Deus não nos salva da cruz, mas na cruz
Dietrich Bonhoeffer
Jesus, nossa vida e nosso Senhor. Às primeiras sextas-feiras colocamo-nos diante de seu coração, da chaga de seu peito. Nesse coração se unem dor e amor, a mais intensa dor e um inaudito amor. A Cruz sempre nos leva ao espanto e ao assombro. Como foi possível?!!
♦ Cruz, desafios existenciais, particulares, comuns, mundiais. Cada um de nós se defronta com sofrimentos agudos e dores lancinantes. Há pessoas cujos cabelos embranquecem da noite para o dia com a chegada da dor. Outros perdem o norte da vida e situam-se às portas da demência. Nessas ocasiões fazemos nossos os dilacerantes lamentos de Jó que se sentia abandonado pelo Senhor ao qual ele tinha sido tão fiel: uma dor no corpo, a perda da esperança, um filho assassinado, uma calúnia que nos enche de revolta, uma pandemia cruel, assassina que fecha horizontes. Diante de nossos olhos o Crucificado e seu Coração fissurado. Para que tanta dor? Mistério, sempre mistério.
♦ O Cardeal Veuillot, arcebispo de Paris, vítima de violento câncer teria dito: “Sabemos pronunciar belas palavras sobre o sofrimento Eu próprio as pronunciei com ardor. Diga, por favor aos padres para que não as profiram, nós ignoramos o que são as dores”.
♦ Nesses momentos fazemos nossos os dolentes gritos do homem dos salmos. Onde está Deus? Será que ele não vê que os inimigos estão triunfando? Não estaria ele dormindo, como na tempestade do lago quando os apóstolos se apavoravam? Por que essas portas fechadas? Deus guarda um silêncio incômodo. Onde estás? Talvez ele possa nos dizer que está ali, no madeiro, com o peito aberto. Deus frágil que sofre os nossos sofrimentos. “Meu Deus, meu Deus… por que me abandonaste”. “Deus não nos salva da cruz, mas na cruz”.
♦ Dietrich Bonhoeffer conheceu a guerra e seus horrores, foi feito prisioneiro e viveu duramente em campo de concentração. São inúmeros seus escritos. Viveu, como tantos outros, sofrimentos inomináveis. Muitos, precisamente nesta hora, reclamam o silêncio de Deus. Deus não atua em nosso lugar, mas dá-nos força no meio das tempestades. Não nos salva dos sofrimentos, mas nos sofrimentos. Lutamos, choramos, levantamos a cabeça, por momentos quase entregamos os pontos. Podemos confiar. Sofremos e olhamos para a chaga do peito do Amado.
Frei Almir Ribeiro Guimarães
Fonte: Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil