Queridos irmãos: O Senhor lhes dê a paz!
Que mensagem nos dirige, Irmãos Menores, a figura de Santa Isabel? Que pode dizer aos franciscanos de hoje, uma mulher envolta na penumbra de um passado remoto e em um mundo cheio de legendas? Que pode nos dizer esta mulher passados tantos anos e tantas coisas?
Sua mensagem, e que a converte em uma figura realmente atual, ganha força em suas duas grandes paixões: a paixão por Cristo e a paixão pelos pobres. Uma dupla paixão que a coloca em perfeita sintonia espiritual e carismática com Francisco, a quem sem dúvida se inspirou, e com Clara, ambos corações conquistados por Cristo e conquistados pelos pobres, nos quais descobriram a Cristo. Toda sua vida, inclusive sua vida de extrema penitência, só pode ser entendida à luz destas duas paixões.
No caso de Isabel, sua paixão por Cristo levou-a assumir o Evangelho como sua forma de vida, e a vivê-lo no mais genuíno estilo de Francisco: simplesmente, sem rodeios, em todos seus aspectos espiritual e material. Propósito este que se manifesta em suas atitudes existenciais mais profundas, tais como: o reconhecimento do senhorio absoluto de Deus; a exigência de despojar-se de tudo e fazer-se pequena como uma criança para entrar no reino do Pai; o cumprimento, até suas últimas consequências, do mandamento novo do amor.
Ela não deixou nada escrito, mas numerosas passagens de sua vida só podem ser entendidas a partir de uma compreensão literal do Evangelho. Tornou realidade o programa de vida proposto por Jesus no Evangelho:
>> Quem procura ganhar a sua vida, vai perdê-la; e quem a perde, vai conservá-la; Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim e da Boa Notícia, vai salvá-la (Lc 17, 33; Mc 8, 35).
>> Então Jesus chamou a multidão e os discípulos. E disse: «Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim e da Boa Notícia, vai salvá-la (Mc 8, 34-35).
>> Jesus respondeu: «Se você quer ser perfeito, vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha, e siga-me (Mt 19,21).
>> Quem ama seu pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. (Mt 10,37).
Sua paixão por Cristo se manifestava e se alimentava graças à uma comunhão profunda com Ele através de uma vida de oração intensa, contínua, às vezes, até o arrebatamento. A consciência constante da presença do Senhor era a fonte de sua fortaleza, de sua alegria, e de seu compromisso com os pobres. Mas também o encontro com o Cristo nos pobres estimulava sua fé e sua prece, pois seu encontro com eles a fazia “identificar-se” com eles. Nada estranho, pois na sua peregrinação para Deus, estava marcada por passos decididos de desprendimento até chegar ao despojamento total como Cristo na cruz. Ao final não lhe restou nada mais que uma túnica cinza e pobre de penitência, que quis conservar como símbolo e mortalha.
Sua paixão por Cristo, que sendo rico se fez pobre, levou Isabel a segui-lo radicalmente e a descobri-lo e servi-lo em seus “representantes, os pobres e crucificados da terra”, como disse o documento final de nosso Capítulo Extraordinário (Shc 9). Isabel servia pessoalmente aos abatidos, aos pobres e enfermos. Cuidou dos leprosos, a escória da sociedade, como Francisco. Dia a dia, hora a hora, pobre a pobre, viveu e consumiu a misericórdia de Deus no rio de dor e de miséria que a envolvia. Nos desventurados, Isabel via a pessoa de Cristo (Mt 25,40). Isto lhe deu forças para vencer sua repugnância natural, tanto que chegou até a beijar as feridas purulentas dos leprosos.
Forjada na forma evangélica de Francisco de Assis, como Poverello, e Clara, sua “Plantinha”, Isabel abandonou os romances e ambições do mundo, a pompa de sua corte, as comodidades, as riquezas, os trajes de luxo… Deixou seu castelo e armou sua tenda entre os desprezados e feridos para servi-los.
A santidade consiste em amar como Jesus amou. Amar a Deus e amar o próximo, dois mandamentos que não se podem separar. Paixão por Cristo, paixão pelos pobres, duas paixões que necessariamente vão sempre juntas. Tudo isso não será uma loucura? Sim, esta a loucura de amor que não conhece limites, é a loucura da santidade. E a de Isabel é uma autêntica loucura. Em sua vida brilha com singular esplendor a supremacia da caridade. Sua pessoa é um canto de amor, modelado no serviço e abnegação, para semear o bem. É esse amor que fez brotar nela uma ardente força interior, própria de uma “mulher varonil”, como é Isabel, e levava-a irradiar alegria e serenidade, mesmo na tribulação, solidão e dor. E fiel ao que escreveu: “Temos de fazer os homens felizes”, conforme dizia às suas irmãs, Isabel alegrava o coração de quem a ela se acercava. O fundo de sua alma estava habitado pelo reino da paz.
Isabel passou por esta vida como um meteoro luminoso de esperança. Lançou luzes na escuridão de muitas almas. Levou a alegria aos corações dos aflitos. Nada poderá contar as lágrimas que secou, as feridas que cicatrizou, o amor que despertou.
Neste momento em que nossa Ordem está empenhada na renovação profunda para seguir “mais de perto” e “mais radicalmente” a Cristo, e quando o Capítulo Geral Extraordinário nos convidou repetidas vezes a “ser menores com os menores da terra”, Isabel se nos apresenta não só como uma mulher profundamente evangélica, senão também como um modelo a seguir em sua paixão por Cristo e pelos pobres.
Invoquemos a personalidade tão singular de Isabel, para que, através do conhecimento e da admiração por esta figura, todos quantos que seguimos a Cristo, seguindo os passos de Francisco, de Clara e de Isabel, nos convertamos em instrumentos de paz e alegria, e aprendamos a derramar um pouco de bálsamo nas feridas de nosso entorno, a humanizar o que nos rodeia, a secar algumas lágrimas. Coloquemos nosso coração onde não há misericórdia do Pai. O compromisso que viveu Isabel estimule nosso compromisso. Seu exemplo e intercessão iluminam nosso caminho até o Pai, fonte de todo o amor: o Bem, todo o bem, sumo bem; o silêncio e o júbilo.
Mensagem do Ministro Geral da Orden dos Frades Menores, Fr. José Rodríguez Carballo, OFM, no dia 17 de novembro de 2006, quando foi aberto do ano jubilar do 8º Centenário de Nascimento de Santa Isabel, que se encerrou no dia 17 de novembro de 2007.
Fonte: Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil