modo diferente do seu.

Já não temos mais o poder de outros tempos. Sentimos a hostilidade e a rejeição em nosso entorno. Somos frágeis. Mais do que nunca precisamos abrir-nos a sopro do Ressuscitado para acolher seu  Espírito Santo (Pagola, João,  p.256-257).

Fonte: http://franciscanos.org.br/?p=154677

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