A Pobreza na Compreensão de Santa Clara como um verdadeiro Projeto Evangélico de Vida

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A Pobreza de Jesus Cristo para Clara e suas irmãs não era apenas uma virtude, mas sim um programa de vida. A paixão pelo Cristo Pobre está centrada no movimento do Deus Altíssimo que se faz pobre e pequeno no presépio e na entrega de cruz. É também a kenosis, ou seja, o esvaziamento, e a não-apropriação,como caminho de uma vida mais plena, que Clara decide assumir como programa ou proposta de vida.

O seguimento da pobreza de Jesus Cristo e de sua Mãe Santíssima, que Clara e suas irmãs prometeram a Francisco e seus irmãos, foi uma das questões mais dramáticas nas origens do movimento franciscano e clariano. Após a morte de Francisco, Clara foi quem defendeu de todas as formas esse caminho de santidade que mesmo os seguidores de Francisco tiveram tanta dificuldade para entender. Viver a pobreza é viver na dinâmica da gratuidade de Deus. A Pobreza clariana é vida concreta, não somente pobreza em espírito. O sustento da vida das irmãs provém dos donativos espontâneos ou mendigados.

A pobreza evangélica é a espinha dorsal na forma clariana de seguimento a Jesus Cristo. Clara não separa o seguimento de Cristo da vida de pobreza. Por isso, a não-apropriação faz de Clara e suas irmãs pessoas livres. Assim, vemos Clara tão convicta de sua opção que escreve a sua própria Regra ou Forma de Vida, e nela não abre mão do Privilégio da Pobreza. Conseguir esse privilégio era garantir não possuir nada, não ter posses, não ter bens. Viver na gratuidade e da providência de Deus. Na sua Regra, e nas cartas a Irmã Inês de Praga é um tema recorrente, porque ela segue o Cristo pobre, então não há como viver diferente. Por isso, Clara escreve a Inês, nesses termos: “Preste atenção no principio do espelho: a pobreza daquele que, envolto em panos, foi posto no presépio… No meio do espelho, considere a humildade, ou pelo menos a bem-aventurada pobreza… E, no fim desse mesmo espelho, contemple a caridade inefável com que quis padecer no lenho da cruz…”(4In 15-23). O espelho é o Cristo pobre, como deixa claro nesta carta a Inês.

Diferentemente do que fazemos, olhamos no espelho e nos refletimos nele, Clara aqui propõe olhar o espelho e refletir o espelho na sua vida. É a centralidade da opção e vida de Clara que fica expressa no seguimento e na vivência fraterna. Não possui bens, não se apega a cargos, não é possessiva com as pessoas e suas irmãs.

O seguimento ao Cristo pobre gera corresponsabilidade no mosteiro e passa, também pelo trabalho e no atendimento a todos que se achegam ao convento de São Damião. Somente as irmãs enfermas são dispensadas do trabalho, as demais devem trabalhar com “fidelidade e devoção” e por vezes, vemos Clara, lavando as feridas de suas diletas irmãs doentes. Acreditava que sua vocação ao seguimento a Jesus fosse um benefício recebido da generosidade do Pai das misericórdias (TestC 2). A partir desta convicção, ela pauta a sua vida. Por isso, podemos afirmar, que a vivência do privilégio da pobreza é um verdadeiro programa de vida evangélico e que a não-apropriação, torna Clara e suas irmãs livres para amar e abraçar a cada dia, o Cristo pobre.

Por Daniel Silbernagel, OFS

Fonte: Custódia Provincial Imaculada Conceição do Brasil – Ordem dos Frades Menores Conventuais

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