Sinodalidade, um processo em construção

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“Sejamos peregrinos enamorados do Evangelho, abertos às surpresas do Espírito Santo. Não percamos as ocasiões de graça do encontro, da escuta recíproca, do discernimento” (Papa Francisco).

O chamado que o Papa Francisco faz para toda Igreja, nos dias 09 e 10 de outubro, na abertura do Sínodo sobre sinodalidade, que tem como tema central “por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, é colocar-se a caminho, numa escuta atenta à voz do Espírito. Escutar a Deus, o que Ele nos indica é a atitude que precisamos assumir para viver a fidelidade criativa ao Evangelho. O processo desencadeado com o sínodo é um caminho permeado de esperanças e com muitos desafios, para superar a auto referencialidade e ser Igreja a caminho, samaritana, serva, Madalena, em saída. Para isso, é preciso aceitar e conviver de forma respeitosa, acolhendo a diversidade, que tanto enriquece a vida da igreja.

O processo sinodal com o tema sinodalidade é um convite único para viver a dimensão da comunhão, participação e missão. Este tripé reflete a natureza mesmo da Igreja, que se alicerça no caminhar juntos, numa atitude de discernimento e conversão permanente, “Igreja povo de Deus”.

Há dois anos, tivemos a alegria de celebrar o Sínodo da Amazônia, com o tema ‘Novos caminhos para a Igreja na Amazônia e para uma ecologia integral’, num longo processo que escutou mais de 87 mil pessoas no território amazônico, a partir de seus sonhos, esperanças e desafios. A comunhão e a participação foram as bases para refletir a missão da Igreja na Amazônia e como encarnar a mensagem do Evangelho nesta realidade, sendo os povos originários e amazônicos, protagonistas neste processo. Os povos originários e amazônicos, como nos coloca o Documento Final do Sínodo da Amazônia, “são povos de antigos perfumes, que continuam a perfumar o continente contra todo o desespero”.

Nesse longo caminho de escuta do povo de Deus presente no território amazônico, a Igreja precisou se aproximar e tocar esta realidade com pés descalços, reconhecendo ‘as sementes do Verbo” nas esperanças e nos desafios que os povos originários e amazônicos vivem cotidianamente. Este foi um momento em que a Igreja se sentiu provocada a ser Igreja em saída, samaritana e Madalena, que se coloca a serviço dos últimos e dos que desejam trilhar o caminho do Evangelho.

Passados mais de cinquenta anos do Concílio Vaticano II, a Igreja reflete a sua natureza de ser Igreja “povo de Deus, que caminha junto”, sob a guia do Espírito Santo, “que faz novas todas as coisas”. Para isso, a atitude orante e de discernimento comum são fundamentais! Deixar-se interpelar pela novidade do Evangelho, pelos pobres e pelos últimos, para caminhar juntos, como comunidade de fé, que acredita no Ressuscitado, apesar das situações de morte. A esperança, a fé e a caridade, são os elos que ajudam a trilhar os caminhos do Mestre Jesus, numa atitude de aprendiz, através da dinâmica do “aprender, desaprender e reaprender”, num processo permanente de conversão pessoal e comunitária.

A sinodalidade tem como ponto de partida a escuta. Caminhar juntos, ser Igreja em missão permanente, exige uma atitude de discernimento constante, ouvidos atentos, onde todos devemos percorrer este caminho juntos, como estilo de vida eclesial, como processo em constante construção de participação e circularidade, na escuta atenta do Espírito de Deus, que se manifesta em todos os tempos e em todas as culturas.

Trago presente o caminho que estamos percorrendo no território amazônico com a Conferência Eclesial da Amazônia. No momento, se apresenta como um caminho em construção e grande novidade para a vida da Igreja. Já não é uma conferência episcopal, mas uma Conferência Eclesial, onde, além de bispos e cardeais, estão presentes também religiosas/os, leigos/as e especialmente representantes dos povos indígenas. Esta é a continuidade do kairós que vivemos durante a preparação e durante o Sínodo Amazônico.

A Conferência Eclesial da Amazônia é uma conferência que reúne, une e articula as Igrejas da Amazônia, para que cada uma não tenha que tomar decisões isoladas, mas, como o próprio Papa Francisco insistiu desde o início do seu papado, possam realmente caminhar junto e formar essa face da Igreja na Amazônia.

Um Sínodo sobre Sinodalidade – “Por uma Igreja Sinodal – comunhão, participação e missão”, provoca a Igreja a ouvir os diversos apelos e a buscar conjuntamente respostas para as necessidades externas, como: criar ministérios especiais para o cuidado da “casa comum” e a promoção da ecologia integral; favorecer e reconhecer o papel central do bioma Amazônia para o equilíbrio do clima do planeta; capacitar agentes pastorais e ministros ordenados com sensibilidade socioambiental. Para isso, a Igreja tem a missão de descentralizar as formas de exercício de poder em seus diversos níveis (diocesano, regional, nacional, universal); respeitando e estando atenta aos processos locais, sem enfraquecer o vínculo com as outras Igrejas irmãs e com a Igreja universal.

Por fim, somos provocados a superar atitudes e práticas centralizadoras, patriarcais, clericais, sexistas. Mas quanto avançaremos? Se algumas questões são intocáveis ou remetem à necessidade do território, a questão é: (quanto) quando teremos forças para superar paradigmas passados? Se alguns assuntos são tão desafiantes para a Igreja, como ministérios ordenados para homens casados, diaconato de mulheres, inclusão da diversidade e outros. Sabemos que o caminho é longo… mas, passo a passo, o caminho se faz!

Por: Irmã Laura Vicuña Pereira Manso

Fonte: CICAF

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